Depois de muita resistência, barraqueiros da praia de Ipitanga conseguiram o adiamento da derrubada das 32 barracas e ganharam mais um dia para retirada dos pertences e desmontagem da estrutura. O prazo foi estendido até amanhã (24) graças à prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, que conseguiu negociar com o delegado da Polícia Federal que estava à frente da operação, Val Goulart.
Com o apoio da prefeitura de Lauro de Freitas, que cedeu caminhões, pessoal e espaço para guardar o material, os barraqueiros passaram o resto do dia tentando salvar tudo que é possível. Embora tenha protelado, o delegado garante que voltará nesta terça-feira (24) para finalizar o trabalho que já foi concluído nas praias do Flamengo e Patamares.
Enquanto os barraqueiros protestavam na orla, a Procuradoria do município e advogados dos comerciantes buscavam na Justiça o adiamento. A procuradora do município de Lauro de Freitas, Vera Virgens, entrou na madrugada dessa segunda-feira(23) com um pedido de suspensão de execução de liminar, encaminhado ao presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região e aguarda retorno. "Temos esperança que ele julgue o mais rápido possível para que possamos reverter a situação", declarou. Na ação cautelar a Prefeitura alega questões de ordem pública, ameaça à segurança e à economia.
PROTESTO
Era madrugada, 4h30, quando os barraqueiros fizeram o primeiro protesto na orla de Ipitanga, interditando o trânsito na via principal. A expectativa da chegado do comboio formado por funcionários da Prefeitura de Salvador, com suporte das Polícias Federal e Militar ampliava a tensão. Muitos barraqueiros haviam dormido nos seus estabelecimentos temendo uma investida à noite. Deitados na pista, exaustos, os barraqueiros bloquearam as entradas da orla, queimaram pneus, palha e montaram barricadas com pedaços de mesas e cadeiras, mas foram surpreendidos com a chegada do comboio pela praia.
O comando da PF na operação aceitou conversar com a prefeita, que expôs a preocupação com a segurança dos barraqueiros diante dos ânimos acirrados. "Não é justo que a Prefeitura de Lauro de Freitas cuide da área e a prefeitura de Salvador venha derrubar as barracas", afirmou pedindo prazo. O delegado Val Goulart acabou cedendo, reafirmando, porém, que voltaria na manhã seguinte para terminar a derrubada.
"A Prefeitura de Salvador nunca investiu um centavo nessa região e agora quer destruir nosso patrimônio. Dependemos disso aqui para sobreviver", esbravejou o barraqueiro Antônio Anunciação que trabalha na região há mais de duas décadas. No mapa, parte das barracas de Ipitanga está dentro dos limites territoriais de Salvador, mas há 48 anos é o poder público de Lauro de Freitas que administra a área, da pavimentação ao recolhimento diário do lixo.
Solidária a causa. Moema ressaltou que a prefeitura continuará dando apoio aos barraqueiros. A prefeita garantiu ainda que, caso a demolição se concretize, irá discutir a situação das barracas uma a uma dentro do pré-projeto que foi elaborado pela prefeitura em 2008. O pré-projeto chegou a ser entregue ao juiz da 13ª Vara Cívil Federal, Carlos d'Ávila Teixeira, mas não foi avaliado nem citado no processo que determina a demolição. Moradores de Ipitanga, secretários municipais e vereadores de Lauro de Freitas e de Salvador deram apoio aos barraqueiros hoje e prometem voltar amanhã para reforçar o protesto contra a derrubada.