Colunistas / Política
Tasso Franco

A DANÇA DO POMBO, O NIILISMO, OBAMA E A POSE DE LULA COM SHOW

No país dos niilistas todo cuidado é pouco
22/12/2022 às 10:07
     Creio que nossos leitores viram as comemorações em Buenos Aires para os campeões do mundo do futebol, recntemente. Algo que surpreendeu até a imprensa argentina acostumada a cobrir grandes eventos e funerais grandiosos como foram os de Evita e de Peron. A multidão para saudar Messi e os atletas comandados pelo técnico Scaloni foi a maior da história da Argentina. 

  Em Rabat, capital do Marrocos, deu-se manifestação assemelhada para saudar os jogadores da seleção e o rei conferiu medalhas a todos atlletas e ao técnico numa solenidade no palácio, de forma respeitosa todos os atletas uniformazados de paletó e gravata com as cores do país.

  Em Zagreb, capital da Croácia, a mesma coisa. Os pupilos de Modric foram recebidos como heróis pelo terceiro lugar conquistado no Catar. Em Paris, um misto de apoio à seleção comanadada por Didier e protestos com a Polícia tendo que agir diante alguns excessos. 

  E no Brasil, o que aconteceu com a seleção brasileira no retorno ao país? Nada. Então, há de se dizer que somos o país dos niilistas, da filosofia defendida pelo escritor russo Ivan Turguêniev que não acredita em nada, que não crê em princípios, que até o amor é uma coisa desprezível. "Zaratrusta" de Friedrich Nietzche tem muito disso ele que era também um niilista, o qual escreveu vários textos criticando a moral e a cultura ocidental.

  A CBF não deu a menor satisfação aos torcedores, o técnico Tite recolheu-se ao anonimato, os atletas brasileiras (90%) ficaram na Europa e não retornaram no avião da seleção, dos três que voltaram só Everton Ribeiro deu uma palavrinha à imprensa, o presidente da República, Jair Bolsonaro, desde que perdeu a eleição no segundo turno, em 25 de novembro último, está recluso, e os torcedores não fizeram nada constituindo-se na maior concentração de niilistas do mundo ocidental. 

  Até os torcedores do Vitória quando o time perdia uma partida dessas que ninguém esperava fazia protestos. E no Bahia, foram diversos protestos feitos no aeroporto; e também aplausos quando mereciam.

   Quando a seleção foi disputar o jogo contra a Croácia entrevistaram o técnico croata Zlatko Dalic sobre o adversário que estaria embalado, vencera fácil a Coreia do Sul e já dançava em campo com imitações de um pombo, coreografias e outros, e ele disse: - É o jeito deles comemorarem que é assim, que dancem, faz parte da cultura do Brasil. Disse que a seleção brasileira era a maior e a favorita, toda uma declaração para inflar o ego dos brasis, mas, sem alterar o espírito de luta dos croatas.

  A psicologia subjetiva explica esse tipo de ação. No fundo, o que Dalic quis dizer foi o seguinte: - Eles são folclóricos, ninguém acredita neles.

  A seleção do Brasil - como vimos - perdeu um jogo que era considerado ganho. Mas, no futebol, o ganho só acontece com o apito final. Também vimos isso no jogo da Argentina contra França disputado até o último segundo e só resolvido nos pênaltis. 

  Ninguém ganha futebol com dancinhas antecipadas - até o técnico Tite entrou nessa - nem muito menos outros objetivos. 

  Agora ouvimos dizer que haverá um mega show com mais de 20 artistas - estimado, por baixo em R$10 milhões - para saudar o novo governo de Lula da Silva, presidente que assumirá em 1º de janeiro próximo. Reveste-se, assim, uma solenidade que deveria ser cívica para o campo festivo. 

  A posse de Barack Obama com o lema "O novo nascimento da liberdade", em 20 de janeiro de 2009, foi a que reuniu a maior multidão da história de Washington, teve dois concertos e bailes (dentro da tradição do país) e mais o juramento. 

  O presidente eleito Lula da Silva deve ter todo o cuidado para não sobrepor o festivo ao cívico. O momento é de extrema responsabilidade e de mudanças. Lula que já havia imitado o slogan de Obama para sua campanha deve também imitá-lo no civismo em sua posse. 

  Lembremos, pois, que somos a Nação de niilistas: o povo, tal como os torecdores da seleção, não acredita em nada e alguém tem que resgatar essa confiança. (TF)