Todas as crônicas do livro de Tasso Franco estão no aplicativo de literatura wattpad
Tasso Franco , da redação em Salvador |
22/07/2020 às 08:22
Lisboa vista do Castelo de São Jorge
Foto: BJÁ
O jornalista Tasso Franco publicou nesta quarta-feira, 22, no wattpad a última crônica (número 35) do seu livro Lisboa como você nunca viu, a Pensão do Amor, uma ode a cidade. Leia abaixo e todas as demais no aplicativo de literatura wattpad.
LISBOA A LAPINHA DE ENCANTOS, CZARINA DO TEJO (ÚLTIMA CRÔNICA)
Lisboa é um encanto. Tinha que findar este livro com uma ode, um poema lírico a czarina do Tejo. Falta-me, à luz da razão, métrica, saber. Sigo o que o povo diz, o que a gente simples portuguesa fala, que é uma lapinha, em quadros, em azulejaria, em bem querer.
Fui a um restaurante da Baixa que tinha lapinhas do casario lisboeta nas paredes. O nome do restaurante: Lisboa é linda.
Simples, assim. Tomo para mim esse dizer. Amo Lisboa, em mim.
Não há aqueles edifícios em vidro e aço da City of London e o Canary Wharf; nem a imponência do La Défense, de Paris; nem aqueles assombrosos arranha céus de NY, menos ainda o Michigan e a pujança de Chicago.
Lisboa é uma lapinha. Uma cidade que ainda lembra o tempo de Eça de Queiroz, de “Os Maias”; de Alexandre Herculano, e a “História de Portugal”; de Almeida Garret, “Viagem na Minha Terra”; de José Saramago, e a “História do cerco de Lisboa”; de Fernando Pessoa e seu “Desassossego”. E se queres algo remoto pagine “Os Lusiadas”, de Luiz Vaz de Camões, a epopeia dos navegadores.
Andar pelas ruas de Lisboa é caminhar por esses cenários no Chiado, na Alecrim, na Baixa, em Santa Apolônia, na Feira da Larga, no Paço, à beira Tejo pelo Restelo, o Largo de São Carlos, no São Francisco.
Mãe da cidade do Salvador da Bahia, se parecem muito. Nos ascensores, nas ruas, na sua gente. Vi ao longo de caminhadas em Lisboa, no Carmo, no Chalariz, na Alfama, na Arsenal.
As pessoas são muito parecidas com minha mãe, minhas tias, meus parentes. Iguais em trajes, nos cabelos, nas formas, nos andares. Iguais, são.
Lisboa é um amor em receptividade. Nas padarias, nos mercados, nas casas de fado, nas livrarias, na emblemática “A Brasileira”, no “Martinho da Arcada” onde Pessoa e seus amigos Augusto Ferreira Gomes. Antônio Patto e Raul Leal jogavam conversa fora, nas pastelarias a ser empanturrar de docinhos conventuais das clarissas.
Nos mirantes vê-se sua majestade o Tejo que vem de Espanha e deságua no Atlântico donde partiram as naus que descobriram o Brasil e fundaram a cidade do Salvador.
O Tejo é acalentador, luminoso, seja do alto ou da beira do cais do Sodré, donde se aprecia com os olhos e toca-se em suas águas com as mãos. Vê-se Lisboa a partir do Tejo em passeios de barco, a lapinha encantadora à sua frente.
Lisboa tem um respeito e admiração aos seus escritores como poucas cidades têm. São adorados, endeusados, respeitados. Os poetas, valorizados. Os cantores e cantoras de fado, em pedestais. Os músicos que dedilham a guitarra portuguesa, aplaudidos. A monarquia dos Avis e dos Bragança respeitadas, culturas, admiradas e preservadas em suas histórias.
Terra do fado de Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, Manuel de Almeida, Carlos do Carmo, Ana Moura, Rodrigo Costa Félix e Mariza Nunes. Fado de Severa Onofriana e das ruas da Mouraria, da Capelão, em especial. Mouraria dos mouros que dominaram a cidade por centenas de anos.
Lisboa também foi romana com o belíssimo nome de Felicitas Júlia, da época de César, 64 a.C. Depois, visigótica. Lisboa é, ainda hoje, romana, gótica, manuelina, moura, lusitana em essência. Capital mundial da paz. Da sombrinha e da sardinha.
Como não amar esta cidade. Ande por ela que verás como a paixão vai brotando em cada canto que pisas, em Belém, na sua torre encantadora; e, Jerônimos, em Santa Apolônia, em Queluz, na Bica, no Castelo de São Jorge - o dono da história -, na Sé Primacial, na casa onde nasceu Fernando de Bulhões, o glorioso Santo Antônio, na igreja de São Roque, na Pensão do Amor, na rua das Rosas, na Travessa do Cotovelo, no Largo do Teatro São Carlos.
Lisboa tem esse toque do passado, esse ar monárquico, mas, hoje, é uma cidade cosmopolita. As ruas são as mesmas da época de Eça, Ega, Almada, Carlos, Santa Rita, General Rosas, Gouvarinho, mas, não se vai mais a Paris e a Londres para sentir-se no mundo civilizado.
Como medir e sentir essa nova realidade? É preciso apenas andar pelas ruas de Lisboa, dia e noite, no Elefante Branco, na Rua do Norte, na Aché, no cais animado do Sodré onde a música brasileira ressai.
A cidade na atualidade é cobiçada por estrangeiros de várias partes do mundo, de Madonna a Piovani, e vem gringos de Paris e de Berlim, de Londres e de Amsterdã, em busca da paz, da tranquilidade, das quintas, do modo de vida dos portugueses, modo simples, do vinho, do bacalhau, das sardinhas, de viver e de se comunicar com as pessoas.
Lisboa é isso, uma cidade simples, uma lapinha de encantos. Uma cidade dos anjos.