Colunistas / Crônicas de Copacabana
Nara Franco

Crônicas Copacabana: La Cicciolina fecha. Fim de uma era.

A placa de "Passo o Ponto" na La Cicciolina - American Bar me deu certo baixo astral
28/08/2017 às 18:29
A crise econômica anda tão braba que a La Cicciolina, boate de strip super tradicional de Copacabana, está falindo. Já, já vai fechar as portas e encerrar um capítulo importante da noite carioca. A Cicciolina é ou era o inferninho mais conhecido da cidade. Nunca fui. Tenho essa mácula no meu currículo. Na minha imaginação a boate era aquela coisa americana, que a gente vê em filmes. Os homens bebendo, as mulheres dançando com dinheiro na lingerie. Coisa de gangster, tipo o Bada Bing da série "'Os Sopranos". Não era pra mim. 

A placa de "Passo o Ponto" na La Cicciolina - American Bar me deu certo baixo astral. A Cicciolina verdadeira, que deu nome ao lugar, aberto na década de 80, virou política. Lembram dela? Está com 65 anos e continua aprontando. Já a La Ciccionlina daqui amarga prejuízo e opera hoje com 2 funcionários (chegou a ter 13). Vai fechar depois de 36 anos. Não sei se o mundo está ficando chato, cada vez mais chato ou se é a crise ou se é a falta de visão dos empresários, particularmente dos donos da boate ou a violência. Se bem que acho essa última desculpa. O Rio sempre foi violento e a boate funcionou muito bem. 

Verdade é que o mundo anda chato demais. Careta demais. Certinho demais. Ao mesmo tempo, moderno demais. Ontem, em um almoço de família, passei pelo menos duas horas tentando entender a nova terminologia da comunidade gay: LGBTQIA+. Socorro. Parei no G. O mundo é assim: nada pode, tudo pode. Coisa de doido. A é de assexuado. Aquilo que o Michael Jackson era e todo mundo classificava de esquisito. I é de Intersex. Sei lá o que é isso. Q é de Queer. Outro conceito complexo. Tantas designações para gênero podem ter afetado o mercado da prostituição. Muitas escolhas atrapalham o cliente. 

Fato é que gastar dinheiro para ver mulher pelada quando na Internet você tem peitos e bundas de graça, fica complicado. La Cicciolina era de lugar de gringo, de gente com dinheiro, de artista que vem fazer turnê pelo Brasil. Não é para a ralé. Como diria uma amiga minha, ficou datada. 

Tudo isso pode ser reflexo do fim da Help. A Help era uma casa noturna, que frequentei (na matinê) na minha pré-adolescência quando o lugar era de fato uma casa noturna. Só que a Help se transformou num mega bordel em plena Copacabana. Coisas que só o Brasil produz. Prostituição não pode. Mas vamos fingir que nada acontece ali. Veio o Cabral, o que está preso, não o navegador, e demoliu o lugar dando espaço ao novo Museu da Imagem e do Som, que hoje é um elefante branco parado. Como todos sabem, Cabral fazia muita prostituição com o dinheiro público. 

A Help era "povão" e a Cicciolina "vip". Com o fim da Help, restaram alguns inferninhos no bairro, mas sempre com o reinado absoluto da boate de letreiro neon, que já apareceu em diversos filmes nacionais. Com a chegada da Internet, os donos da boate, que têm hoje, respectivamente, 83 e 75 anos, não anteciparam o futuro. Não viram as novas tendências chegando. Ninguém deixou de fazer sexo. só que a oferta mudou. Tudo é possível pela web. Além de mais barato, é mais seguro. Li no jornal que a frequência também teria caído porque muitos "habitués" do local são conhecidos do público e já não podiam se esconder dos smartphones de curiosos. Bem vindos ao mundo moderno. 

A sociedade em rede, como define o sociólogo espanhol Manuel Castells, não poupou nem a Cicciolina. Fica aqui a minha singela homenagem.