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TAPETE DA PAZ PERCORRE A AVENIDA E LANÇA PIPOCAS AOS CÉUS DA BAHIA

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| 19/02/2012 às 21:28
Milhares de homens no desfile do Filhos de Gandhy
Foto: Elói Corrêa

Com palavras de ordem como "Violência contra a mulher é crime" e "Respeito as mulheres", o tradicional afoxé Filhos de Gandhy espalhou mensagem de paz pelos quatro cantos da avenida neste domingo (19) no Carnaval de Salvador. O combate às diversas formas de violência contra o público feminino foi o tema deste ano no desfile do bloco.  


O afoxé saiu por volta das 15h30 do Largo do Pelourinho, mantendo o histórico ritual do "padê", ato religioso para abrir os caminhos e atrair a paz durante a folia. Nas imediações da Praça Castro Alves, a secretária de Políticas para as Mulheres, Vera Lúcia Barbosa, colocou um laço branco no braço do presidente do afoxé, Agnaldo Silva, como símbolo da luta pelo fim da violência contra as mulheres.


"Estamos num espaço exclusivamente masculino. Este ato significa muito. São os Filhos dizendo que a Bahia está unida pelo fim da violência. Não podemos admitir tantas mulheres sendo agredidas e mortos todos os dias", falou a secretária, primeira mulher a subir no trio do Gandhy, em toda a história do afoxé, que já ultrapassa seis décadas de fundado.

DE PAI PARA FILHO

Entre os muitos filhos de Gandhy, um dos integrantes em especial exibia no olhar uma mistura de orgulho e felicidade durante o trajeto, o segurança Luís Cláudio. Há 22 anos eles desfila com o grupo Filhos de Gandhy e afirma que este ano tem motivo para comemorar pois o filho, Ian Lobo, de 13 anos, fará o trajeto do Pelourinho ao Campo Grande em sua companhia. Segundo ele, o gosto e interesse pelo afoxé baiano foi herdado de seu pai que há 40 anos é associado dos Filhos Gandhy. "Para mim é uma felicidade estar aqui com ele [o filho] aqui hoje. Estou relembrando os momentos em que desfilava ao lado do meu pai. Só quem pertence a está família dos Filhos de Gandhy entende o que é isso" explica.

Assim como Luis Claudio, outro pai carregou os filhos para o desfile dos filhos de Gandhy. O cuidador Adriano Oliveira trouxe os dois filhos Tiago, de 10 anos, e Guilherme, de 6 anos, também estavam devidadamente caracterizados com as roupas e colares que são caracteristicas marcantes da indumentária dos filhos de Gandhy. " O Guilherme eu trago desde o primeiro ano de idade. Eu quero que eles entendam a importância da fé em nossas vidas e nada melhor do que desfilar com o afoxé do meu coração".

A vestimenta Gandhy
A roupa utilizada pelos Filhos de Gandhy durante o desfile no carnaval baiano é composta por um lençol branco que é costurado nas laterais e recebe uma pintura na parte da frente. Já o turbante utilizado pelo Afoxé é confeccionado na cabeça do associado, trabalho que geralmente é realizado por um artesão, e utiliza-se uma toalha de banho que depois de dobrada é colocada na cabeça e realizado o acabamento com linha e agulha. O toque final da indumentária fica por conta da aplicação de um broche redondo com uma pedra azul, uma referência aos marajás indianos, que é colocado no turbante. Como a vestimenta não dispensa os acessórios, a fantasia segue com um par de sandálias, meias, faixas e os famosos colocares que são comprados separadamente pelos associados e que geralmente são trocados por beijos na avenida.

filhos de gandhy (Foto: Jailson Barbosa/G1)filhos de gandhy (Foto: Jailson Barbosa/G1) História
O afoxé Filhos de Gandhy surgiu em 18 de fevereiro de 1949 quando estivadores do porto de Salvador estavam reunidos no Sindicato dos Estivadores conversando sobre a falta de trabalho nos portos e a política de arrocho salarial que era imposta na época.


Como consequencia dessa situação, o bloco carnavalesco "Comendo Coentro" ficou impossibilitado de desfilar naquele ano e Durval Marques da Silva, conhecido como "Vavá Madeira" sugeriu que colocassem um bloco na rua. Após a proposta ser aceita pelos colegas, naquele momento fundaram o bloco Filhos de Gandhy.

O nome Gandhy foi adotado porque os fundadores do bloco reconheciam a importância do líder hindu, Mahatma Gandhi, que havai sido assassinado um anos antes e sua morte causou uma grande repercussão. No primeiro dia desfilaram apenas 36 participantes e como o sindicato estava sob intervenção governamental os associados resolveram mudar a grafia do nome Gandi e inseriram as letras "dh" e substituítram o "i" por "y".

Em seus primeiros desfiles o bloco saiu cantando marchinas e algum tempo depois resolveu se dedicar especialmente ao ijexá. Como a maioria dos fundadores era praticante do Candomblé em vários terreiros da Bahia, o grupo adotou a cerimônia do padê que é realizada há vários anos no Largo do Pelourinho e pretende preservar a originalidade do grupo.

Desfile
Afoxé Filhos de Gandhy iniciou a participação no carnaval baiano em frente à casa de Jorge Amado em um ato Iorubá para abrir os caminhos, durante a cerimônia conhecida como Padê. Este ano, os filhos de Gandhy trazem para a avenida o tema "Gandhy no Reino dos Orixás pela Paz" e busca um equilibrio entre o ser humano, o ambiente e as divindades do Candomblé. Além disso, o Afoxé faz também uma campanha sobre a violência contra as mulheres.

Após a cerimõnia realizada no Pelourinho, o Afoxé arrasta milhares de Filhos de Gandhy a partir da Rua Chile, próximo ao Elevador Lacerda, em direção ao circuito do Campo Grande, onde desfilam no circuito Osmar neste domingo.

Entre as novidades trazidas pelos filhos de Gandhy neste ano está o fato de que pela primeira vez uma mulher foi autorizada a subir no trio. A convidada foi a secretária Vera Lúcia Barbosa, da Secretaria de Política Para as Mulheres. Durante o cortejo, Vera Lúcia amarrou uma fita no braço do atual presidente dos filhos de Gandhy, Agnaldo Silva, na qual estava escrito "Sou filho de Gandhy e respeito as mulheres". O afoxé também contou com a presença do secretário de Segurança Pública, Mauricio Barbosa, que estava em cima do trio.

Ainda durante o percurso, o presidente do Afoxé puxou um "parabéns pra você",  já que no último dia 18 de fevereiro o grupo completou 63 anos.