Colunistas / Política
Tasso Franco

A VELHA POLÍTICA, A IMPRENSA E INDICAÇÃO DA ESPOSA DE RUI AO TCM

Jerônimo herdou uma saia justa administrável e e exaltou ontem a "correria redobrada" com Rui Costa
25/02/2023 às 13:44
    1. Aqui e acolá na imprensa baiana há comentários de que o jornalismo local está sendo muito severo em críticas diante da indicação do chefe da Casa Civil, Rui Costa, para que sua esposa Aline Peixoto seja eleita conselheira do TCM em indicação que precisa ser aprovada pela Assembleia Legislativa, entendendo-se que esta vaga seria de tutela da ALBA. Há, ainda, outros e diversos argumentos os mais estapafúrdios dando conta de que, estaria havendo inclusive preconceito pelo fato da indicação ser de uma mulher, segundo o líder do governo, deputado Rosemberg Pinto (vide Política Livre), e assim por diante.

   2. Ora, nem a imprensa baiana está se comportando além de sua missão; nem há qualquer preconceito contra a candidata. Na realidade, a imprensa não cria fatos, não inventa notícias, apenas notícia os acontecimentos e os comenta a luz do que se coloca a partir de uma determinada realidade. E esta situação foi criada no momento em que o ex-governador Rui Costa colocou em cena para disputar a vaga, inicialmente contra um deputado da base governista, Fabrício Falcão, PCdoB, o nome de sua esposa. E, também havia o entendimento, originalmente, de que somente deputados, ex-deputados ou servidores da Assembleia pudessem concorrer a vaga. Assim foram eleitos, recentemente, João Bonfim e Marcus Presídio, que me recordo.

  3. Redimida essa cláusula em parecer jurídico, dando conta de que qualquer cidadão (ã) poderia disputar a vaga, a pré-candidatura de Aline avançou e Fabrício Falcão vendo a iminente derrota à vista, recuou e teria negociado ficar para disputar (com chance e apoio da base) a próxima vaga, e surgiu na oposição o nome do ex-deputado Tom Araújo, na disputa, que perdura até os dias atuais.

  4. O assunto ganhou novo ingrediente quando o senador Jaques Wagner (PT) em entrevista ao Podcast da Metrópole disse que Não faria esse tipo de indicação. Ou seja, posiconou-se contrário. Mas, quando o senador deu essa declaração a pré-candidatura Aline Peixoto já havia decolado. Isto é: o fato estava consumado e até os deputados considerados wagneristas, quatro estaduais mais ligados ao senador e com direito a voto na ALBA, três deles já haviam declarado apoio a Aline.

  5. Hoje, em tese, quem controla a base é o governador Jerônimo Rodrigues - atual dono da caneta - e ele herdou esse fato consumado que vinha sendo falado (e onde já fogo há fumaça) ainda quando era candidato a governador apoiado majoritariamente por Rui Costa. Ao chegar ao poder, eleito, mesmo antes de assumir de fato e de direito, o assunto já circulava na imprensa com desenvoltura. E, ao sentar na cadeira de governador, recebeu essa herança em andamento. Uma saia justa plenamente administrável.

  6.Imaginem vocês, distintos leitores, se Jerônimo iria se indispor com Rui, agora, mais poderoso do que antes, chefe da Casa Civil de Lula? Nem pensar nessa hipótese. Hoje, Rui partcipa de reuniões com o secretariado de Jerônimo em conjunto com o governador e este diz em postagem nas redes sociais que é a "correria dobrada". Portanto, a base governista sabe de cor e salteado que o governador apoia o nome de Aline. Jerônimo não falará nada sobre a posição de Wagner ou de qualquer outro parlamentar da base que se contrapor. Tem maioria com folga na ALBA e a vitória de Aline é certa. Nem precisa dar explicações.

  7. Durante esse processo, mais recentemente, a base escalou alguns deputados e deputadas para elogiar a personalidade Aline e suas qualidades de gestora da Voluntárias Sociais. Faz parte. Vale registrar que a imprensa, ou pelo menos boa parte dela, também publica esses elogios, democraticamente.

  8. A imprensa, portanto, cumpre apenas a sua obrigação de noticiar todos esses fatos e também dar o contraditório nas opiniões dos deputados da Oposição e outros que duvidam da capacidade técnica da indicada e da prática do que, na política, se chama "maridismo". Ou seja, um político poderoso usar o poder para nomear um parente a determinado cargo.

  9. Isso é novidade nas políticas nacional e baiana? Não. Rui é o primeiro a fazer isso? Não. Há outros ministros do PT fazendo a mesma coisa. E, na Bahia, há casos e casos. É um direito? É. Na prática política brasileira, quem ganha nas urnas nomeia aliados, parentes e aderentes. Não sei se os abnegados leitores se lembram do famoso caso de Dona Carmen, no governo João Durval! 

  10. O que causa espécie, no entanto, é o discurso do petismo de que, um dia, iria mudar essa prática. Lego engano, meus caros, todos os políticos são iguais. (TF)