O envolvimento dos mais variados segmentos da sociedade civil é um dos maiores trunfos no enfrentamento da dengue, uma vez que a eliminação dos focos do mosquito transmissor, o Aedes aegypti, é a única forma de prevenir a doença, que pode matar e atinge, atualmente, altos níveis de incidência na Bahia, com o registro, este ano, de 29 óbitos confirmados.
Outras vertentes religiosas, como a Igreja Universal do Reino de Deus e entidades ligadas a cultos de origem africana também vêm sendo mobilizadas pela Sesab.
CRIANÇAS COMO ALVO
a tendência atual da epidemia dengue no Brasil é atingir principalmente as crianças. A afirmativa é do médico infectologista Kleber´Luz, do Hospital Infantil Varela Santiago, no Rio Grande do Norte, que participou, na manhã ontem (30), do "Seminário de Infectologia: Dengue", realizado no auditório do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS). Com vasta experiência no atendimento pediátrico, o médico explicou que a alta taxa de letalidade pela doença que vem sendo observada atualmente - na Bahia, 60% dos óbitos registrados este ano foram em menores de 15 anos - deve-se a alguns fatores, entre eles a falta de uma abordagem adequada a estes pacientes e a limitação na oferta de serviços de saúde.
"É importante também chamar atenção para a grande preocupação que existe com a febre nas crianças, quando a dengue hemorrágica se caracteriza pela ausência de febre", enfatizou Kleber Luz, que durante o seminário proferiu palestras sobre os temas "Manejo clínico da dengue" e "Manejo clínico do paciente pediátrico com dengue". Segundo o infectologista, o grande número de casos graves de dengue e óbitos em menores de 15 anos vem ocorrendo "pelo esgotamento da doença nos adultos, ou seja, como a epidemia acontece há mais de 15 anos, os adultos já tiveram a doença uma ou mais vezes e não devem adoecer novamente, enquanto os jovens continuam suscetíveis".
O seminário sobre dengue, que integrou a programação alusiva aos 30 anos de fundação do Hospital Geral Roberto Santos, reuniu médicos, médicos residentes, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes de saúde. O evento, coordenado pelo Serviço de Infectologia e Comissão de Controle de Infecção Hospitalar da unidade, foi aberto pela infectologista Nanci Silva, do HGRS, que falou sobre a importância da capacitação dos profissionais de saúde para o manejo adequado da doença. O médico Paulo Barbosa, diretor do hospital, ressaltou que o seminário foi programado em um momento muito oportuno, "quando o controle da dengue é um desafio para todos aqueles que atuam na área de saúde".
SITUAÇÃO ATUAL
Durante palestra sobre a situação epidemiológica da dengue na Bahia, a superintendente de Vigilância e Proteção da Saúde da Secretaria da Saúde do Estado, Lorene Pinto, disse que existem três tipos de vírus da dengue circulando no Brasil (os tipos 1, 2 e 3), com uma grande possibilidade de entrada do tipo 4, que já circula na Venezuela. A superintendente ressaltou ainda o país convive com a doença desde 1995 e que desde 1996 foram notificados casos graves a doença. De acordo com Lorene Pinto, a Bahia tem registrados este ano, até agora, cerca de 30 mil casos de dengue clássica, e 99% dos municípios baianos têm a presença do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti.
Dados divulgados hoje pela Sesab mostram a confirmação de 248 casos graves de dengue, com 29 óbitos. Jequié e Itabuna concentram o maior número de casos e 60% dos óbitos foram em menores de 15 anos. Lorene Pinto alertou para a taxa média de letalidade pela doença no estado, que está em torno de 12%, taxa considerada alta. Outro aspecto enfatizado pela superintendente da Sesab foi a necessidade de todos se unirem no combate à dengue. "O poder público não substitui a ação dos indivíduos, que devem fazer a sua parte, eliminando os criadouros do mosquito", garantiu Lorene Pinto, acrescentando que a grande maioria dos criadouros está nos domicílios.