Depois, este ano, veio o tal ‘marketing' do carnaval que poluiu a cidade com um mau gosto chocante, a cidade inteira. Ninguém sabe os resultados pós-folia de tanta agressão ao visual da cidade, pleno verão.
Pois bem, abriram a porteira ...
Os postes estão pesteados de cartazes e propagandas de arraiás e forrós, por toda a Paralela, feiras de moda por toda a Orla, além de videntes e eventos em geral. Um horror. Existe legislação municipal à respeito? Quem libera? Alguma fiscalização em vigor? Punições?
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2. Detonam o verde da Paralela, de ambos os lados, sem pena nem dó. Leio no jornal que uma construtora devastou uma área na Av Orlando Gomes, derrubando, de cara, 150 árvores. Detido, o engenheiro da ‘obra' (olhe aí a obrança!) disse ao delega que tinha licença da secretaria municipal de meio ambiente e, segundo o jornal, mostrou o papel. Mas não tinha a liberação do CRA.
E assim vão detonando, dia a dia, o verde, os riachos e lagoas da cidade, cada dia mais árida, agressiva, desumana...
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3. Em Santo Amaro do Ipitanga (não gosto desse nome de Lauro de Freitas), onde me escondo há mais de 10 anos, o local onde moro se chamava mangueiral, pela quantidade de frondosas mangueiras.
No verão, matavam a fome de dezenas de famílias que já na madruga catavam os frutos que despencavam de vez e maduros coalhando o chão. Contam-se nos dedos de uma mão as que restam, protegidas em muros da sanha criminosa das moto-serras dos loteadores, a maioria clandestinos. É o ‘pogréssio'!
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4. Releio um ensinamento de Mãe Aninha, sábia Iyalorixá que fundou em 1910 o Ilê Axé Opô Afonjá, de tradição Keto/Nagô. Ela dizia que não se deve retirar uma só folha de uma árvore sem necessidade, sem pedir licença, pois é um crime contra a mãe natureza, contra a divindade, os Orixás.
Sem folha não há vida, sem folha não há mistério, não há nada...
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5. Nem sei mais como e onde os filhos de santo de nossa cidade, herdeiros da tradição ancestral religiosa africana ainda encontram áreas verdes, árvores sagradas e regatos para arriar suas oferendas aos orixás, voduns, inquices e encantados das matas, como é dever e obrigação passados de mãe pra filho nos terreiros baianos.
A cada árvore derrubada, vai-se um encanto, mata-se um mistério, extingue-se um veio de vida. Cada folha arrancada, cada nascente aterrada, apaga-se um pedaço de história, uma página vivida, um pedaço de nossa cultura, uma porção de vida...
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6. Li, neste fim de semana, uma entrevista da senhora Danielle Mitterrand, 84 anos, ex-primeira dama da França e presidente da Fundação France Libertés, em que, entre outros raciocínios inteligentes, ela diz:
..." Quando observamos que em Paris há ruas inteiras onde há apenas agências e bancos, isso não é vida! Nós não comemos dólares! Queremos uma vida onde há o vendedor de frutas, o padeiro, o peixeiro, coisas que representa m a qualidade cotidiana de vida".
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Bem, o que vemos é que a mãe-natureza está cada dia mais zangada. Esse processo de devastação tem retorno. Já.
Diz um provérbio chinês: "Deus perdoa, sempre; o homem, às vezes, perdoa; mas a Natureza não perdoa, nunca!"
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Ecochatice?
Pois bem, pense nos nossos filhos, netos ... restará pra eles o quê?