Matéria que ainda vai dar muito "pano-para-manga"
Haroldo Lima, P. ANPo, teve que se explicar no Senado. Que lucrou com a informação? (F/F)
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O diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, Guilherme Estrella, consertou as declarações do ex-deputado Haroldo Lima, presidente da ANP, e afirmou nesta terça-feira que as primeiras estimativas sobre o bloco BM-S-9, conhecido como Carioca, só serão conhecidas em pelo menos três meses, depois que forem concluídos testes e avaliações.
"Em três meses talvez a gente possa ter as primeiras condições concretas de começar a pensar em estimativas. Estamos no processo de avaliação da descoberta, nos preparando para testar o poço e somente após o teste é que nós podemos iniciar a pensar nos volumes que estão lá relacionados", afirmou Estrella em audiência no Senado.
Ontem, no Rio, o diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima, disse que o bloco pode ser o terceiro maior campo de petróleo do mundo. Segundo ele, o poço, que teria reservas em torno de 33 bilhões de boe (barris de óleo equivalente), seria cinco vezes maior que o megacampo de Tupi, na Bacia de Santos.
Segundo destacou Lima hoje e a própria ANP ontem, as informações não são inéditas e constam em reportagem da revista americana "World Oil" de fevereiro --cópias foram distribuídas a parlamentares da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Estrella, porém, disse não se lembrar se leu ou não a matéria.
ALVOROÇO NO MERCADO
A declaração do diretor da ANP provocou alvoroço no mercado financeiro e as ações da Petrobras subiram 5,62% (ação preferencial) e 7,67% (ação ordinária). Hoje, as Bolsas de Londres e Madri, na Europa, sobem com a repercussão do possível megacampo.
Em nota divulgada ontem, a CVM avaliou como prejudicial as informações divulgadas sobre o bloco Carioca. "Esse tipo de comunicação de fatos relevantes deve ser feita exclusivamente pela companhia, utilizando os canais oficiais de comunicação com a CVM e com o mercado, garantindo assim o acesso simultâneo e amplo à notícia", informou a CVM.
Haroldo Lima
Em audiência no Senado, Lima refutou que sua declaração de ontem fosse novidade. "Não fiz anúncio de nada. Eu sou autoridade, não sou subordinado à Comissão de Valores Mobiliários. Sou membro do governo e estava falando para um público especializado", disse.
Além disso, Lima afirmou que tem autoridade para falar porque é "membro do governo" e não é subordinado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), órgão que regula o mercado de capitais.
DEPUTADO ALELUIRA
Para o vice-presidente do Democratas, deputado José Carlos Aleluia (BA), o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Haroldo Lima (PCdoB-BA), mostrou-se à altura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao revelar-se inconsequente e anunciar, sem qualquer argumento técnico, que o campo Carioca, na Bacia de Santos, teria reservas de 33 bilhões de barris de petróleo, cinco vezes mais do que a Petrobras estima para o campo de Tupi.
"É natural que se levante a suspeita de que pessoas privilegiadas receberam informações reservadas, absorvendo formidáveis lucros, embora inexista consistência na divulgação da notícia pelo senhor Haroldo Lima. Pura especulação, que deve ser investigada. Por isso, convocamos hoje o diretor-geral da ANP para dar explicações às comissões de Minas e Energia e de Economia da Câmara dos Deputados", disse Aleluia.
O líder democrata observou ainda que notícias relevantes devem ser tornadas públicas pela estatal Petrobras. "Não cabe à ANP fazer tal anúncio. Essa postura demonstra apenas a inconsequência do governo Lula. Quem lucrou com essa informação? Com certeza, muitos perderam. Grupos privilegiados ganharam enormes somas num dia em que o lulismo expôs mais uma vez falta de responsabilidade. Total desprezo às coisas de Estado", criticou Aleluia.
Segundo o parlamentar, claramente o diretor-geral da ANP não tem consciência do que é o cargo que exerce. E age como se fosse um quadro do governo Lula. "Como a postura do presidente da República é invariavelmente dúbia e nada ética, os seus auxiliares e o diretor-geral da ANP deveria comportar-se como um agente de Estado e não como um preposto de governo, procedem à imagem do superior", afirmou Aleluia.
Ele informou que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) será instada a revelar os investidores que se locupletaram da informação privilegiada. "Antes mesmo de a Imprensa divulgar a despropositada declaração do diretor Haroldo Lima, em círculos fechados já circulava a informação da suposta descoberta da Petrobras. Isso é muito grave. Uma empresa estatal, do porte da Petrobras, com ações na Bolsa de Nova Iorque, não pode ser manipulada pelo lulismo que tantos males vem causando ao Brasil", revelou Aleluia.