Cultura

SERRINHA NO TEMPO DOS MEUS AVÓS (1880-1960): A PRAÇA DEU CARA À CIDADE

Serrinha era cidade desde 1892, mas, só ganhar cara de cidade em 1917, com a implantação da Praça Manoel Victorino, com ruas calçadas, iluminação a acetileno e jardim
Tasso Franco , Salvador | 25/12/2025 às 12:02
A praça quando da inauguração 1917
Foto: DIV
   15. OS COSTUMES

    Os costumes são a essência de uma comunidade e envolvem as relações sociais, políticas, econômicas, religiosas e culturais. E, claro, cada sociedade tem maneiras de viver, pensar, orar, trabalhar, etc, diferenciada de outra embora existam práticas que são comuns a todas, tais como, estudar, trabalhar, descansar, etc. Uma cama é uma cama no Irará ou em Kiev; e uma cadeira é uma cadeira em Dakar ou Paris. O que muda são os estilos e as tecnologias de se produzirem esses objetos, porém, o formato respeita a anatomia do corpo. E, ao que saiba, nenhum povo dorme em pé.

   Mas também ó óbvio que os costumes de um russo ou de um finlandês, obrigados a se protegerem do frio cortante uma boa parte do ano, consumidores contumazes de vodka, são diferenciados de um serrinhense ou de um feirense. 

   A sociedade também vive em movimento em permanente mudança de hábitos e tecnologias e, até mesmo no tempo dos meus avós (1880-1960) preciso retalhar esse período porque eles nasceram e tiveram a primeira infância no Império, experimentaram a República velha, uma ditadura e o sopro da redemocratização embalado pelo fim da II Guerra Mundial (1945-1960), porém, não conheceram as mudanças dos anos 1960, o concílio Vaticano II, e a revolução dos pensamentos e costumes de Paris, 1968.

   A Serrinha antiga do Império e inicio da República quando se torna cidade (1892) tinha basicamente quatro locais de convivência nas relações sociais: a igreja matriz de Sant’Anna, a sede da Sociedade Cultural e Phiilarmônica 30 de Junho (1895), a Casa do Concelho (ainda se escrevia com c) e depois Intendência; e a estação ferroviária. 

   Fora desses quatro locais as pessoas se encontravam no enorme largo que deu origem ao povoado, nas ruas, na feira livre do sábado, nalguma casa comercial e em eventos festivos particulares – batizados, casamentos, bodas, etc. A rua era o ponto focal. 

   O povoado e depois vila não tinha vida noturna, quase todos se recolhiam em suas casas quando escurecia e o boca-a-boca, a conversa ao pé do ouvido durante o dia era o que havia de mais importante.

   As pessoas ficavam sabendo das outras e das novidades através de parentes, amigos, e se alguém tivesse interessado em namorar outrem ou se casar procurava saber detalhes da vida da pretendente ou do paquerado. 

  As pessoas também eram identificadas pelas roupas que usavam e pelas posições que ocupavam na comunidade: o padre, o juiz, o intendente, o farmacêutico, o fazendeiro, o ferroviário, o advogado, etc, estavam no topo da sociedade. Os artífices – pedreiros, carpinteiros, ferreiros, funileiros, auxiliares, comerciários, etc – na escala intermediária; e os biscateiros, carregadores, serviçais, etc, na escola considerada inferior. 

   O preconceito era grande e os mais endinheirados usavam vestimentas à moda europeia, as mulheres de vestido longo, sombrinhas, chapéus e espartilhos para afinar as cinturas; e os homens de casacas, coletes, ternos risca de giz, gravatas, chapéu de feltro e lenços de seda expostos no bolso do paletó à esquerda. As pessoas mais simples e os rurais usavam roupas de algodão, calça e camisa, alpercatas de couro; e as mulheres vestidos de chita e lenços nas cabeças.

   Serrinha não experimentou as carruagens, os colibris, as cadeirinhas de arruá, como o Rio de janeiro, Lisboa e Salvador porque as distâncias nas áreas urbanas eram pequenas e as pessoas faziam os percursos da casa para o trabalho e vice-versa, a pé. `Meus avós, por conseguinte, não possuíram automóveis e meu pai só adquiriu um jeep no inicio dos anos 1960. 

