A noite foi do samba. No palco e na praça onde uma multidão comemorou os 48 anos de emancipação de Lauro de Freitas. Principal atração, o sambista Jorge Aragão agradou ao público com um espetáculo caprichado. O show foi aberto em tom de clássico, com a Ária cantilena n° 1 das bachianas brasileiras, de Vila-Lobos. Do samba miudinho, na ponta do pé, o público esqueceu a chuva e mostrou que sabe mexer os quadriz quando Jorge Aragão atacou de "Moleque atrevido".
Com 30 anos de carreira e 20 álbuns, Jorge Aragão fez um passeio no tempo cantando seus maiores sucessos. O público que se espremia na fila do gargarejo, tentava furar o repertório com pedidos, sempre atendidos. À vontade no palco, o sambista provocava o público: "Tá chovendo aí?", para ouvir um sonoro "não" dos fãs encharcados até a alma.
Na Praça da Matriz lotada, famílias, casais e jovens da cidade e de municípios vizinhos sambavam. Osvaldo Farias Junior, de Salvador, revelava a paixão pelo samba. "Um espetáculo desse não dá pra perder, mesmo com essa chuva".
Dona Terezinha, os três filhos e namoradas faziam uma roda de samba no meio da praça. Moradora de Itinga, vendedora ambulante, ela agradecia à prefeita Moema Gramacho a festa de emancipação que todo ano traz uma grande atração para a praça.
"No primeiro ano foi o Cidade Negra, depois Alcione, que eu adoro, No ano passado foi Daniela Mercury e hoje Jorge Aragão de quem sou fã. Só assim pra ver esses artistas sem pagar nada", afirmava. Para o filho Ednaldo, o mais importante é a tranqüilidade para brincar. "Olha quanta criança no meio dessa multidão e tudo na paz".
CORAL
De repente, uma pausa. Jorge pede licença à prefeita Moema, que o assiste do palco, para fazer uma homenagem à cidade. Os primeiros acordes saem do cavaquinho de Marcão, do Grupo Raízes que acompanha o sambista. O público faz um silêncio reverente para ouvir a Ave Maria de Gounod. Aos poucos vai se elevando na praça um coral de vozes, com direito até a um regente improvisado no meio do público. "Mais uma pouco e vai clarear/nos encontraremos outra vez", vai se despedindo Jorge Aragão depois de quase duas horas de show. Antes de sair do palco ainda canta "Coisinha do pai".
A prefeita Moema Gramacho faz um balanço da festa. "Fico muito feliz em poder proporcionar à comunidade espetáculos como este. A cada ano é um estilo diferente, mas sempre em alto nível, retrato da diversidade do nosso povo. É cultura como foi o cortejo cívico pela manhã, como é o resgate de manifestações populares que a gestão tem feito no município". Antes do sambista, se apresentaram na praça os grupos Fora da Mídia, Zimbabue, Zumbahia e Teksaw.
Foi um dia inteiro de comemorações, abertas pela manhã com missa solene na secular Igreja Matriz de Santo Amaro de Ipitanga, seguida do Cortejo Cívico Cultural que reuniu mais de 70 escolas e grupos de dança, de capoeira, samba de roda, a escolinha de futebol do Bahia, karatecas e judocas dos programas Segundo Tempo e Escola Aberta, alunos das três creches municipais, a Orquestra de Berimbaus, a Banda Marcial do Corpo de Bombeiros e fanfarras, assistidas por uma multidão nos mais de 2 Km de ruas por onde o desfile passou.