O evento foi aberto pela professora Iraci Gama, coordenadora do Centro de Documentação e Memória de Alagoinhas, presidente da FIGAM e maior responsável pela conquista do projeto de recuperação da Estação. A professora falou um pouco sobre a história do local e sua importância material e simbólica para a cultura alagoinhense.
Com sua "visão ampla e aguçada para ver mais longe", como classificou Nilson Mendes, a professora vem lutando há anos pela recuperação arquitetônica da Estação e pela manutenção do acervo da FIGAM, que guarda uma parte significativa da história não só da ferrovia, mas de todo município, em um acervo composto por jornais, revistas, painés, livros, esculturas, dentre outros documentos.
Após Iraci, foi a vez de Litho Silva falar do seu trabalho e sobre a cidade que considera "um celeiro de artistas" e também sobre a sua satisfação na doação das obras que terá verba voltada para o manutenção e o fomento da cultura na cidade.
"Talvez as pessoas que passaram por essa terra, sobretudo na gestão dela, não tenham olhado com carinho para ela como nós olhamos", disse o prefeito Paulo Cezar, que agradeceu o empenho dos envolvidos na recuperação do patrimônio, salientando a luta de sua gestão para a concretização desta conquista, sobretudo na figura da secretária Sônia Fontes, de Infraestrutura, também responsável pela inserção de Alagoinhas na lista das cidades históricas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN.
Anteprojeto de Restauração da Estação
Com o abandono das linhas férreas brasileiras em detrimento do transporte rodoviário, a Estação São Francisco, assim como tantas outras, caiu em desuso e consequentemente, se viu abandonada por muitos anos, acelerando deste modo o seu processo de degradação e parcial arruinamento. A Estação Férrea de Alagoinhas é um importante registro da arquitetura ferroviária inglesa implantada no Brasil a partir da segunda metade do século 19 e se destaca por sua bela arquitetura, repleta de detalhes, formando uma tipologia muito peculiar.
O Governo do Estado então, em 2002, promoveu o tombamento da Estação e ela passou a ficar sob a proteção do IPAC, o que se configurou como passo inicial para a sua preservação como elemento arquitetônico de valor histórico e cultural. Em novembro de 2007 aconteceu a primeira visita do arquiteto Roberto Leal ao local, como apresentado pelo mesmo através de slides durante o evento. O arquiteto mostrou aos presentes fotografias do estado anterior à primeira intervenção do espaço, realizada em 2008, quando foi efetuada uma limpeza geral e a remoção da estrutura metálica das marquises que compõem a Estação. Todo material foi então armazenado e catalogado, sempre pensando na reutilização destes materiais numa restauração posterior.
Nesta intervenção, realizada pelo IPAC, foram também fechados os vãos que davam acesso aos prédios da Estação, devido ao estado de putrefação em que se encontravam os espaços e o uso indevido por mendigos e usuários de drogas, além da recomposição das alvenarias e outros serviços, um trabalho emergencial orçado em pouco mais de R$ 200 mil.
Já em abril de 2010, durante a gestão do prefeito Paulo Cezar e contando com o apoio da secretária Sônia Fontes, a idéia da restauração completa da Estação ganhou força, sendo realizada junto à comunidade, principalmente os moradores mais próximos, residentes no entorno do local, uma reunião onde foram discutidos os principais anseios e reivindicações sobre o uso da Estação. Entre as sugestões estavam a construção de um memorial dos funcionários da linha férrea, além da construção de espaços de fruição cultural, como um café teatro, dentre outros. A luta continuou e em setembro deste ano, veio a conquista do edital de apoio à elaboração do projeto de preservação de bens imóveis tombados pelo Estado e o Projeto Cultural de Restauração da Estação Férrea São Francisco, apresentado pela FIGAM, foi selecionado.
A restauração, de acordo com o arquiteto, corresponde à totalidade do imóvel, seguindo critérios internacionais de restauro, buscando valorizar suas características peculiares e adaptando-as para uso contemporâneo. A Estação deverá ter, portanto, o seu uso dinamizado, permitindo a sua conservação futura, servindo de espaço de preservação e memória da cidade de Alagoinhas, pólo de criação da herança cultural regional cabocla, de matriz indígena tupinambá.
O projeto prevê a criação de espaços para guardar o acervo de jornais, revistas e demais documentos, sala com climatização adequada para os livros raros, espaço com 16 computadores para acesso dos documentos que serão digitalizados, acesso para deficientes, com rampas e elevados, salas administrativas, auditório multiuso com pavimento nivelado e cadeiras removíveis, café cultural, café teatro, espaço para venda de artesanatos e quitutes regionais, toda recomposição volumétrica dos prédios e reativação da linha de passageiros.
"O projeto torna tudo mais palpável, onde os investidores privados ou públicos terão a segurança de que o dinheiro será aplicado naquilo que se propõem. Concluído o projeto, teremos um valor exato para se tomar providências para se iniciar a obra ao longo de 2011. O valor estimado está entre R$11 milhões e meio, envolvendo toda a recuperação física da Estação. Serão mantidas todas as características originais, com exceção dos telhados que já caíram e também por uma questão ecológica, serão utilizados materiais metálicos e tubos de perfuração de petróleo já inutilizados e o telhado terá uma iluminação natural", explica Renato.