     A partir de 1918 até 1960, a cidade ganhou novos locais de convivência social que estreitaram as relações entre as pessoas e dois deles se deram no ano de 1917: a urbanização do grande largo das árvores barrigudas, núcleo central do povoamento, criando a Praça Manoel Victorino, obra do intendente Luís Ozório Rodrigues Nogueira; e a circulação do Jornal de Serrinha, de Reginaldo Cardoso, tendo como redator chefe o advogado Aristóbulo Gomes.

  Imaginem vocês o que isso representou para a cidade. Se antes não havia um local de encontro formal e glamuroso das pessoas, uma praça com bancos, canteiros de flores, chafariz, árvores ao redor (oitis), carcada, cuidada, com postes e iluminação a acetileno, área demarcada para o comércio e coreto palco em frente a matriz”. Foi uma novidade dessas de encher os olhos. Era considerada a segunda praça mais bonita da Bahia, no interior, só perdendo para a de Santo Amaro. E que encheu de orgulho o serrinhense, o qual passou a frequentá-la todos os dias, especialmente nos finais de semana e nos momentos festivos da cidade – festa de Sant’Anna, carnaval, etc. 

   Foi nessa praça que muitos namoros e casamentos aconteceram e lembro que, na década de 1960 (e até depois disso) nós, os jovens, ficávamos num dos cantos do jardim da praça já chamada de Luís Nogueira e as moças, de braços dados e em grupos, desfilavam ao redor da praça para serem paqueradas.

   E o que dizíamos a elas: - Você é a flor da minha existência...você é tão bela como as rosas desse jardim...eram inúmeras frases poéticas que decorávamos para lançar as possíveis pretendes. As vezes dava certo; noutras não. 

   Daí nasceram muitos romances; -Você viu fulana gostou do que falei e deu um sorriso...fulana mandou um recado pela amiga tal que deseja encontrar comigo na matinée do cinema... era assim que funcionava na bendita praça.

    Essa praça teve uma importância muito grande na vida de milhares de pessoas. É provável que, na inauguração, meu avô paterno Jovino e minha avó Roza tenham comparecido ao evento, pois, moravam no largo e meu pai tinha 7 anos de idade; mas, meus avós maternos João e Leonor não tenham comparecido, pois, foi no ano de 1917 que minha mãe Zilda veio ao mundo. 

   Nas fotos que existem de registro desse evento vê-se que foi o mais importante da época, duas filarmônicas desfilaram, as pessoas vestiram suas melhores roupas para comparecerem ao evento, os homens de ternos e muitos de linho branco; as mulheres de longo, alguns senhores usavam jaquetões e bengalas, festa digna de muitos elogios.

   A Serrinha tinha, finalmente, a cara de uma cidade civilizada com praça, jardim e ruas calçadas com pedras que se chamavam, na época, de “cabeças de nego”.
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   Outro fato relevante dessa época foi o lançamento de um jornal, impresso, 8 páginas, semanal, que trazia as noticias da cidade, os editais da Justiça, os balanços financeiros da Prefeitura, informava os natalícios, os casamentos, os viajantes, os atos administrativos e políticos, o esportismo, enfim, a circulação das informações que até então se dava pelo boca-a-boca, agora tinha um veículo que registrava publicamente o que acontecia.

  O “Jornal de Serrinha” lançado em outubro de 1917 foi um Fato de grande relevância porque surgiu a crítica pública exposta, o que antes se falava no miudinho. E foi assim que o JS falou do abandono do cemitério, “que parecia um pasto para gado”, dos atrasos dos trens da Leste, dos eventos, da desenvoltura dos banhistas do açude, da precária higiene da cidade, de algumas notícias nacionais, etc; e surgiram de público os primeiros literatos, escritores e poetas que publicamos textos no JS.

   M. Marques, em artigo na edição de 12 de outubro de 1918, dizia sobre o JS ser “o primeiro marco conquistado que servirá de pharol, cujos reflexos luminosos esbatendo-se sobre essa tenha humilde de trabalho, transforma esta opacidade em uma clareira vivíssima, que te norteara na conquista suprema do engrandecimento do nosso ideal, formando uma tradição respeitável, cujos elos jamais se quebrarão”.

