Salvador

MORRE POETA DO POUSO DA PALAVRA DAMÁRIO CRUZ, UM APAIXONADO DAS LETRAS

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| 21/05/2010 às 10:21
Sepultamento de Damário será em Cachoeira, às 15 horas
Foto: ABRIL
 O poeta e jornalista Damário DaCruz morreu na madrugada desta sexta-feira, em decorrência de um câncer de pulmão. O corpo será velado no prédio da Câmara de Vereadores, em Cachoeira, onde assentou o café literário Pouso da Palavra.

Ele começou a escrever poesia aos 15 anos; lá se vão 40.

É autor do poema Todo Risco, que está na 17ª edição. Foi balconista, líder estudantil, repórter e sindicalista. A fotografia e a cidade de Cachoeira, no Recôncavo baiano, são suas outras paixões.


A FAMILIA

É com uma grande dor nos nossos corações que mando esse email para informar
que nosso Dam descansou.

Ele que sempre foi o mestre em usar palavras simples para retratar
sentimentos intensos, nos deixa sem palavras para falar nesse momento tão
triste.

Nós da família agradecemos o apoio e o carinho de todos nesses dias
difíceis, mas, principalmente, agradecemos a presença de vcs na vida de
Damário, pois sabemos o quanto ele prezava os amigos.

Recebi este email de um amigo em comum e por isso resolvi mandar noticias a
todos, pois sei o quanto deve estar sendo ainda mais difícil pra tia Gal,
Minnie e Dimi.

Ele está no Jardim da Saudade, em Brotas, até as 11h da manhã. De lá segue
para Cachoeira, onde o enterro será às 15h.

Como diria tio Damário, “Não nos ensinaram o caminho das nuvens”, mas é hora
de seguir.

Márcia Liguori 

ENTREVISTA A MUITO

Qual é sua lembrança mais remota de querer ser escritor?
Quando decidi dormir longe de todos. Tinha 15 anos e inventei um quarto para mim no porão da casa paterna.

Qual é o tema que acaba invadindo os seus poemas, mesmo quando você não quer? Todos os temas invadem a poesia. Mas, o efêmero, das coisas e dos sentimentos, anda sempre me cercando. Adoro relâmpagos e palavras rápidas no ouvido.

Você foi para Cachoeira atrás de que? Da pequena e forte aldeia que universaliza o poeta.

Você às vezes tem a impressão de que tudo o que era importante já foi escrito? Se sim, quem foi que já disse tudo? Ninguém é capaz de dizer tudo sozinho. Ninguém é grande sozinho. Somos uma mistura do muito que muitos nos dizem. Por incrível que possa parecer, acredito que a grande vedete deste milênio será a PALAVRA  publicada em outros suportes

Escritor é um ser mais angustiado que as outras pessoas? Poeta mais ainda? Conheço gente bem mais angustiada fora da literatura do que dentro dela. A minha vida e a minha poesia estão distante disto. Elas estão a serviço, inclusive, da não-agonia humana.

Página em branco te dá pesadelo? Ao contrário. Produz o sonho das imensas possibilidades.

Qual foi o caminho que você evitou por medo, como diz em "Todo Risco"? O caminho da dedicação exclusiva à minha obra poética e fotográfica como muitos fizeram. Mas, obtive belos ganhos, por navegar em  águas distintas.

Literatura é mais conforto ou agonia? As duas coisas na medida de cada um. Literatura substitui certas brincadeiras proibidas após a infância. Literatura é liberdade perseverante. E a Liberdade,às vezes,  também doi.

Dê uma definição poética para a poesia. De vez em quando me perguntam para que serve a poesia. A minha resposta tem sido dada com duas perguntas e duas respostas: Para que serve a poesia ?, para fazer o homem. Para que serve o homem ?, para fazer poesia.

Livros publicados: Vela branca; Todo risco, o ofício da paixão; e Segredo das pipas. Livros inéditos: Memorial das ternuras e Memorial dos ventos.