Salvador

DEBATE: Entidades questionam projeto da Arena Castro Alves no CREA

Encontro aconteceu hoje: veja as opiniões e as informações do secretário Leonelli
Nadja Pacheco , Salvador | 27/02/2013 às 20:56
Arena Castro Alves consumiria R$25 milhões
Foto: A Tarde
Uma oportunidade para sugerir adequações físicas, sociais e econômicas para o projeto de requalificação do Centro Histórico de Salvador, conhecido também como Arena Castro Alves. Assim foi o encontro promovido pelo Fórum A Cidade Também é Nossa com o secretário Estadual de Turismo, Domingos Leoinelli,  técnicos de diferentes áreas e membros da sociedade civil, nesta quarta-feira (27),  no auditório do Crea-BA.

 Considerada ainda um estudo preliminar pelo Governo do Estado, a iniciativa orçada em R$ 25 milhões (R$ 10 milhões já empenhados pelo Governo Federal), prevê a requalificação do entorno da Praça Castro Alves, incluindo as ladeiras da Preguiça, da Montanha e da Conceição, além da Rua do Sodré.

Entre as intervenções anunciadas estão a melhoria da infraestrutura subterrânea, garantia da acessibilidade, tratamento das encostas, adequação da iluminação pública, calçadas e ruas, além da promoção do uso comercial dos espaços.

 De acordo com o secretário, a Arena Castro Alves, que prevê a capacidade para até cinco mil pessoas, não foi pensada isoladamente, mas a partir de um conjunto de intervenções. “Será construída para abrigar espetáculos teatrais, shows e manifestações artísticas e culturais, além de espaços para realização de oficinas culturais. Não vai interferir na utilização Praça Castro Alves. Será edificada em ruínas e em áreas degradadas. A arena representa apenas 20% do projeto”, explica.

 Leonelli afirmou que o fato de o estudo preliminar ter sido divulgado prematuramente pela imprensa inviabilizou a consulta, em primeira mão, de órgãos como o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) e Câmara de Vereadores. Ele informou que será solicitado o posicionamento das respectivas instituições para a redação final do Termo de Referência.

 Críticas e sugestões - Marcos Cândido, do projeto Axé, cobrou estudos que viabilizem intervenções que favoreçam a população da “cidade do meio” (da Gameleira ao Teleférico). O deputado estadual Capitão Tadeu Fernandes (PSB) sugeriu a inserção do esporte como meio de agregar as crianças da região e questionou o porquê de o governador Jaques Wagner (PT) ter dado declarações contrárias ao projeto para a imprensa. O secretário disse desconhecer esse último questionamento.

 Débora Nunes, do Movimento Vozes Salvador, criticou a articulação do Estado com os grandes investidores do setor imobiliário e também os benefícios feitos pelo poder público para a iniciativa privada. Ordep Serra, também do Movimento Vozes, sugeriu que fosse feito um mapeamento arqueológico da área.

 O idealizador do espaço de cinema Glauber Rocha, cineasta Cláudio Marques, não vê viabilidade na construção da arena. Ele disse que o projeto vai comprometer a vista da Baía de Todos os Santos pelo mar, prejudicará o verde e complicará a mobilidade na área. Sugere ainda a criação de um espaço que funcione cotidianamente.

 Fernando Guerreiro, gestor da Fundação Gregório de Matos, falou que os eventos realizados na Praça Castro Alves são nocivos para área e que já está providenciando uma forma de acabar com a realização de eventos no local. Sugeriu ao governo a substituição da Arena Castro Alves por uma biblioteca pública, já que segundo ele, Salvador dispõe de apenas duas unidades.

 Parlamentares divergem - O vereador Hilton Coelho (PSOL) chamou a atenção do secretário para que os interesses públicos se sobressaiam na elaboração dos projetos e disse que, no caso da arena, tudo foi feito de forma “atropelada” para que fossem garantidos os recursos. Ele cobrou mais planejamento e estudo baseado nas necessidades de quem vive na região.

 Na contramão do discurso, o vereador da base governista Arnando Lessa (PTelogiou a proposta da Secretaria de Turismo e afirmou que o município também tem a obrigação de abraçar o investimento fazendo o cadastramento social das famílias que moram nas redondezas, “para não repetir o que aconteceu no projeto de revitalização do Pelourinho, onde grandes empresários tiveram mais vantagens do que os moradores do local”.

 Outros questionamentos feitos referem-se à questão social e aos mecanismos que coíbam o aproveitamento pelo capital privado do recurso público. O uso da arena por vários públicos, a questão da mobilidade urbana, a importância de se consultar os conselhos municipais antes de executar o projeto, e a que tipo de segmento será dirigida a Arena, também foram assuntos debatidos.  Foram destacados ainda a falta de um órgão municipal que se responsabilize pelo licenciamento ambiental dos projetos em Salvador e o fechamento de grande parte das lojas do Pelourinho.


Atento a todas as colocações, o secretário Domingos Leonelli voltou a afirmar que o projeto está em fase de elaboração e que deverá seguir todos os trâmites legais até ser executado. “Comparo a iniciativa da Arena Castro Alves com o projeto de requalificação da Feira de São Joaquim. Investimos R$ 60 milhões naquela área e estamos lutando contra o aproveitamento da recuperação do espaço pelos grandes depósitos. Essa luta contra o capitalismo selvagem é permanente e bastante difícil de ser resolvida”, destaca.

 Controle social - O secretário ainda garantiu a realização de audiências públicas com a população da região para acolher as contribuições da comunidade. “Fomos atropelados pela opinião pública, sem mesmo ter o projeto finalizado. Não vi protesto semelhante ocorrido contra as obras do metrô, que consumiu muito mais dinheiro, e também sobre a ocupação absurda da Avenida Paralela, numa onda de especulação imobiliária nunca vista”, ressalta. Na primeira quinzena de março Leonelli deverá apresentar a proposta à Câmara de Vereadores.

 Para o presidente do Crea-BA, engenheiro mecânico Marco Amigo, a discussão em torno da Arena Castro Alves foi muito rica. “Fez com que a sociedade participasse do processo de construção da cidade que realmente deseja. Quando tivermos duas mil ou até cinco mil pessoas discutindo o futuro de Salvador com certeza alcançaremos o desenvolvimento almejado não só para capital, mas para todo o Estado”, finaliza.