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Rosa de Lima

ROSA DE LIMA comenta livro de ADAM ZAMOYSKI sobre a invasão a Rússia

Napoleão é considerado um dos maiores estrategistas militares do século XIX
03/11/2013 às 10:35
 Livros sobre guerras são sempre uma boa atração aos leitores e há uma infinidade de obras sobre a II Guerra Mundial com sub-temas que são frequentemente abordados com grande sucesso de leitura.

   O período das guerras napoleônicas também é objeto de estudos intermináveis diante da revolução que provocou na Europa, no final do século XVIII e inicio a meados do século XIX, a ascensão e queda desse imperador francês que deu uma mexida no mapa mundi da Euro-Ásia. 

   Um desses trabalhos, um épico, é o livro "1812 - A marcha fatal de Napoleão rumo a Moscou" - de Adam Zamoyski (Editora Record, 627 páginas, tradução de Andrea Gottlieb Oliveira e revisão técnica de Maurício Parada, 2013) que narra a campanha empreendida pelo imperador rumo a Rússia depois de subjulgar aos seus pés quase toda a Europa, a exceção da Inglaterra.

   Com seu espírito bélico de imbatível, Napoleão tenta conquistar o território comandado pelo Tzar Alexandre I, numa campanha violentíssima, com milhares de mortos (estima-se que morreram 1.000.000 de pessoas dos dois lados dos exércitos franco-europeu e russo-cossaco), uma carnificina nunca vista até então, e que acabou resultando no fim do domínio francês no continente e a prisão e morte de Napoleão, com entrada triunfal de Alexandre I em Paris.

   As batalhas que se seguiram passo a passo rumo a Moscou refletiram a dureza e a crueldade dos combates. Impressionam as descrições dos detalhes das lutas que são narrados por este autor de origem norte-americana educado na Inglaterra, a logística empregada no deslocamento das várias frentes do Exército de Napoleão, o uso de canhões e de armamentos pesados que eram movidos em carroças e lombos de cavalos e burros, a infantaria a pé pelas estepes geladas da Rússia são reveladoras dessa epopéia que resultou numa carnificina numa vista na terra.

   O frio foi uma gota d'água para os cavalos. Dezenas de milhares dos subnutridos e exaustos morriam à mingua, em parte por causa do frio, e em parte por não estarem adequadamente ferrados para a neve e patinavam no gelo compacto. O autor cita que a 4ª Divisão do príncipe Eugène perdeu 1.200 cavalos em dois dias. Albert de Muralt, um tenente suiço servindo nos Chevau Légers bávaros, recorda que sua brigada composta por 200 cavaleiros ao chega a Viazman foi reduzida a 50 em 24 horas, deixando de ser uma unidade de combate.

   A perda da cavalaria e de uma grande parte da artilharia reduziu radicalmente o potencial de combate do Grande Armée (exército de Napoleão) que se tornou vulnerável aos cossacos, que cercavam as colunas com suas cavalarias ligeiras brem treinadas e lutando em seu território.

   Napoleão era um obstinado, um general que se achava superior em inteligência e estratégias militares acima dos demais, resoluto, ditatorial mesmo, impondo sua vontade e seus pontos-de-vsita à frente dos seus generais. Como seus comandados de farda acreditam nele, na sua capacidade de gênio militar em impor derrotas aos adversários, partiam para os campos de batalhas muitas vezes às cegas, sem medir as consequências, levando seus exércitos a derrotas fragorosas ou a conquista de palmos de territórios à custa de muitas mortes e sacrificios.

   Na conquista da Rússia foi assim. A cada espaço invadido e ocupado as perdas eram enormes e nem sempre compensatórias das conquistas, porque se ocupavam área arrasadas, como aliás se deu quando Napoleão chegou a Moscou e encontrou a cidade em chamas graças a estratégia militar do governador da cidade conde Fyodor Vassilievich Rostopchin.

   Napoleão estava acostumado a conquistar cidades e países e ser recebido em palácios e templos pela elite dirigente conquistada local, quase sempre sob aplausos e com coroas de louros. Em Moscou foi diferente. O general francês se sentiu desolado e Alexandre I e seus generais, comandando as suas forças de resistência a partir de São Petersburgo nunca assinaram um documento de rendição e subjulgação. Pelo contrário, perseguiram Napoleão e seus exércitos, acuados, sem condições de chegar até Saint Peter.

   O que se viu a partir dessa conquista foi um Napoleão desesperado e sem saber o que fazer com sua conquista depois de ocupar boa parte do território russo e sua capital, sendo obrigado a retroagir e retonar a Paris, numa fuga que resultou em batalhas a cada dia mais sangrentas e lhe custou o fim do seu império. 
O exército russo apoiado pelos cavaleiros e guerrilheiros cossacos lhes infrigiram derrotas imensas, como aconteceu em Smolenks, na travessia do Borodino e em Berezina. O sonho de Napoleão se derrete na neve e na desorganização do seu Grande Armée no retorno a França.

   Ainda assim, já em Paris, Napoleão consegue reorganizar o seu exército para resistir à invasão do território francês, mas, a Rússia e a Prússia formam uma aliança, a Áustria e a Inglaterra também se juntaram num exército de aliados em Leipzig e Paris capitulou em 31 de março de 1814, sendo Napoleão exilado na ilha de Elba, na costa italiana. 

   Um ano depois, em março de 1815, desembarca na França e retoma o poder, porém, em 18 de junho de 1815, é derrotado em Waterloo por um exército misto formado por ingleses e prussianos, sob o comando de Wellington e Blucher.

   Napoleão é exilado na ilha de Santa Helena e morreu em 5 de maio de 1821. Napoleão ainda é cultuado pelos franceses como seu grande herói nacional. O livro de Adam Zamoyski é uma preciosidade e narra uma parte da vida desse guerreiro nato.