Colunistas / Política
Tasso Franco

O DESCOBRIMENTO DO BRASIL E A BORRACHA DA IGNORÂNCIA HISTÓRICA

Portugal é visto como um estorvo embora 360.000 brasileiros vivem por lá, de todas as raças e crenças
22/04/2024 às 09:18
   A última comemoração que aconteceu em Porto Seguro com destaque nacional pelo descobrimento do Brasil deu-se no ano 2000 quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB), era o presidente da República. Na época, 500 anos da descoberta, o presidente de Portugal, Jorge Sampaio, compareceu ao evento, e o governador do estado era César Augusto Borges.

     Programada para ser uma celebração apoteótica da nacionalidade e uma confraternização com os descobridores, a festa dos 500 anos terminou em confronto entre a polícia, índios e outros manifestantes. Na localidade de Coroa Vermelha, onde ocorreu o desembarque de Pedro Alvares Cabral, foram realizadas uma missa e uma solenidade oficial com a presença dos presidentes FHC e Jorge Sampaio.

      O noticiário daquela época destacou que os acessos à cidade foram bloqueados por forças policiais para impedir a entrada de índios, estudantes, militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do movimento negro e punks. 

    Os manifestantes fizeram protestos nas estradas e, quando tentaram se aproximar do local do evento, foram reprimidos. O confronto deixou um saldo de sete feridos e 140 detidos.  O simbolismo da truculência policial em data tão especial teve ampla repercussão nacional.

     Também contribuiu para o fiasco da comemoração o péssimo desempenho da réplica da Nau Capitânia da frota de Cabral. Logo depois de zarpar, a embarcação encheu-se de água e por pouco não afundou.

     Depois da impressão negativa deixada pelo evento, o ministro da Cultura, Rafael Greca, foi demitido por Fernando Henrique. O presidente da Funai, Carlos Frederico Marés, deixou a instituição em protesto contra as agressões aos índios que a própria autarquia havia mobilizado para a comemoração. "Não havia intenção de dissolver a marcha, mas de machucar as pessoas", disse.

     A passagem dos 500 anos do Descobrimento do Brasil estimulou publicações de livros e estudos, apresentações de artistas brasileiros e portugueses nos dois lados do oceano e a realização de mostras, exposições e seminários sobre o tema.
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     Bem, hoje, o Brasil completa 524 anos de sua descobrta pelos portugueses e persistem os mesmos problemas com os tupinambás/tupiniquins e seus descendentes, negros e outros. Os conflitos entre fazendeiros e indigenas prosseguem e recemente foi morta uma indigena, em janeiro último, Maria de Fátima Muniz, a "Nega Pataxó". Mas, os protsestos foram poucos. 

    O MST sumiu do mapa em relação a data do descobrimento, o MINC tá mudo com Margareth Menezes e os artistas confortados pelo atual governo.  Ninguém nem fala dos 524 anos da descoberta.

    Há, ademais, pelos segmentos da Cultura no Brasil e na Bahia, um isolamento sem precendentes de tudo o que diz respeito a Portugal como se portugueses fossem os culpados de tudo, das mazelas antigas e atuais, mesmo depois da independência, em 1822. Completou-se, portanto, 202 ANOS (dois séculos) que o comando do Brasil é dos brasileiros.

     Os historiadores ainda hoje questionam se o Brasil foi descoberto pela expedição de Cabral, que se dirigia às Índias; ou houve um achamento casual provocado pelos ventos. Isso pouco importa do ponto de vista da ocupação do territórios pelos europeus, uma vez que se não fossem os lusitanos seriam os espanhóis, os holandeses, os ingleses e/ou franceses que já estavam nos mares e também foram escravocratas e exploradores, típicos do momento, da época.

     E, alguns historiadores e autoridades brasileiras, da cultura e da gestão governamental geral, abominam tudo dos lusitanos como se Portugal fosse um estorvo ainda que seja, na Europa, o local preferido dos brasileiros de todas as raças e crenças para morar - 360 mil brasis vivem por lá. E a cada dia vão mais.
     
     Até os negrros e mestiços falam mal de Portugal, mas, preferem Lisboa à Luanda; o Porto e Vila Nova de Gaia a Porto Novo, na República do Benin.

     De uma forma mais ampla os politicamente corretos e donos da verdade também espinafram os Estados Unidos e o Reino Unido, o primeiro por ser um país racista; e o segundo por ter roubado todo nosso ouro. Hoje, nos Estados Unidos mora a maior colônia de brasileiros de todas as raças e condições sociais, 1.900.000 pessoas; e no Reino Unido 220 mil brasis. 

    E no Paraguai, onde tropas do Exército brasileiro do patrono Caxias fizem misérias após a destituição de Solano Lopes, no tempo de dom Pedro II, vivem 254 mil brasileiros.  A historiografia paraguaia conta toda essa história da ocupação.

     Então, o Brasil precisa mudar esses sentimentos, sobretudo em relação a Portugal. A cultura portuguesa é vasta e importante. Nós, os brasileiros, falamos português (nem Iorubá; nem inglês; nem espanhol como toda a América Latina), dom João VI que esculhambam e é chamado de glutão foi o rei que conseguiu manter a unidade nacional, somos o maior país da AL, nossa cultura religiosa e literária é baseada em Portugal, e se tem um local em que os brasileiros se sentem em casa é em Lisboa, Porto, Braga ou qualquer cidade portuguesa.

     Mas, infelizmente, uma data tão importante passa em branco. Na Assembleia Legislativa da Bahia nem sessão nesta tarde de 22 aconteceu.  A era da descoberta do Novo Mundo -incluindo também Canadá e EUA - é considerado o feito histórico mais importante da humanidade até a conquista da lua na década de 1960. São 524 anos de história - em relação ao Brasil - que apagam com a borracha da ignorância histórica. (TF)