Salvador

O CAOS DOS TRENS DO SUBÚRBIO SALVADOR QUE NINGUÉM CONSEGUE RESOLVER

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| 19/02/2011 às 07:40

A situação financeira e administrativa dos trens de Salvador foi o tema de audiência pública realizada na tarde de quinta-feira (17) no Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador. O encontro, presidido pelo vereador Giovanni Barreto (PT), reuniu autoridades políticas, representantes de associações comunitárias do Subúrbio Ferroviário e das categorias profissionais envolvidas na questão do transporte ferroviário da capital baiana.


A precariedade dos serviços prestados pela Companhia de Transporte de Salvador (CTS), empresa pública vinculada à Prefeitura, foi quase uma unanimidade entre os presentes. Barreto destacou que, mesmo com a passagem a um preço acessível (R$0,50), a população do Subúrbio tem migrado para o transporte rodoviário em razão dos atrasos, greves e da interdição, desde maio do ano passado, da ponte São João, que faz a ligação entre os bairros de Lobato e Plataforma. Recomendada pelo Ministério Público Federal (MPF) por conta dos danos causados à estrutura da ponte pela pesca predatória com explosivos, a interdição dificultou a circulação dos trens e prejudicou diversas comunidades da região. A conseqüência de tantos problemas é a subutilização do serviço: com capacidade para atender diariamente cerca de 30 mil pessoas, os trens de Salvador transportam somente 8 mil passageiros. "As pessoas estão fugindo do trem", observa Barreto.


Para Paulino Moura, coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores Ferroviários e Metroviários da Bahia (Sindiferro), o transporte sob trilhos em Salvador está "à beira do colapso" porque o Poder Executivo municipal não tem competência administrativa e capacidade financeira para gerir o sistema. "Nenhuma prefeitura do Brasil tem condições de arcar com os custos de um transporte ferroviário. Em todos os lugares ele é subsidiado. Em Salvador, o prejuízo é, em média, de R$ 1 milhão por mês".
 
Segundo ele, a solução para tantos transtornos, que vão desde os constantes atrasos no pagamento dos salários e tíquetes-alimentação dos ferroviários até o péssimo estado de conservação dos equipamentos, passa, necessariamente, pela devolução da gestão dos trens do subúrbio ao Governo Federal através da Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU), que administra o transporte ferroviário em várias capitais, como Recife, Natal, Maceió e Belo Horizonte.


Em Salvador, a CBTU foi responsável pela gestão dos trens até setembro de 2005, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva firmou um convênio com a Prefeitura que condicionava a liberação de recursos para a conclusão das obras do metrô à transferência da administração do sistema ferroviário ao Poder Executivo municipal. No contrato, também ficou estabelecido que a CTS receberia R$ 24 milhões para recuperar o trecho Calçada-Paripe, além de um montante de R$ 12 milhões para cobrir o déficit operacional do serviço.


Outro lado


Apesar de concordar com os ferroviários quanto ao sucateamento dos trens e à má qualidade dos serviços prestados pela CTS, Cláudio Silva, líder comunitário do bairro de Plataforma, condenou as repetidas greves da categoria. "As greves são abusivas. É preciso chamar a atenção do Ministério Público para impedir tantas paralisações. É um direito deles reivindicar, mas eles também precisam considerar o interesse da maioria", protestou.


Diretor de operação e manutenção da CTS, Hidelson Menezes admitiu as dificuldades financeiras para manter o sistema em funcionamento, mas rebateu as acusações do Sindiferro de que o órgão só continua existindo para empregar aliados do prefeito João Henrique (sem partido). De acordo com Menezes, a maior parte da população aprova o sistema ferroviário da capital baiana. "Quando os trens estão funcionando, as pessoas aprovam. O problema são as greves, que muitas vezes são realizadas sem levar em consideração a essencialidade do sistema", defende-se.

Na mesa da sessão, estiveram presentes ainda os vereadores Geraldo Júnior (PTN) e Marta Rodrigues (PT) e o deputado federal Nelson Pellegrino, ex-secretário estadual de Justiça. Os vereadores Téo Senna (PTC), Andrea Mendonça (DEM), Tia Eron (DEM), Alfredo Mangueira (PMDB), Orlando Palhinha (PSB) e Aladilce Souza (PCdoB) também compareceram à audiência e manifestaram apoio às reivindicações dos ferroviários e da população do Subúrbio Ferroviário.