Colunistas / Política
Tasso Franco

OS MOTIVOS QUE LEVARAM JAIR BOLSONARO A DERROTA NAS ELEIÇÕES

presidente é o principal responsável por sua derrota contra Lula ressuscitando o petismo
02/11/2022 às 09:40
    As razões pelas quais o presidente Jair Bolsonaro perdeu as eleições são do conhecimento público. O principal adversário de Bolsonaro foi o próprio Bolsonaro o qual, eleito em 2018, com mais de 57 milhões de votos e a missão de conduzir o país a um novo patamar de desenvolvimento, fortalecendo a iniciativa privada, extinguindo estatais predatórias dos recursos nacionais, evitando o fortalecimento da República Sindical e as invasões de terras pelo MST e pondo fim a corrupção endêmica que vinha desde 2004 com o "Mensalão" e se alastrou com o "Petrolão", no governo Dilma Rousseff, fracassou nesta missão. Ou ao menos, ficou a desejar diante da expectativa que criou em 2018.

  A eleição de Bolsonaro foi na emoção com milhões de brasileiros vestindo o verde e amarelo para conter o esquerdismo e o petismo no Brasil. Muita gente votou mais contra o PT de Fernando Haddad, o candidato de 2018, do que favorável a Bolsonaro que pouca gente conhecia. Depositou-se, assim, uma confiança no "capitão", no "mito" e quando este chegou ao poder não cumpriu o que se esperava dele. Entronizou uma equipe de ministros, muitos deles, sem preparo para as funções, e desde cedo se atritou com o Congresso Nacional, a ponto, mais adiante de ficar sem partido abandonando PSL e considerando seu vice, o general Mourão, quase um adversário.
 
 Ora, Tancredo Neves dizia que a arte da política, a principal delas, é a agregação, a união de forças em torno de um lider. E Bolsonaro, desde os primórdios na Presidência ao invés de agregar, juntar mais gente em torno dele, espanou. Ninguém consegue governar um país democrático, salvo quando se trata de uma ditadura, como na Rússia, na China, em Cuba, na Coréia do Norte, na Venezuela e outros, sem o apoio do Congresso e sem uma relação amistosa com o Poder Judiciário. São 3 pernas importantes em qualquer democracia e Donald Trump, quase perde o poder nos EUA, porque a Câmara lhe fez oposição com Nancy Pelosi, à frente na preesidência da Casa Legislativa, sendo salvo pelo Senado onde os Republicanos tinham maioria. 

  Foram inúmeros pedidos de impeachement de Bolsonaro na Câmara e só não vingaram porque alguns não eram consistentes e outros foram barrados pela Mesa depois que o presidente se aliou ao Centrão para manter a maioria no Legislativo. Mas isso já foi no final do seu governo após negociações tardias o que, ainda assim, lhe garantiu concluir o mandato. Com o Poder Judiciário os atritos foram permanentes aprofundados quando o ministro do STF, Edison Fachin, de forma monocrática permitiu que Lula da Silva pudesse concorrer à presidência, em 2022.
  
  Bolsonaro, no entanto, esquecera o dever de casa, o principal delegado pelos 57 milhões de votos que recebera no 2º turno, em 2018, de fazer um governo moderno, propositivo, livre da corrupção, com obras, com avanços para a sociedade. 

  O que se viu foi uma coisa ali; outra acolá, sem consistência, uma política econômica que avançava e derrapava, reformas que não saiam papel, salvo a da Previdência que foi seu trunfo, estatais que se mantinham às custas do dinheiro público a ponto de manter até a TV Brasil com gastos de mais de 4 bilhões de reais em 4 anos, traço em audiência; um Correios falido; e quando chegou o momento de nova campanha, em 2022, ele não tinha o que apresentar.

