Colunistas / Crônicas de Copacabana
Nara Franco

Na praia, a farofa tá na moda

Lembro que há uns dois verões criaram um movimento chamado Rio $urreal, diante dos preços abusivos cobrados em todos os lugares. Deu resultado.
15/07/2017 às 08:55
Não sei se o Veranico é um fenômeno exclusivamente carioca. Aqui é bem comum. O que seria? Uma micareta de verão, um verão fora de hora, que acontece nas melhores estações do ano para quem mora no Rio de Janeiro: outono e primavera. Como aqui não faz frio, dá para ir à praia o ano todo. Eu, por exemplo, adoro andar na beira do mar de Copacabana nesses dias de sol suportável. Porque estamos falando de uma cidade que registra no verão temperaturas acima de 40 graus. Qualquer solzinho de 30 graus passa quase desapercebido. 

Dia desses, numa das minhas caminhadas matinais, acompanhei a abordagem de um barraqueiro a um grupo de mineiras. Ele ofereceu três cadeiras pelo preço de duas, barraca, refrigerante, água de coco, cerveja, petiscos e ... almoço! Fiquei surpresa. No meu tempo de menina, como diz meu pai, praia não era lugar de almoço. Pelo menos no Rio de Janeiro.

Pois ele detalhou as opções do dia que eram arroz e feijão com frango ou carne e farofa. E avisou que não podia servir no prato de vidro porque na praia vidro não é permitido pela Prefeitura. Como se almoço fosse. Achei curiosa a minha desatualização no quesito praia. As barracas aqui no Rio se resumem a um toldo, dois isopores grandes, cadeiras empilhadas e barracas. De onde ele ia tirar comida eu não sei. Não fiquei para ver. Fui andar.

Fiquei pensando se essa variedade de serviços não seria reflexo da crise. Afinal, praia no Rio é para se exibir e nunca para comer. Mas diante do cenário econômico, o aumento de opções pode ser uma boa alternativa. Você oferece um PF digno, por um preço bom e acaba ganhando o cliente que acabaria gastando mais em um restaurante. Mas, até pouco tempo atrás, esse negócio de comer na praia era coisa de farofeiro. Ser farofeiro em Copacabana é quase uma sentença de morte. Pelo visto a praia mudou e eu não mudei. 

Lembro que há uns dois verões criaram um movimento chamado Rio $urreal, diante dos preços abusivos cobrados em todos os lugares. Deu matéria no jornal, nas redes sociais. Nessa época, alugar uma cadeira na praia estava proibitivo. Então, em um gesto de rebeldia, passamos a levar orgulhosos para a praia nossos isopores, coolers, mesas e cadeiras. Ser farofeiro ficou na moda! Os barraqueiros tiveram que sossegar e cobrar preços mais normais. Ficamos mais conscientes talvez. 

Fui até o Posto Seis reparando na quantidade de itens que são vendidos nas areias. Notei que a moda agora é a caipirinha. O que eu vi de barraqueiro de bandeja na mão oferecendo caipirinha... Nem um, nem dois. Muitos! E era terça-feira, 11h. Mas para um bairro lotado de aposentados e turistas faz todo sentido oferecer bebidas para quem está fazendo absolutamente nada. 

No momento nostalgia do dia, voltei em direção a minha casa lembrando que quando criança na praia só tinha o vendedor de Biscoito Globo, o moço do picolé e o cara do mate com limão (que reza a lenda é mexido com cabo de vassoura e feito com água da bica). Ninguém usava barraca, não tinha aluguel de cadeira e até bronzeador as pessoas passavam para realçar a cor. 

O tempo muda e os hábitos também. Hoje, as barracas têm wifi, almoço, petiscos, música e cartela para a marcação do consumo. Tem chuveiro para quem não gosta do mar e caminho de areia molhada para não queimar o pé em dias mais quentes. Mas o Biscoito Globo e mate resistem. Graças a Deus.