Decisão do desembargador presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, Olindo Herculano de Menezes, suspendeu temporariamente a derrubada das barracas na Praia de Ipitanga, em resposta a recurso apresentado pela Prefeitura de Lauro de Freitas. O desembargador vai solicitar informações à 13ª Vara da Justiça Federal, que ordenou a demolição, para então julgar o mérito.
A decisão foi recebida com emoção e alívio pelos barraqueiros, que desde a madrugada desta segunda-feira se revezavam nas barricadas armadas ao longo da Orla de Ipitanga para impedir a entrada dos tratores. "Hoje vamos poder dormir mais tranqüilos. Mas isso não significa que vamos baixar a guarda", comemorou a prefeita Moema Gramacho, convocando todos a voltarem a Ipitanga na manhã desta quarta-feira, para nova mobilização.
Buscando reforçar a decisão do TRF, a Procuradoria Geral de Lauro de Freitas vai dar entrada numa petição para juntar ao processo documento em que a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) atesta que o trecho da orla atingida pela decisão da 13ª Vara é administrado pela Prefeitura de Lauro de Freitas. A área foi incorporada a Salvador em 1969 pela Lei n° 2.713 que redefiniu "de maneira imprecisa", segundo a SEI, os limites entre os municípios, suscitando "questionamentos".
Na orla de Ipitanga estão instaladas 63 barracas, 32 delas no lado de Salvador, que vai até o kartódromo. Nos dois últimos dias, os proprietários e funcionários tiraram equipamentos, telhas e todo o material que foi possível salvar, com apoio de servidores e caminhões da Secretaria Municipal de Serviços Públicos.
O dia foi tenso. A expectativa da chegada, a qualquer momento, do comboio de policiais e tratores deixava os barraqueiros com nervos à flor da pele. Cansados da vigília, eles montaram uma grande barricada na divisa entre as praias do Flamengo e Ipitanga. A prefeita Moema Gramacho passou todo o dia no local, acompanhada de secretários e vereadores de Salvador e de Lauro de Freitas, à espera da decisão do TRF, que só chegou á noite.
"Vencemos uma batalha, não ganhamos a guerra. Por isso é preciso manter a vigilância, continuar mobilizados", ressaltou Moema após anunciar a decisão do desembargador Olindo Herculano. Emocionados, barraqueiros e moradores fizeram uma oração. Muitos choravam de emoção e cansaço. "Vamos continuar aqui nas barracas. Só sairemos depois da decisão definitiva", afirma Carlos Fritsch, da Barraca Tchê.