   A linguagem rebuscada é característica dessa época e M. Marques concluía: “Em sua vida nova alviçareira, já tens conquista os loiros de muitas victorias em lutas renhidas, vencendo ou convencendo os antípodas de seu ideal almejadao”.

   Anos mais tarde, Reginaldo Ribeiro, o editor, mudou o nome para “O Serrinhense” e na década de 1930 vendeu-o a meu pai Bráulio Franco, a tipografia e livraria, que o editou até meados dos anos 1950.

   A importância do JS é também tecnológica. Afinal de contas como Reginaldo Ribeiro, que enxergava pouco e ficou cego, conseguiu tipógrafos e impressores para editar um jornal em 1917 numa cidade cuja base de sustentação econômica era a agricultura e a pecuária? Se arranjar um vaqueiro, um pedreiro e ou um carpina nessa época já era complicado, imaginem conseguir um tipógrafo, alguém que dominasse essa arte, que soubesse manejar os tipos de chumbo numa caixa americana de composição, montar um paquet, e levar toda essa estrutura de chumbo para uma impressora movida a pedal e imprimir 8 páginas de um jornal. 

   Era um trabalho imenso, um ideal, e certamente o JS tinha ao menos 3 ou 4 tipógrafos e 1 a 2 impressores. E ainda tinha a distribuição, assinaturas, circulação, comercial, etc, tudo fora do eixo agricultura/comércio, pois, no rigor do conceito econômico era uma indústria. 

   Provavelmente, tenha sido a primeira indústria de Serrinha. E mais sintomático ainda: indústria-comércio-serviço, pois, abrangia os 3 segmentos e uma categoria que só existia na Leste Brasileiro, a de operários.

   Veja, portanto, a dimensão do que representaram o “JS” e depois “O Serrinhense” abraçando ainda uma outra atividade, que era a cultura, até então restrita a música com as filarmônicas, a 30 e a 25 de Novembro. Meu pai já a partir da década de 1930 passou a vender livros didáticos e romances em sua livraria. Os didáticos até vendiam bem na época da abertura do ano letivo, porém, os de literatura ficavam meses na vitrine.
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   O outro movimento nesse campo, das relações sociais só vai acontecer na década de 1940, com a implantação dos serviços de alto falantes. Pronto: as notícias, os comentários, a música, a dedicatória - também chamada de “página musical” - ganhou uma amplificação sonora e deixou de ser apenas impressa e no boca-a-boca. 

   Vale observar que o boca-a-boca seguia, ainda, com grande relevância, sobretudo a fofoca, o mexerico.

   A Serrinha teve boas mexeriqueiras, janeleiras, que se postavam nas janelas vendo o tempo passar, as pessoas andarem e o disse-me-disse corria solto. Surgiram também a folhetaria política (meu pai usava muito o pseudônimo Zifirino Catingueiro para sentar à pua nos adversários políticos) e os folhetos sex apontando quem estava “pulando a cerca”, outros tantos sendo cornos e assim por diante.
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   A LUZ DO Motor – Na década de 1930, surgiram dois fatos muitos expressivos e que foram mudando e moldando a sociedade local: a chegada do automóvel (de passeio e de carga) e a luz a motor nas praças e ruas, substituindo a luz a acetileno que só existia na praça Manoel Victorio (hoje, Luís Nogueira).

  Esses dois novos fatos tiveram grande impacto: os veículos além de demostrar (no caso dos de passeio) status elevado, pois, só quem possui os Ford de bigode eram os ricos; mas também apareceram os veículos da carga – caminhões e caminhonetes - e tudo isso alterou e muito os costumes na cidade porque surgiram, também novas profissões – mecânicos, eletricistas, capoteiros, caminhoneiros, etc, e um comércio de peças de automóveis, acessórios, pneus, etc; e serviços com bombas de combustíveis, lavagens, etc.

   Toda uma cultura nova foi se estabelecendo e com o passar do tempo surgiram os táxis – chamados de jeeps de praça, as linhas de ônibus para Feira de Santana e Salvador, as motocicletas, e, aos poucos foi-se substituindo o transporte intermunicipal que era feito por cavalos, burros, carroças, carros de bois, por utilitários.

