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Rosa de Lima

Rosa de Lima comenta "Sexo na Casa Branca", poder e a cama

Quase todos os presidentes norte-americanos tiveram amantes
15/09/2013 às 12:47
   A literatura americana do Norte é pródiga em livros e reportagens sobre a vida íntima de autoridades e presidentes que circularam a habitaram a Casa Branca. Esse tema também inclui o noticiário envolvendo deputados e senadores, personalidades do cinema, gente do show bizz e assim por diante, muito mais do que em qualquer outro país, especialmente a partir da liberação da lei que garante esse direito aos jornalistas e editores.

   Mais recentemente, ainda está em nossa fresca memória, os fatos envolvendo a estagiaria Monica Lewinsky e o então presidente Bill Clinton, com cenas que motivaram até baforadas de charuto nas partes mais íntimas da moça e direito a tragadas sensuais.

   Na atualidade, o casal Obama (Barack e Michelle) parece uma exceção a tantos casos envolvendo presidentes dos Estados Unidos, suas amantes e seus amantes, inclusive também de primeiras damas, como os casos de Eleanor Roosevelt com Nancy Cooker, não saberia dizer se por vingança do affair que seu marido teve com Lucy Mercer, que quase acaba com a vida politica do presidente em 1918; e de Abraham Linclon com um capitão do Exército durante a guerra da secessão quando dormiam juntos numa pequena tenda de campaha.

   O livro "Sexo na Casa Branca", de Larry Flynt e David Eisenbach, (Editora Gutenberg, 307 páginas) revela-nos como a vida privada dos presidentes e poderosos norte-americanos mudou os rumos da história dos Estados Unidos e do mundo ocidental. O livro é apetitoso e escrito por dois profissionais experientes. Flynt é o editor da revista Hustler e militante há mais de três décadas da primeira emenda à Constituição do EUA e o direito à privacidade. Eisenbach é o apresentador do programa The Things You D'ont Know About, do History Channel.

   Às observações dos autores não escapam ninguém, desde os tempos iniciais da República quando se deu a Independência dos EUA do jugo inglês, em 4 de julho de 1776, e Betsy Donahue esposa de um carpinteiro que trabalhava na Casa Branca abriu um bordel para atender os operários numa choupana da President's Park; até o governo de Clinton. 

   Depois, nos primórdios da pré-República, Ben Franklin com seus galanteios se utilizou de cortesãs para seduzir a França a lutar contra os ingleses e Thomas Jefferson teve um caso rumoroso com uma escrava negra Sally Hennings. Em seguida, divulgou-se o caso de Dolley Madison que conseguiu dormir com três presidentes, um vice-presidente e vários congressistas e diplomatas, entre eles, George Washington e o vice Aaron Burr.

   Thomas Jefferson, o qual também se enroscou na cama com Dolley foi substituido por Andrew Jackson, político famoso por ter falido o Banco Central, mas eficiente na cama ao ter um rumoroso caso com Pegy Eaton. Segue, com James Buchanan, presidente solteiro que se apaixonou por um politico do Alabama, Rufus King, conhecidos em Washington como "gêmeos siameses". Jackson chamava o afeminado King de "Tia Francy" e Buchanan de "Senhora Nancy".

   A sensualidade de Buchanan ainda hoje intriga os historiadores. As indecisões deste presidente, King (seu amante) era um poderoso proprietário de escravos da Carolina do Sul, teria aberto as portas para a Guerra da Secessão que se daria no governo seguinte de Abraham Lincoln, o qual, embora fosse casado com Mary Tood, teve um prolongado caso com um capitão das forças federalistas. 

   Abraham era recorrente a casos dessa natureza e cita-se que quando se mudou para Springfield, a capital do Illinois, já como advogado teria se apaixonado por Joshua Speed. O primeiro biógrafo de Lincoln, William Herndon escreveu que ele "amava esse homem mais do que qualquer outro ser vivo ou morto". O caso de Lincoln com o capitão David Derickson, 44 anos, da Brigada Rabo de Cervo, foi mais notório e prolongado.

   Os presidentes do inicio do século passado Woodrow Wilson e Warrente G Harding não eram gays e sim mulherengos. Na década de 1920, os jornalistas zombavam deles afirmando que Harding frequentava prostíbulos em Columbus, Ohio; e Wilson preferia os bordeis chiques de Paris. Enquanto a primeira Grande Guerra se iniciava em agosto de 1914, a primeira dama Ellen Wilson morreu de uma doença incurável e o presidente em pouco tempo estava nos braços e na cama de Edith Galt, herdeira de uma joalheira de Washington, viuva de Norman Galt. Depois que Wilson sofreu um derrame, em 1919, Edith assumiu o controle da Casa Branca. O senador Albert Fall chegou a dizer na tribuna do Senado: "A Sra Wilson é a presidente".

   Os analistas dizem que Harding foi o único presidente explicitamente romântico e este teve um prolongado caso com Carie Phillips, a qual, durante 15 anos manteve a infundada esperança de que ele abandonasse a política, se divorciasse e se casasse com ela. Mas, isso nunca aconteceu.

   Segundo os autores do livro, os jornalistas do século XIX não tinham tantos pudores quanto a espalhar a vida privada dos presidentes Jefferson, Madison e Jackson. Mas os jornalistas do século XX assumiram a responsabilidade de preservar a vida privada dos presidentes em nome da defesa, do decoro e da segurança nacional. Foi o século de duas grandes guerras mundiais com envolvimento direto dos EUA nos campos de batalha da Europa.

   A vida de Franklin Delano Roosevelt, no entanto, 1918, foi esmiuçada e seu caso de amor com Lucy Mercer ofuscou a relação do presidente com a esposa legitima Leonor, a qual, após a morte do presidente se juntou a outra mulher, depois se tornar amiga de um casal de lésbicas Nancy Cook e Marion Dickerman. A própria filha de Roosevelt chegou a dizer: "Lucy era a razão de viver de papai".

   O livro aborda com bastante destaque a vida do poderoso diretor do FBI, J. Edgar Hoover, o qual era gay e se tornou mandachuva de vários governos ameaçando-os com dossiês de casos sexuais. Hoover chegou a ser considerado "czar do sexo norte-americano", e "o pequeno Napoleão" (referência a Napoleão Bonaparte), o qual durante a guerra fria se tornou o 2º homem mais poderosos dos EUA e do planeta, desde o governo de Harry S. Truman até o presidente John Kennedy.

Quando Kennedy foi eleito, em 1960, o escritor dos seujs discursos Ted Sorensen, previu: "Este governo fará pelo sexo o que o anterior fez pelo golf". E os casos envolvendo Kennedy foram diversos, o mais rumoroso chamado Profumo com Christine Keeler e outro com Ellen Romestsch, uma espiã da Alemanha Oriental. John foi assassinado em 1968 e sua esposa (ou ex Jack) teria tido um caso com seu irmão Robert Kennedy.

   Com Nixon, o FBI investigou, em 1971, um suposto romance que o presidente teve com uma espiã comunista chinesa Marianna Lui. Depois vieram presidentes mais discretos, sobretudo Carter, até o governo Clinton, do escandaloso caso como a estagiária Monica Lewinsky que quase ele é apeado do poder.

   O livro é minucioso, emblemático, gostoso de ler e mistura sexo, poder, diplomacia, relações internacionais e tudo mais, num caldo de cultura mundial apimentado. Revelador de que a cama e o poder vivem juntos.