Cultura

E DEUS CRIOU A MULHER BRIGITTE BARDOT QUE REVOLUCIONOU O CINEMA

Foram mais de 50 filmes com a mulher selvagem numa época (década de 1950) em que as conquistas femininas eram poucas
Tasso Franco , da redação em Salvador | 28/12/2025 às 12:23
Brigitte na pena torta do Seramov
Foto: Seramov
     O Portal Le Monde anuncia que a atriz desencadeou uma verdadeira revolução ao estrelar "E Deus Criou a Mulher". Ela morreu aos 91 anos, anunciou no domingo a fundação que leva seu nome. Ela estrelou 56 filmes antes de encerrar sua carreira em 1973 e se dedicar aos direitos dos animais.

E Deus Criou Bardot… O terremoto aconteceu em 1956, no final de novembro, com o lançamento do filme de Roger Vadim, E Deus Criou a Mulher. De repente, a França, e logo o mundo inteiro, só tinha olhos para Brigitte Bardot. "Um corpo selvagem, animal, livre explode na tela", escreveu o crítico Jean Douchet. "Subverte e revoluciona os costumes sociais na França e no mundo todo." A revolução Bardot havia começado, uma revolução que daria origem a um verdadeiro mito.

Brigitte Bardot, que morreu aos 91 anos — a fundação que leva seu nome anunciou a notícia na manhã de domingo — estava longe de ser uma estrela na época. "Ela já tinha cerca de quinze filmes em seu currículo, incluindo alguns papéis coadjuvantes (Se Versailles me fosse contado, de Sacha Guitry, As Grandes Manobras, de René Clair)." 

Na época, ela era apenas uma estrela sexy, destinada a papéis de jovem refinada ou loira ingênua e distraída. Outro crítico da época, Jacques Doniol-Valcroze, a descreveu assim: “Uma pessoa bonita, graciosamente provocante, com o perfil das jovens de Auguste Renoir, um andar de bailarina, uma admirável cabeleira de algas marinhas e égua selvagem, e aquelas curvas requintadas que Maillol teria adorado”.

O retrato vai se refinando, mas ainda estamos longe do mito. Para entender o fenômeno, precisamos começar pelo início, em 28 de setembro de 1934, por volta do meio-dia, no 15º arrondissement de Paris. A futura "BB" nasceu na cama de seus pais. Louis, seu pai, e Anne-Marie (nascida Mucel), sua mãe, decidiram dar-lhe um nome alemão: Brigitte, a deusa do fogo. O anúncio do nascimento foi publicado no Le Figaro.

RELAÇÃO COM O BRASIL

A atriz Brigitte Bardot, que morreu aos 91 anos, teve uma relação bem próxima com o Brasil. A lenda do cinema francês namorou um jogador de basquete do Flamengo, Bob Zagury, e morou quatro meses no país. Além disso, foi a responsável por revelar Búzios (RJ), até então um destino paradisíaco 'secreto', ao mundo.


Ela visitou o local, que ainda era distrito de Cabo Frio, em duas situações, ambas no ano de 1964. Chegou pela primeira vez em janeiro daquele ano e ficou quatro meses na cidade. Na época, a francesa resolveu vir ao Brasil por estar muito estressada e desejar passar um tempo em um lugar mais calmo e tranquilo.

Inicialmente, a artista desembarcou no Rio de Janeiro, mas se assustou com a quantidade de fotógrafos e jornalistas. Fugindo da perseguição da imprensa, Brigitte e Bob se refugiaram em Búzios, então uma simples vila de pescadores. Não havia comércio, hotelaria e gastronomia por lá, e a atriz andava de forma simples e despojada, caminhando e visitando praias. Ela tinha o hábito de passear em um fusca vermelho e caminhar pela praia de Manguinhos.

Brigitte deixou o lugar em abril de 1964 e retornou em dezembro do mesmo ano. Mas nunca mais voltou, apesar de ter ganhado de um prefeito o título de cidadã honorária e um terreno na praia de João Fernandes. Também passou a dar nome à Orla Bardot, na Praia da Armação, onde também é representada por uma estátua instalada em 1999.

Em 2017, Brigitte criticou a modernização da cidade. "Guardo recordações únicas. Uma lembrança mágica, magnífica. [...] Foi o lado selvagem do lugar me seduziu. Mas o que Búzios se tornou hoje me deixa atordoada. É uma pena", lamentou, em entrevista à RFI.