   A troca de luz de acetileno por motores a diesel no governo Vilalva foi outra mudança nos costumes, ainda que só fosse nas ruas e praças, pois, as casas continuavam com luz de velas e cadeeiros. Como os motores ficavam localizados próximo de nossa casa, eu, que nasci em 1945, ainda ouvi todas as noites, entre 1945 e 1952, quando começou a ser construída a Igreja Nova e os motores foram levados para uma área próxima ao Mercado Municipal vizinho a casa de Zé Reis, o troar dos motores. 
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   Nas décadas de 1940 e 1950 surgiram mais quatro fatos relevantes de mudanças na sociedade, os costumes se alterando de forma significativa, que foram as implantações dos clubes sociais Só Falta Você, Associação Cultura Serrinhense (Clube), Ginásio Estadual do Nordeste, Escola Normal de Serrinha.

   Ponha mudanças expressivas na sociedade. O “Só Falta Você” abrigava em sua agremiação social os artífices – pedreiros, carpinteiros, empregadas domésticas, comerciários, etc, a maioria negros e/ou mestiços pilotado por Zé Ramos e sua esposa Marieta, que foi de um pioneirismo espetacular num tempo (1944/45) em que os movimentos negros sequer existiam de maneira organizada no Brasil. E esse clube realizou grandes encontros e festas carnavalescas e outras.

   Já a ACS, que nasce em 1952, e ficou conhecida com o Clube, abrigava a classe média e surgiu com o objetivo de ser um espaço de relações sociais e afetivas entre as famílias. Abrigou centenas de eventos, belíssimos carnavais, festas as mais diversas do tipo candelabro italiano a 15 anos. E, quantos foram os romances e casamentos que surgiram a partir deste Clube? Quantos amores e paixões, quantas lembranças e marcas registradas nas pessoas para o restante de suas vidas? Centenas, diria.

   Meus avós, já velhos nessa época, não curtiram o Clube e isso ficou para seus filhos e netos. E eu, por posto, comecei a frequentar o Clube logo após sua inauguração, ainda menino, no baile infantil do Carnaval e por lá dancei tantas festas que adeus minha sola dos sapatos.

   Já o ginásio e a escola normal tiveram outros significados porque pela primeira vez a cidade sairia do ciclo primário do ensino para ingressar no secundário. Aos olhos de hoje parece pouco, mas, no final dos anos 40 e inicio dos 50 foi uma mudança estupenda no comportamento e mudança dos costumes na cidade. 

   Ora, imaginem vocês, a Serrinha formava professores e professoras (nessa época não se exigia o ensino superior para ser professor (a) – e capacitava os jovens para o acesso aos cursos científico e clássico, que ainda só podiam ser feitos em Feira de Santana ou Salvador. 

   E o destino foi Salvador influenciado pela linha do trem. Eu, embarquei nessa, em 1963 com destino a capital onde vivo até hoje formado em jornalismo pela UFBA, 1971.

   E assim muitos e muitos foram e seguiram de trem e/ou ônibus com a cara e a coragem em busca de conquistar o ensino superior quando, a essa atura, maus avós já estavam sepultados no cemitério da paróquia.
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   Então, dei uma ideia aproximada de como eram os costumes na Serrinha e algumas referências de mudanças. Claro que não estão todos os fatos íi relacionados, existiram outros, apenas tentei colocar os que considero mais relevantes, mas o município era imenso havia os povoados, distritos e as zonas rurais e cada localidade dessas tinha suas peculiaridades, suas batas de feijão, seus sambas de roda, suas cheganças e os costumes variavam de local para local.

   No entanto, algumas coisas eram comuns para todos. A comida, por exemplo, era a base de feijão, farinha e carne seca (e/ou carne verde), uso do toucinho, o comer de bananas e o chupar de laranjas, umbus e mangas. 

