Com um adorno colorido na cabeça e um lenço na boca como se estivesse amordaçada, a professora andava de um lado para o outro, por todo salão de festa do clube, que foi transformado em auditório, "batendo" um pandeiro. Ela corria, parava, fazia gestos de espanto, se esbarrava pelo chão e em um determinado momento, quando a deputada Neusa Cadore (PT), usava da palavra, chegou a sentar-se à mesa de trabalho.
O público manteve o silêncio e se esforçou, assim como as pessoas que usaram da palavra, para entender o discurso, pois, o som provocado pelo pandeiro, superava a fala dos oradores.
Marinélia, também ensina na Escola Maria Dagmar de Miranda, ela lamentou que a rede estadual de educação não estivesse em greve. "O PT, um partido dos trabalhadores, como é admissível que trate os trabalhadores deste jeito?", questionou.
Doutoranda da UFBA, ela criticou a situação da educação no Estado e ironizou o trabalho da APLB/Sindicato e convocou os professores para reagirem. "Temos que aproveitar esse momento. Nós fazemos a educação pública em sala de aula todos os dias com os nossos alunos. Chega de servidão e escravidão", protestou.
Para a professora a categoria não deve acostumar com os prazos e regras construídas pelo Governo Estadual e citou: Aposentadoria (2 anos), Licença para Mestrado numa universidade pública, no dia de São Nunca e tem que conseguir um professor excedente para lhe substituir e exoneração tem que ser solicitada com um mês de antecedência.
"Ah, é melhor não pedir licença para fazer doutorado, pois dizem que não vai sair esse ano não", ironizou.
Em sua opinião, os professores que lecionam no interior deveriam entrar em greve, independentemente do Sindicato. "Ele só representou nossos interesses quando os carlistas estiveram no poder. Agora a APLB é wagnista (Risos). Falta prestarem contas de quantos cargos ocupam no novo governo", bateu.
Greve dos professores da UNEB
Marinélia e seus colegas professores da UNEB entraram em greve no dia 26 de abril e denunciam o descaso do governo com as universidades estaduais, pois estão faltando professores, salas de aula, funcionários e estrutura para o ensino, a pesquisa e a extensão.
Lembrou ainda da violência existente na universidade pública que prepara o cidadão, (pobre, negro, mulher amarela do sertão) para ascender socialmente e apagar da memória política dos graduados, mestres e doutores a vida de seus amigos de infância, seus vizinhos, seus pais, enfim, sua ancestralidade. "Será que a vida se resume a um carro novo, um apartamento em Salvador, ou a um tour pela Europa? Somos meros trabalhadores e consumidores", questionou.
Em nota, o movimento grevista lembra que o orçamento destinado a Universidade é insuficiente, apesar do Estado ser um dos mais ricos do país, os professores recebem os piores salários do Nordeste e não há políticas de assistência estudantil que garantam a permanência dos estudantes. Na rede social na internet, Marinelia postou a informação, segundo o coordenador-geral do sindicato, professor Rui Oliveira, o governo comprometeu a pagar, a partir de junho, o Piso Salarial Profissional Nacional onde o salário não chega ao valor aceito pelo STF e o MEC (R$1.187,97) e que a licença maternidade e licença prêmio foram indeferidas. "Vamos simplesmente nos contentar em ter novas chances?", mais uma vez questionou.
Na campanha salarial 2010, o governo demonstrou, mais uma vez, o seu descompromisso e intransigência com a categoria. Só um ano depois de protocolada a pauta de reivindicação, o governo abre as negociações. Embora não fosse a proposta ideal, o movimento docente mostrou-se flexível para viabilizar um acordo que recomporia, após quatro anos, somente uma parte das perdas salariais acumuladas em mais de 50%.
No entanto, no momento da assinatura do Acordo, o governo impôs uma condição que congelaria o salário dos professores até 2015. Em outras palavras, na reta final da campanha, o governo mantém a sua postura autoritária e impede o desfecho da negociação.
Para o vereador pelo município de Conceição do Coité, professor Danilo Ramos (PT), que assistiu calado todo protesto da professora Marinélia Souza, as duas partes, governo e grevistas, tem que ceder. Segundo ele, o governo tem feito uma boa gestão na área de educação, mais tem que retirar a clausula que limita a discussão dos reajustes nos próximos anos e há necessidade de acelerar a solução deste processo.
Por: Valdemí de Assis/ fotos: Raimundo Mascarenhas