  A realidade é que, milhões de brasileiros que haviam se vestido de verde e amarelo em 2018 e votado nele já o tinham abandonado, em 2020/2021, a espera de uma terceira via política que não emplacou e só retornaram a ele porque o adversário foi Lula. Repetiu-se o mesmo fenômeno de 2018, isto é, votar contra o PT, mas, o problema é que o candidato era Lula e este foi competente em fazer articulações políticas à mancheia, como profetizava Tancredo Neves, agregar, e este venceu as eleições. Daí, ainda, a surpreendente votação de Bolsonaro 49.10% (58.206.354) contra os 50.90% de Lula (60.345.999).

  O comportamento do governo diante da pandemia da Covid representou uma pá de cal. O presidente negava a ciência e insistia na cloroquina, mudou vários ministros da Saúde, as mortes se sucederam em grande escala e quando o governo ampliou a vacinação o estrago já tinha sido feito. 

  A comunicação do governo era zero e os governadores da oposição recebiam a vacina do Ministério da Saúde distribuia nos municípios, mais como se fossem ações dos estados do que do governo federal. Isso abriu espaço para uma das criticas mais fortes ao presidente o chamando de "genocida". Contrapor a isso com a imprensa 99% contra o presidente se tornou impossível e o desgaste foi enorme. Até hoje, antes das partidas de futebol nos campeonatos nacionais faz-se 1 minuto de silêncio nos estadios, isso sendo transmitido pela TV, em memória das vitimas da Covid.

  Bolsonaro só consegiu essa votação final de 2º turno com mais de 58 milhões de votos porque se votou, muita gente, mais contra o PT do que a favor dele. Não havia outra saida. A terceira via nunca emplacou. Primeiro o governador de SP, João Dória, PSDB, deixou o governo para tentar isso. Deparou-se com Eduardo Leite, governdor do RS, o qual também deixou o governo e queria o mesmo. No saco de gatos do PSDB, rachado, Dória venceu Leite numa disputa interna, Alckmin foi cooptado por Lula para ser seu vice; FHC já estava simpatico a Lula, mesmo após 8 anos ser massacrado pelo petismo com o "Fora FHC", e Dória patinou de tal forma quando o jogo começou para valer que desistiu no meio do caminho.

  Ciro Gomes do PDT seria uma esperança para a terceira via até saiu bem e agregou João Santana como seu marketeiro e não conseguiu passar de 10% das intenções de votos terminando em 4º lugar na corrida atrás da emergente Simone Tebet, do MDB, a qual também enfrentou resistências no seu partido para ser a candidata a presidente, e conseguiu ser a terceira mais votada com 5 milhões de votos. Um feito e tanto, uma terceira via tardia e que poderia ter dado melhores frutos se sua campanha tivesse começado antes, num MDB com apoios a Bolsonaro e a Lula.

  Bolsonaro nunca quis a terceira via e muito menos Lula. Trabalharam no sentido da polarização da eleição e conseguiram. Ciro Gomes foi queimado até a última chama com informações falsas postas pela midia esquerdista de que iria desistir da candidatura. E o seu partido e Simone Tebet aderiram a Lula no segundo turno. 

  Esse foi o caldo de cultura da campanha, em sí, desde o inicio polarizada entre Bolsonaro e Lula e venceu aquele que agregou politicamente mais valores, mais densidade eleitoral. Bolsonaro poderia ter feito um contra-ponto enorme com realizações, mas não as tinha em boas proproções e sua comunicação, desde o inicio do governo, era pifia.

 É só olhar no Estado da Bahia, em 4 anos, o que seu governo realizou. A FIOL que vem desde o governo Wagner/Lula/Dilma não foi concluida; a duplicação da BR-116 Norte mal chegou a Santa Bárbara e partir de Feira, 25 km; zero em hospitais; as escolas técnicas federais e a UFBA capegando; então, teve que se apegar a críticas a Lula, a corrupção, a roubalheira petista, mas Lula devolvendo os ataquees na mesma moeda. O último debate da Globo entre os dois foi isso: dois gladiadores um chamando o outro de ladrão e mentiroso.
 
  Portanto, se Bolsonaro tem que reclamar de alguém, tem que se olhar no espelho. (TF)