   Fora de padrão era alguma fruta de época como caju, sapoti, goiaba, etc – e as inovações que foram surgindo com o passar dos anos como o uso do arroz, macarrão, frango e enlatados. Não havia prática de comer saladas – o pobre, então, detestava, dizia que não dava sustança – e a classe média abominava. Esse negócio de comer alface, cenoura e tomate cru tudo junto e misturado com azeite e sal era coisa de fresco ou de gringo. 

   O frango assado que, a história conta ser um dos pratos prediletos de Dom João VI (18080, Rio), demorou para chegar a Serrinha. As pessoas comiam galinhas e perus tratados a moda caseira sangrados e depenados e cozidos com água e sal e algumas verduras. O da máquina conhecida como “vitrine de cachorro” demorou pra chegar na Serrrinha, que, meus avós não conheceram. 

   As sopas também eram muito consumidas e o macarrão era um complemento agradável para sopas e outros pratos. Lembro que, certa ocasião, anos 1950, meu pai levou um carpina da roça, Sêo Martins, para fazer um trabalho lá em casa e ele teve que dormir conosco. À noite, minha mãe colocou uma sopa para ele. Martins olhou pro prato desconfiado e disse: - Dona Zilda: tem farinha? . Minha mãe ficou admirada com a pergunta, mas mesmo assim, passou a farinheira para ele. Martins sapecou a farinha sopa e não contou conversa. 

   Meu pai ficou com misto de surpresa e compreensão, pois, sabia que o homem do campo não tinha o hábito de tomar sopas e a farinha sempre foi um complemento para os pratos do meio dia a fim de dar volume e garantir a sustança.

   O QUE SE VESTIA: também era comum para todos os trajes, as vestes, os homens nos dias normas de calça de brim ou de linho e camisas de mangas compridas; e nos dias festivos de jaquetão, chapéu de feltro, gravata e sapatos de couro; e as mulheres de longo mesmo no dia-a-dia, sombrinhas, chapéus e discretas maquiagens. E as pessoas de menor poder aquisitivo de calas de algodão e camisas de brim; e as mulheres de vestidos de chita e lenços na cabeça.

   Mulheres não usavam calças nem bermudas. E sapatos altos só em eventos especiais, ainda assim eram raros os modelos Luis XV. 

   Serrinha já tinha sapatarias desde início do século XX e os sapatos mais caros e disputados pelos ricos eram os de couro cromo alemão. Não se sabia se de fato eram alemães, mas, assim eram vendidos. 

   A maioria dos sapatos, botas e alpercatas era de fabricação artesanal. Havia vários sapateiros no município e meus avós não conheceram a onda dos tênis. Nem tiveram. As pessoas mais pobres usam sandálias que eram chamadas de alpercatas. Chileno era um termo usado apenas para modelos usados em casa, de lã ou couro mais fino, quase sempre utilizados pelos mais velhos.

   O QUE SE OUVIA E DANÇAVA – Valsas, polcas, modinhas e maxixes. Embora as músicas mais populares como o samba e o forró sejam antigas, inicio do século XX e final do século XIX, em Serrinha, no tempo dos meus avós (1880-1960) eram pouco tocados, somente já nos 1950/1960 quando Luís Gonzaga popularizou o forró. E o samba, no modelo tradicional, nunca pegou em Serrinha, salvo a xula ou samba de roça ou modinha de roça tocado com sanfona ou violão, cavaco, pandeiro, prato e cabaça. O rock começou a emergir nos anos 1960 com jovens cabeludos e roupas espalhafatosas e calças bocas de sino.

   Serrinha também não teve salões emplumados da nobreza do final do império (Segundo Reinado) por falta de nobres. Não tivemos marques, barões ou viscondes como os de Cachoeira ou a famosa confessa de BarraL, os salões da marquesa de Abrantes, e as aventuras do poderoso barão de Cotegipe e outros.

   A Serrinha era pobre e as mudanças nos costumes foram se dando de firma lenta e gradual empurradas pelo trem que encurtou as distâncias com Salvador, a capital da Bahia que copiava as novidades do Rio, a capital do Império e depois da República, que, por sua vez mirava Paris e Londres. E quando os “The Beatles” surgiram em Liverpool no inicio dos anos 1960 não demorou para o rock chegara a serra com “Os Gatos” e outros.
   
*** Próximo capitulo: Serrinha era também cidade de veraneio