Condição dermatológica crônica afeta qualidade de vida e tem fatores de risco modificáveis, alerta
TEXTO &CIA , Salvador |
25/06/2025 às 19:39
Dr. Gleison Duarte
Foto: DIV
Uma doença que provoca nódulos dolorosos, abscessos e cicatrizes permanentes, mas que poucos conhecem. A hidradenite supurativa (HS) afeta silenciosamente milhares de brasileiros, sendo frequentemente confundida com "furúnculos recorrentes". No mês dedicado à conscientização sobre esta condição, especialistas alertam para a importância de conhecer seus principais fatores de risco: genética, obesidade e tabagismo.
"A hidradenite é uma doença dermatológica causada pela inflamação dos folículos pilosos, que gera lesões dolorosas, nódulos, que evoluem às vezes para abscessos e podem deixar cicatrizes e túneis abertos na pele", explica o Dr. Gleison Duarte, dermatologista da Clínica IBIS Imunoterapia. Segundo ele, qualquer área do corpo com folículos pode ser afetada, mas é mais comum nas axilas, virilhas, nádegas e região das mamas.
O componente genético é fundamental para o desenvolvimento da HS, mas não determina sozinho o aparecimento da doença. "É possível ter os genes e nunca manifestar a doença. A HS às vezes necessita de um gatilho para se manifestar", esclarece Dr. Duarte. Entre os principais gatilhos estão a puberdade, a obesidade e o tabagismo.
A relação entre obesidade e HS é particularmente complexa. "A obesidade tanto é fator de risco para HS e seu agravamento, como pode ser consequência: pacientes têm dificuldade em se exercitar pela dor, às vezes acompanhada de maus hábitos alimentares", pontua o especialista. A ansiedade, comum em pessoas com HS, frequentemente está associada à compulsão alimentar, criando um ciclo vicioso.
Para pacientes com sobrepeso ou obesidade, a normalização do IMC para valores abaixo de 25 pode trazer benefícios significativos. "Naqueles com obesidade visceral, com muita gordura abdominal, a normalização pode ser extremamente benéfica", afirma o médico.
O tabagismo representa outro fator de risco alarmante. Dados brasileiros identificaram que até 70% dos pacientes com HS são fumantes, número muito acima da população geral. A nicotina age diretamente na piora da condição: "Ela suprime o controle da flora bacteriana, facilitando a proliferação de biofilmes bacterianos nos folículos pilosos, acelera também a obstrução folicular e promove a produção local de substâncias inflamatórias", explica Dr. Duarte.
O mais preocupante é que esses três fatores – genética, obesidade e tabagismo – não atuam isoladamente. "Interagem entre si, amplificando a inflamação e a disfunção folicular característica da HS", alerta o dermatologista. "A obesidade, além do fator mecânico que leva a atrito, também é hoje vista como uma doença inflamatória crônica. Somado ao tabagismo, a inflamação é amplificada, o que pode levar ao desencadeamento ou exacerbação em indivíduo geneticamente predisposto."
Pacientes com maior risco de desenvolver formas graves da doença incluem obesos, pessoas com sobrepeso que consomem muitos alimentos ultraprocessados, alimentação com alto índice glicêmico e/ou grande ingestão de leite e derivados. "Início na infância pode ser um fator de mau prognóstico. Uso de anabolizantes também pode levar a formas graves", complementa o especialista.
O estresse também desempenha papel importante na HS, atuando tanto por vias neuroimunoendócrinas quanto pelo impacto psicossocial. Estratégias para seu controle, como psicoterapia, meditação e atividade física regular, são parte fundamental do tratamento.
Dr. Duarte enfatiza a importância de desmistificar a condição: "É fundamental entender que não se trata de uma doença infecciosa, uma série de furúnculos. É uma doença inflamatória crônica, progressiva em dois terços dos casos, necessitando de uma aliança entre paciente e toda equipe multidisciplinar". O objetivo é o controle clínico, prevenção de lesões, reparo cirúrgico quando necessário e, principalmente, mudanças no estilo de vida.
Neste Junho Roxo, mês de conscientização sobre a hidradenite supurativa, a informação surge como principal aliada para diagnóstico precoce e tratamento adequado de uma condição que, embora pouco conhecida, impacta profundamente a qualidade de vida de quem convive com ela.