Para o promotor de Justiça Gustavo Fantini, do Ministério Público de Contagem (MG), à exceção do motorista Flavio Caetano de Araújo, todos os outros oito réus que respondem pela morte de Eliza Silva Samudio sabiam que ela seria morta enquanto esteve sob cárcere privado na casa do goleiro Bruno no Rio de Janeiro e no sítio dele em Esmeraldas. Isso inclui a mulher de Bruno e sua ex-amante Fernanda Gomes Castro, que falou por telefone com Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, 11 vezes no dia que o MP afirma que Eliza foi executada.
Nas alegações finais que encaminhou à juíza Marixa Fabiane Lopes, na última sexta-feira, Fantini afirmou que cada envolvido teve uma tarefa na trama. Bruno seria o mandante do crime, motivado pelo fato de não reconhecer o filho de Eliza como dele.
O amigo Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, foi quem teria planejado o crime e contratado o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, apontado pelo MP e polícia como quem a estrangulou e a esquartejou. Para colocar o plano em prática, "cooptaram" o adolescente J, 17 anos, primo de Bruno.
Os amigos Wemerson Marques de Souza e Elenilson Vítor da Silva, além do outro primo do goleiro, Sérgio Rosa Sales, seriam os responsáveis por vigiar Eliza no cativeiro.
No documento, que pede que os oito sejam mandados à júri popular, chama a atenção o fato que, para o promotor de Justiça, a mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, e a ex-amante Fernanda Gomes Castro também tinham ciência que Eliza seria morta, embora tenham alegado ao longo do processo só terem sido chamadas para cuidar do filho de Eliza, na época com 4 meses. Por isso concordaram e contribuíram para o desfecho do crime.
Para Fantini, Dayanne tomou conhecimento que Eliza seria morta depois que a ex-amante de Bruno estava no sítio em Esmeraldas e mesmo assim "aderiu sua vontade à dos denunciados mentores da morte da vítima."
"Dayanne tinha direto interesse na morte de Eliza. Mais: quando a polícia estava em busca do filho de Eliza, o pequeno Bruno Samudio, Dayanne foi a responsável pela ocultação da criança. Essa sua conduta tinha um único objetivo: apagar as provas do crime de homicídio que haviam cometido!", disse Fantini.
O representante do MP afirmou também que "não há réstia de dúvida de que Fernanda também teve participação direta nos fatos". Nas alegações narrou que Fernanda sabia desde o início que Eliza teria sido sequestrada para ser levada a Minas Gerais. A função dela, de acordo com Fantini, inicialmente era tomar conta do filho de Eliza no Rio de Janeiro, mas com o passar dos dias, "Fernanda acompanhava a distância o homicídio de Eliza."
"Incrível o argumento trazido por ela de que no momento em que chegou na casa de Bruno somente se preocupou com o bebê de Eliza. Fernanda manteve consigo o bebê durante toda a noite do dia 4 para o dia 5 de junho. Um bebê de apenas 4 meses, durante toda uma noite, sem se aproximar da mãe. E ainda tem a denunciada Fernanda a coragem irônica de afirmar que diante de seu apurado instinto materno somente se preocupou com o bebê... Se estava preocupada com o bebê, porque não se dedicou a dar a Bruno Samudio aquilo que um bebê em sua mais tenra idade mais gosta e precisa, sua mãe?"
"Fernanda, na companhia de Bruno, Macarrão e J. trouxe Eliza para Minas Gerais. Aqui ajudou a manter as vítimas no cativeiro no período em que permaneceu no sítio. Demais disso, há uma prova forte de sua participação no homicídio. Durante todo o período que Eliza esteve sob o domínio dos denunciados, Fernanda manteve vários contatos telefônicos com o denunciado Luiz Henrique (Macarrão). Na tarde do dia da morte de Eliza, Fernanda fez vários contatos telefônicos (onze) com Luiz Henrique de forma intensa. Nesse dia Fernanda não estava em Minas Gerais, mas sim no Rio de Janeiro. A explicação para isso é óbvia: Fernanda acompanhava a distância o homicídio de Eliza," afirmou.
Gustavo Fantini concluiu ainda que somente para Flavio Caetano de Araújo, o Flavinho, não há indícios concretos de participação no crime. Por isso solicitou que ele não seja pronunciado.
Defesa
Nesta sexta-feira termina o prazo para que os advogados de defesa dos réus apresentem as alegações finais. A partir daí a juíza Marixa Fabiane Lopes tem até o dia 10 de dezembro para decidir se acata ou não o pedido do MP.
O caso
Eliza desapareceu no dia 4 de junho, quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano passado, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas dizendo que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, de 4 meses, estava lá. A atual mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno responderá como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação da atual amante do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.