Dom Geraldo Majella despede-se da Bahia contando a sua história de vida e abençoado a todos no primeiro LUNCH-in 2014 da CONSISTE.
Consiste , Salvador |
21/02/2014 às 21:38
Dom Geraldo com religiosos, amigos e admiradores
Foto: Consiste Eventos
Vejo aqui muitos amigos, muita gente de bastante mérito e dedicação aos outros. É vendo bons exemplos que nós passamos a imitar o certo. Os santos são aqueles que são colocados para objeto de imitação aos homens.
Nós não vivemos para nós, vivemos para os outros. Quanto mais vivemos para os outros, mais nos tornamos nós mesmos. Sempre que puder fazer o bem, não deixe de fazer.
Eu já estou com 80 anos, de maneira que espero ter trabalhado o suficiente e quero trabalhar sempre, até o último dia. Eu só posso dizer pra vocês para agradecer a Deus cada segundo de suas vidas, para termos a presença de deus por toda a vida.
Nasci no ano de 1933 em Juiz de Fora – MG. Desde cedo eu já rezava com a minha família e na paróquia onde fui batizado dia 11 de fevereiro de 1934. Em toda a minha vida, tive uma caminhada vocacional. Sempre me perguntavam sobre minhas expectativas para o futuro e eu sempre dizia que queria ser padre. Nunca quis outro desejo, nunca quis outro trabalho.
A segunda guerra mundial deixou uma lembrança na minha existência. Não tínhamos TV, mas ficávamos sabendo das notícias pelo rádio, notícias de morte e sofrimento. E tudo isso me impressionava e me deixava muito triste. Quando a guerra acabou eu entrei no seminário.
Eu e minha família nos mudamos para São Paulo e em 1948 passei a estudar em Pirapora do Bom Jesus. Tive contato com o Cardeal Mota, que acabou se tornando um grande pai para mim, nos queríamos muito bem. Quando fui nomeado Bispo, ele me escreveu uma carta de um pai para um filho.
Em Pirapora, participei de uma ordem de Cônicos Premonstratenses, que contribuíram para o meu crescimento e disciplina. Eles deixaram uma marca em minha vida. Eram severos, mas com muito respeito à personalidade de cada um. Mesmo quando éramos advertidos eles não permitiam cara fechada, não se falava mais no assunto e nos sentíamos bem.
Pirapora do Bom Jesus está como eu a deixei. A arquitetura foi conservada.
Em 31 de janeiro de 1951 iniciei o curso de filosofia no Seminário Central de Ipiranga – São Paulo. Iniciamos imediatamente o retiro espiritual de seis dias pregado por D. Antônio Maria Alves Siqueira. Éramos cerca de 30 estudantes. Foi uma etapa muito importante e deixou uma marca que eu não esqueço, seja a filosófica como a teológica.
Em 1958 fui ordenado sacerdote e nomeado diretor espiritual do Seminário de Vocações Tardias na Freguesia do Ó. Minha segunda nomeação foi para Diretor espiritual do Seminário Filosófico de São Paulo em Aparecido. Simultaneamente passei a ser Diretor espiritual do mesmo. A terceira nomeação foi para assumir o mesmo cargo em Ipiranga - São Paulo. Passei também a lecionar algumas matérias de Teologia.
Eu dava aulas religiosas para as vocações tardias. A ajuda nos estudos era mútua e o tempo de curso para entrar no seminário maior era menor do que as vocações normais. Porém todos, quando realizavam o vestibular para o seminário maior iam melhor do que os que faziam o seminário menor.
Eu sempre tive a preocupação de me dedicar à língua grega, tinha o objetivo de viajar para Roma e fazer uma especialização na parte bíblica.
Então quando completei 10 anos de Seminário fiz o pedido para estudar Teologia Litúrgica em Roma. Fiz o curso de Liturgia e o Doutoramento em Teologia com Especialização em Liturgia no Ateneu de Santo Anselmo.
Todos os domingos eu ajudava em uma Paróquia de Roma. E quando voltei ao Brasil trabalhei com o Cardeal Dom Agnelo Rossi: Coordenador da Pastoral Arquidiocesana. Meus hábitos não mudaram, de modo que sempre me preocupei a ter uma boa conduta pastoral. Chegava todos os dias as 7h da manhã e deixava a paróquia as 7h da noite.
Em 1978 fui nomeado Bispo de Toledo, em 1983 Arcebispo de Londrina e depois retornei a Roma. Trabalhar com o Papa João Paulo foi uma grande honra, me tornei bastante próximo dele, presenciei muitas reuniões e graças a Deus ainda o alcancei em saúde plena. Agora ele será canonizado e se Deus quiser, presenciarei a cerimônia.
Quando iria retornar ao Brasil fui me despedir do Papa João Paulo e o secretário dele, que é o seu sucessor na Polônia. E ele me disse que João Paulo não desejava que eu retornasse ao Brasil, mas a pedido de Dom Lucas e para me tornar seu sucessor, ele concederia meu retorno.
Procurei continuar o que o Cardeal Dom Lucas Moreira Neves tinha começado e desejava realizar. Criamos Paróquias, tive a graça de ordenar 72 sacerdotes. Realizamos e fomentamos muitos encontros e cursos de formação para os leigos. Fizemos também algumas obras com a colaboração efetiva de Monsenhor Ademar Dantas, aqui presente.
Penso que dei minha contribuição em todos os sentidos para que a primeira Diocese do Brasil pudesse avançar em muitos aspectos.
Agradeço a colaboração dos Sacerdotes, leigos e Bispos Auxiliares que contribuíram muito.
Deixo aqui uma lembrança do que eu fui e do que eu sou. Agora residirei em Londrina e ficarei mais perto de São Paulo e da minha família. Estou indo com muito prazer, mas não deixarei de retornar a Salvador. Quero muito bem a esta cidade, estou sempre a admirando, contemplando e pedindo a Deus que a abençoe.