Com Sinjorba informações. Sepultamento será quinta feira, 11, no Jardim da Saudade
Tasso Franco , Salvador |
05/11/2025 às 18:24
Manoel Canário
Foto: REP SINJORBA
Aos 91 anos e com a elegância e discrição que consagraram uma trajetória de quase meio século de atuação, o jornalista e radialista Manoel Canário – uma das vozes mais marcantes do rádio baiano – voou para outra dimensão na manhã desta quarta-feira (5 de novembro). Enfrentando uma série de problemas de saúde, já há algum tempo, ele estava internado há cerca de 15 dias, na Clínica Cardiopulmonar, na avenida Garibaldi, em Salvador. Seu último suspiro se deu ao lado da companheira Maria Pompeia, um longevo amor de 45 anos, e cercado de cuidados médicos. Ele deixa seis filhos e oito netos, frutos do relacionamento anterior, com Rilse Pereira Canário.
O Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) se associa a familiares e amigos neste momento de dor e destaca o imenso legado deixado por seu associado para as futuras gerações. “Manoel Canário é um ícone do radiojornalismo. Seu nome sempre foi e será sinônimo de valores como ética, dignidade, coerência e elegância”, diz a presidenta Fernanda Gama. A despedida está marcada para esta quinta-feira, no Cemitério Jardim da Saudade, em Brotas, a partir das 8h. A cerimônia de cremação acontece às 11h, de acordo com informações da família.
Nascido em 27 de novembro de 1933, em Senhor do Bonfim-BA, Canário transformou o talento sertanejo em vocação para a notícia, tornando-se uma das vozes mais respeitadas do rádio por mais de quatro décadas. Formado nos serviços de alto-falantes de sua cidade natal, atravessou gerações como símbolo de credibilidade e carisma, sendo lembrado por colegas como uma referência e um dos maiores nomes do radiojornalismo brasileiro.
Canário fez questão de registrar seu voto nas eleições do Sinjorba. Crédito: Divulgação
Mesmo aposentado e vivendo em uma casa de repouso, manteve o senso de pertencimento à categoria: em julho deste ano, fez questão de registrar seu voto nas eleições do Sinjorba, gesto que sintetiza a fidelidade ao ofício e à luta coletiva que marcaram sua trajetória — foi ele, afinal, o primeiro radialista a liderar uma greve da categoria, ainda nos anos 1960, quando presidia o sindicato da categoria.
Canário também foi personagem da edição 9 da Revista Memória da Imprensa, da Associação Bahiana da Imprensa, publicada em setembro, quando revisitou sua história profissional. Acompanhado de amigos e colegas, como o radialista Perfilino Neto e o então presidente da ABI, Ernesto Marques, definiu a longa trajetória com a simplicidade de quem sabia o lugar que ocupava: “Vivi o período de rádio mais gostoso do mundo”.
Da Rádio Sociedade de Salvador aos tempos na Rádio Cultura, passando pelas experiências em serviços de alto-falantes e na Rádio Tupi, construiu uma carreira em que a voz grave, segura e reconhecível se confundia com a própria ideia de radiojornalismo para gerações de ouvintes.
Além da atuação no rádio e como presidente do sindicato dos radialistas, ele se notabilizou como assessor do Banco Nacional de Habitação até a sua extinção e depois da Caixa Econômica Federal. E não via diferença entre setores público e privado: “Para mim não fazia diferença. Porque tudo na vida, vocês sabem, depende da postura como você se dirige ao superior.”
Com a partida de Manoel Canário, encerra-se um capítulo luminoso da história do rádio na Bahia. Fica o legado de um comunicador que fez da palavra falada um instrumento de serviço público, emoção e verdade — e que seguirá vivo nas memórias de quem cresceu reconhecendo, no timbre inconfundível da sua voz, a alma de uma época. Aos familiares, amigos, colegas de profissão e ouvintes, a solidariedade e o respeito por tudo o que ele representou.