Colunistas / Crônicas
Jolivaldo Freitas

NÃO DE FAZEM MAIS NOVELAS COMO ANTIGAMENTE

Sou noveleiro assumido
10/10/2012 às 08:02

Foto: Rede Globo
Max e Nina: o pau vai cantar em final imprevisível sobre morte do galã
   Tem quem ache que estou perto dos 100 anos de idade somente porque minha memória é excelente. Lembro-me de coisas que ocorreram comigo a partir dos meus dois anos de idade, o que deixa meu povo lá de casa e meus amigos de infância arretados comigo e desejando que eu venha a ficar esquecido na velhice, aí sim. 

   Nasci no meio dos anos 50 e de lá para cá basta um fiapo de memória para virem à tona todos os fatos ocorridos.   

   Daí que lembro que a primeira novela que assisti, no rádio modelo Empire State de válvula, foi "Jerônimo, Herói do Sertão". Uma espécie de caubói brasileiro, nordestino, que atuava acompanhado do seu amigo de aventuras Moleque Saci, com seu cavalo Corisco, que enfrentava os bandidos pelo país afora.   

   Meu pai, por coincidência, se chamava Jerônimo. Nome que pertencia originalmente a um glorioso chefe Cochise. Todo dia tinha um capítulo e eu ficava no colo do meu pai ouvindo quase que anestesiado e depois ia dormir pensando também em ser herói. 

   Depois, como se fossem novelas, passei a assistir na TV Itapoan "Papai Sabe Tudo", uma série moralista e família, como era a vida norte-americana no início dos anos 60, e até hoje me lembro dos patrocinadores (Frigidaire, com sua linha de galadeiras Bel Air).   

   Era a hora de dormir. Mas, fiquei paralisado foi com o seriado "O Morro dos Ventos Uivantes", embora me escondesse no regaço da minha mãe quando na tela aparecia o vento quase que chamando "Ratcliff...". Neste dia passava a noite em claro com medo de assombração. 

   Também tinha o Histórias Maravilhosas Bendix e eu morria de medo quando tinha capítulos com bruxas. Com o tempo, até namorei algumas bruxas de verdade, mas aí é outro assunto, para outro texto.   

    Mas enlouqueci de vez, fiquei vidrado foi quando passou a novela "O Direito de Nascer". Todo mundo chorava com o drama da Mamãe Dolores".   

    Depois daí foram tantas e inesquecíveis novelas que hoje sou viciado. Quando não dá para assistir "ao vivo" trato de gravar por todos os meios: pelo HD ou um velho gravador de DVD e quando chega lá pelas nove horas da noite quedo-me a apreciar e até invado as madrugadas.   

    As últimas novelas ou séries que me chamaram a atenção foram "Dia de Maria", em que o tom seco, sépia e o cenário exuberante feito em estúdio era de deixar pasmo. Um texto rápido e digno de Guimarães Rosa. 

    E novela boa mesmo, de verdade, foi "Cordel Encantado", com seus heróis cangaceiros, prefeito frouxio em quem a mulher mandava, corrupto.   Delegado maluco e o resto todos doidos. 

   Agora, esta Avenida Brasil é boa mesmo, do jeitinho que Janete Clair gostaria. Muita ação, viradas espetaculares e Nina mais cruel que Carminha. Com mais sangue frio. Vingança desmedida. Gosto mais, no entanto, dos núcleos de Cadinho, um charmoso canalha e suas três mulheres. E quem não gosta da suburbana família de Tufão? 

   A novela está um pouco arrastada, mas com certeza vai ganhar uma nova virada.   O que me preocupa é que ultimamente o final das novelas está cada vez mais aquém do próprio nível delas. Tudo vem bem e na hora H o autor bate o pênalti na mão do goleiro. 

   Acho que não perdi um capítulo da periguete Suelen (que sempre espero dê o gritinho de Raquele - Ísis Valverde - da novela Beleza Pura.) Estás achando que não tenho mais nada a fazer, mas quem nunca assistiu a uma novela jogue a primeira pedra. Melhor que ficar vendo marmanjos jogando futebol na Segunda Divisão.