Foram na verdade os antigos navegadores que desenvolveram o marketing e mais importante ainda: a globalização. A Pinta, a Niña e a Santa Maria foram o passo inicial dos satélites, da internet e do celular mundial. Tanto que poucos anos depois o fidalgo português Pedro Álvares Cabral sem muita experiência como navegador, desembarcava em Porto Seguro dando por descoberta e inaugurada a maior filial do reino de Portugal e Algarves: o Brasil.
O mercado não era lá grande coisa, é verdade. Os habitantes locais tinham tudo fácil: frutas, raízes, peixes, caça, temperatura adequada, fontes murmurantes, água fresca à vontade, mar azul, muita sombra, mandioca pra fazer cauim e sexo sem protocolos. Não estavam portanto interessados em espartilhos ou perucas. Pelados estavam, pelados permaneceram e deixaram a equipe de Cabral levar o que bem entendesse, recebendo em troca curiosos espelhinhos e miçangas.
Mas o potencial era enorme. Tratava-se de uma terra rica, ocupada por um universo de consumidores virgens, curiosos e ávidos por novidades úteis para eles, além de -mais importante de tudo- possuir um elevadíssimo poder aquisitivo em bens para permuta. Assim quando há 460 anos atrás Thomé de Souza e outros representantes da matriz voltaram para a inauguração oficial, já em Salvador, tinham planos bem mais ambiciosos.
Aí a concorrência também já estava de olho, rolou muita disputa com outras nações invasoras pelo novo território mercadológico e até hoje o nordeste brasileiro anda cheio de gente loira e de olhos verdes.
Claro que se Cabral e Thomé chegassem agora aplicariam técnicas de marketing mais avançadas mas os princípios e resultados seriam semelhantes. Outra vez usariam o Departamento de Relações Públicas (na época composto por jesuítas) para um trabalho de aproximação com a comunidade; trabalhariam novamente argumentos de Endomarketing (usaram os textos um tanto confusos de um redator chamado Caminha) para motivar a Diretoria e os acionistas a investiram mais, pois aqui em se plantando, de tudo dá, daria, deu ou dará.
O Departamento de Propaganda seria acionado e redatores e webdesigners descreveriam ao mundo as maravilhas do empreendimento, usando um belo portal e não mais escrevendo textos na areia ou contratando Debrèt para desenhar gravuras em nanquim; mas a intenção seria a mesma.
Um período de presença física e atuação direta do Conselho Diretor na própria filial iria mais uma vez alavancar o crescimento, expandir o mercado gerando emprego e renda, além de afastar de vez a concorrência.
O Departamento de Novos Produtos e Negócios entraria em ação e os lançamentos continuariam chegando da matriz, fazendo o público-alvo se sentir cada vez mais atraído para o consumo, abandonando antigos hábitos para incorporar novos valores, como anáguas, vinho, charutos ou rapé. O setor de Promoções também iria desenvolver eventos e produtos locais como o Samba e o Carnaval, só que desta vez aplicando um tratamento mercadológico mais intenso e profissional, permitindo um sucesso mais rápido, parcerias, patrocínios e exportação imediatos. A Capoeira logo seria identificada como uma luta e hoje seria uma modalidade olímpica.
O mais importante de tudo seria que com os novíssimos conceitos de Gestão Empresarial, Administração Compartilhada, Recursos Humanos e outros, todos eles vistos como instrumentos de busca da Excelência e portanto, ferramentas gerenciais mas também do marketing; provavelmente não se cometeria outra vez o erro fatal de transferir todo o lucro para a matriz, deixando a filial à mingua, com a Diretoria nadando em dinheiro enquanto os colaboradores ficavam sem um vintém, desmotivados e revoltados. Isso quando não estavam acorrentados.
Assim, Portugal & Algarves Incorporações desta vez não perderia a filial para um consórcio de colaboradores locais, liderados por um herdeiro dissidente do grupo de acionistas com um pouco mais de visão, apego ao Rio de Janeiro, Petrópolis, às serestas, ao amigo Chalaça e que conhecia as curvas da Marquesa e da estrada de Santos muito antes de Roberto Carlos.
Como se pode ver, o marketing poderia ter mudado a História, embora a gente nunca possa saber se o resultado teria sido melhor que tudo isso hoje chamado Brasil.
Para ter alguma certeza Cabral e a Diretoria da Portugal & Algarves Incorporações teriam desta vez que acionar o Departamento de Planejamento, realizar Pesquisas Qualitativas e Quantitativas, até descobrir quais os shares ideais de marketing e mind. Fazer pré-testes e ajustes do produto. Medir o recall. Avaliar expectativas, estabelecer novas metas em longo prazo, planejar Ações Promocionais e de Comunicação, monitorando o tempo todo o mercado consumidor. Talvez assim tudo ficasse de acordo com o Manual do Primeiro Mundo.
Mas, e o espírito de espontaneidade, improviso, indolência, pouca seriedade, malícia, muita festa, descomprometimento e uma certa letargia do público? Poderia ser reciclado também através do Endomarketing com Seminários Motivacionais e outros recursos, sendo tudo isso adequado ao mundo dos negócios globalizados e das nações desenvolvidas, assumindo logo as características da cidadania com responsabilidade. Será que poderia mesmo?
Aí talvez já fosse querer demais. O Marketing resolve, mas não faz milagres. E como dizia Macunaíma, que preguiça...