Salvador

MANIFESTAÇÃO DE SURDOS EM FRENTE À CÂMARA NA BATIDA DO OLODUM

VIDE
| 26/09/2011 às 21:41

(Por Limiro Besnosik)

Os surdos comemoraram seu Dia Municipal e Nacional, na tarde desta segunda-feira, 26, com um som muito especial: a batida do Olodum. A manifestação aconteceu em frente à Câmara de Salvador, apesar do tempo chuvoso e da ausência de sessão, por falta de quórum (a chuva, tudo indica, afugentou os edis).

Mas, nem tudo foi festa. As entidades envolvidas na mobilização pediam a criação de escolas bilíngues para surdos na Bahia e a inserção da Língua Brasileira de Sinais (Libras) no Plano Nacional de Educação. Protestaram também contra a demora na adoção de políticas públicas de inclusão social e profissional por parte da Prefeitura da Capital.


De acordo com o vereador Gilmar Santiago (PT), presente ao ato desta segunda-feira, a lei que determina a implantação da Libras nas escolas municipais foi aprovada pela CMS e encontra-se em vigor, mas não vem sendo cumprida. "Além disso, os surdos encontram grandes dificuldades para ingressar no mercado de trabalho", queixou-se o petista.


Segundo Fabíola Barbosa, líder do movimento dos surdos, a comunidade não deseja ser segregada em escolas exclusivas para ela, como chegou a ser proposto pelo Ministério da Educação em relação ao Instituto Nacional de Educação para Surdos (Ines), pelo fato de ser uma bem sucedida instituição bilíngue.


Professora e pós-graduada em Libras, Fabíola destacou seu orgulho e dos companheiros em serem portadores de surdez, mas recordou o sofrimento dos pioneiros europeus, que foram proibidos de utilizar a linguagem de sinais, em 1880, ocasionando um atraso de um século no desenvolvimento social dessa parcela da população. "Não queremos que isso aconteça mais uma vez", disse, na "fala" traduzida pela intérprete Thalita Araújo.


A comunicação entre as pessoas do segmento e aquelas de audição normal é outra questão a ser solucionada. No último sábado foi criado o Sindicato dos Trabalhadores, Guias e Intérpretes de Língua de Sinais do Estado da Bahia (Sintils-BA), com algumas lutas definidas.


A primeira delas é a criação de um curso superior em Libras numa universidade estadual, pois os intérpretes existentes hoje na Bahia foram formados por uma universidade de Santa Catarina pelo método do ensino à distância. De acordo com Sheila Batista, presidente da nova entidade, o mercado precisa desse tipo de profissional, a exemplo da própria Secretaria Estadual de Educação, diante da necessidade de acolhimento de alunos com essa limitação de sentidos.


Gilmar Santiago cita outra demanda urgente: o curso de Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia (UFBA) está com 300 alunos pendentes da disciplina Libras para concluir o curso, por falta de professor na área.


Participaram da comemoração do Dia dos Surdos o Centro dos Surdos da Bahia (Cesba), Associação Educacional Sons no Silêncio (Aesos), Associação de Pais e Amigos de Deficientes Auditivos (Apada), Núcleo de Capacitação (Cas) Wilson Lins, Escola Vitor Soares e Centro de Estudos Culturais Linguísticos para Surdos (Ceclis), com representantes de Salvador, Madre de Deus, Santo Antonio de Jesus e Vitória da Conquista.