Um projeto da Prefeitura de Salvador que pretende revitalizar parte do Centro Antigo da cidade tem mobilizado historiadores, jornalistas, artistas, frequentadores e moradores do bairro Dois de Julho nas redes sociais, incluindo o Facebook.
A intenção é questionar as consequências que a revitalização trará à comunidade - como o processo de gentrificação (constrangimento que leva determinado segmento social a sair do lugar porque não tem recursos) - e cobrar do poder municipal a participação da população, que, segundo os integrantes, está sendo adiada há três meses, desde que a prefeitura apresentou o projeto.
Denominado Santa Tereza - Humanização do Bairro, o projeto traça uma poligonal que envolve Aflitos, Praça Castro Alves, Rua Conceição da Praia, Dois de Julho e Avenida Contorno. Segundo a prefeitura, essas regiões, incluindo as ruas Chile e Carlos Gomes, passarão por reformas paisagísticas e urbanísticas, como iluminação, calçamento, criação de praças e espaços de convivência, modificação de fachadas e ordenamento dos engenhos publicitários.
O movimento Nosso Bairro é Dois de Julho, grupo do Facebook com mais de 700 integrantes, entre eles o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira, o ex-secretário de cultura do Estado Marcio Meirelles, a escritora e diretora teatral Aninha Franco, questiona a tentativa do projeto - em parceria com empreendimentos imobiliários e hoteleiros - de modificar o nome do Bairro Dois de Julho para Santa Tereza.
Entretanto, a preocupação principal gira em torno do que o grupo considera "fortes indícios de uma intervenção que assume, unilateralmente, interesses econômicos do empresariado em detrimento do interesse coletivo e das demandas do conjunto de moradores e usuários do bairro Dois de julho", afirmam as urbanistas Laila Mourard e Glória Figueiredo.
Para a historiadora e moradora do Dois de Julho Wlamira Albuquerque, a requalificação e a humanização, como têm sido propostas, vai implicar um processo de exclusão deliberada a favor de investimentos privados de alto padrão da rede hoteleira.
"Além de ser uma tentativa de apagar a memória do Dois de Julho, na medida em que se pretende criar um novo nome para se desfazer do estigma de decadência em que se encontra o local por irresponsabilidade do poder público, vai gerar a expulsão dos moradores, que não terão como arcar com custos de aluguéis e comércio mais caros", afirma Wlamira Albuquerque.
Polêmica - O secretário de Urbanismo, Habitação e Desenvolvimento Social do Município, Paulo Damasceno, afirma que não existe, oficialmente, a denominação da localidade do Dois de Julho como bairro, apesar de no IPTU da prefeitura o nome do bairro ser Dois de Julho, assim como nos registros dos Correios.
Ele diz que o nome Santa Tereza foi uma forma de homenagear o Convento Santa Tereza, existente na região, onde hoje está o Museu de Arte Sacra da Bahia.
Questionado sobre o porquê de não nomear o estudo com o nome que o bairro carrega desde sua criação (Dois de Julho), o secretário foi enfático: "Porque não quisemos. O fato é que a gente trabalha com um estudo, e o nome do estudo é Santa Tereza".
Consulta popular - A Secretaria de Desenvolvimento e Habitação do Município (Sedham) afirma em nota que "a denominação dada à área, bairro Santa Tereza, é provisória, adotada em função da necessidade de se estabelecer uma referência física para o conjunto de áreas contempladas pelo projeto: Dois de Julho, Areal de Baixo, Areal de Cima, Ladeira da Preguiça, ruas do Sodré, Faísca, Visconde de Mauá, Democrata e Museu Santa Tereza" .
A Sedham acrescenta que "a denominação definitiva será dada em momento posterior, quando do início da execução do projeto, através de consulta popular".(A Tarde)