Colunistas / Política
Tasso Franco

O Movimento Negro apoia o PT na Bahia, mas não há recíproca politica

Historicamente, o PT nunca apoiou um negro a Prefeitura de Salvador
27/09/2014 às 09:47
 1. Não causou nenhuma surpresa no meio político o fato dando conta de que representantes de 25 entidades negras da Bahia produziram uma carta no último dia 24 de apoio à candidatura da presidente Dilma Rousseff (PT).  Naquela data, Vovô do Ilê, mencionou o apoio ao nome de Rui Costa, agora referendado no dia de hoje ao candidato petista ao governo. 

  2. Mas é evidente que, nem todos os representantes que assinaram o apoio a Dilma apoiam Rui e nem todos os membros dessas entidades, no sentido mais amplo, votarão exclusivamente em Dilma/Rui, uma vez que esse universo é muito abrangente e comporta outras preferências.

  3. Segundo o documento elaborado no último dia 24, a opção do MN baiano se baseou no fato de que o PT estaria ou é o partido (a partir de Lula/Dilma) mais próximo das conquistas que defendem. 

   4. De fato, ainda que a ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Politicas da Promoção da Igualdade Racial, seja pouco considerada no âmbito do governo, com orçamento mínimo, o mesmo acontecendo com a Sepromi na Bahia, existem algumas conquistas e algumas dessas entidades são beneficiárias de verbas da Petrobras (caso do Ilê) e de outras ações, como é o caso do Carnaval Ouro Negro.

   5. Daí, óbvio, que os movimentos negros se alinhem com Dilma/Rui e não com Marina/Lidice e Aécio/Paulo Souto o que é de direito e pleno do processo democrático. Acho até bom que isso aconteça, pois, é melhor ter posições claras do que não tê-las. Também foi correta a postura de João Jorge, do Olodum, este filiado ao PSB, de apoiar o documento em nome da entidade, uma vez que, não fala por sí, mas por um grupo.

   6. Vale também observar que, no plano político, pelo menos na Bahia o PT nunca abriu espaço para que um candidato negro de sua coligação fosse candidato a prefeito de Salvador, cidade que tem 14% de negros e 70% de euro-afrodescendentes com matrilínea predominante afro, portanto uma população majoritariamente negra. 

   7. Os dois nomes que já tentaram essa façanha, o deputado federal Luis Alberto e a ex-vereadora e agora candidata a deputada estadual Olivia Santana (PCdoB), nunca tiveram espaços no PT quer porque, a alegação da época, não teriam densidade eleitoral para eleger-se.

   8. É histórico que o PT não dá encosto aos aliados. Veja, no entanto, que desde o surgimento do partido, em 1982, esse espaço à majoritária foi vetado aos negros. É só lembrar da candidatura de Gil, pelo PMDB, que não prosperou. Venceu Fernando José. Depois veio Lidice da Mata (1992), então candidata pelo PSDB. Depois, Antonio Imbassahy (1996) derrotando Nelson Pelegrino; Imbassahy de novo (2000) derrotando Pelegrino; João Henrique (2004) derrotando Pelegrino; JH (2008) derrotando Pinheiro; ACM Neto (2012) derrotando Pelegrino.

   9. Ora, foram 4 derrotas de Pelegrino (PT): 16 anos e mais uma de Pinheiro (PT), 20 anos. Derrotas que todo meio político sabia que aconteceria. E por que não se abriu espaço para Luis Alberto, bem votado na capital, representante antigo da comunidade negra? E por que não abriram esse espaço para Olivia Santana? Pro próprio Vovô que andou se ensaiando? O máximo que permitiram foi Olivia na vice. Registre-se, ainda, que quando João Jorge tentou lançar sua candidatura a senador pelo PSB não conseguiu.

   10. Então, a comunidade e suas representações institucionais têm todo o direito de optarem por quem quiserem, mas, deveriam ter analisado essa questão de natureza politica para tomar uma decisão.

   11. A senadora Lidice da Mata, desta feita, se insurgiu contra o PT lançando sua candidatura a governadora, pois, embora tenha feito sua parte como candidata a vice de Pinheiro, quando deveria ser o inverso, e pertencer a base wagneriana sabia que jamais teria o apoio do PT para chegar a Ondina. 

   12. E, hoje, o que ela presencia: a máquina petista invadindo seus redutos no interior, cooptando seus prefeitos, a ponto da candidata ao Senado, Eliana Calmon, indignar-se e chamar o PSB de "partido vendido". A democracia, se supõe, exige respeito às bases partidárias menores, menos favorecidas e surgidas da luta, mas, parece que o PT desconhece esse princípio.