Colunistas / Literatura
Rosa de Lima

O MANIFESTO do NADA na TERRA do NUNCA, de Lobão

Um livro indispensável nesses tempos de revolta nas ruas e de um novo olhar para o Brasil
11/08/2013 às 12:16
 O roqueiro Lobão é conhecido no meio musical por suas atitudes de protestos contra o "jabá" (gratificação) reinante nas emissoras de rádio e TV para alimentar prováveis sucessos musiciais e engordar as contas de radialistas, donos de emissoras e apresentadores, e também por suas polêmicas com Caetano Veloso, Rede Globo, Faustão e outros artistas.   

   João Luiz Woerdenbag Filho (Lobão) sempre foi "maldito", um permanente crítico a MPB que classifica de "proveta" e de ideias pré-fabricadas politico-intelectuais que vicejam no Brasil.

   Diria que é, também, um escritor bissexto porque não vive da profissão das letras embora tenha produzido a autobiografia "50 anos a mil" que vendeu 150 mil exemplares e concorreu ao prêmio Jabuti.

  Em abril deste ano, Lobão nos presenteou com um novo livro intitulado "Manifesto do Nada na Terra do Nunca" (Editora Nova Fronteira, RJ, 247 páginas) e que pontua há semanas entre os mais vendidos do país, ensaio onde expõe suas ideias e seus pensamentos com a inteligência e a ironia que lhes caracterizam.

   A metralhadora giratória de Lobão revela noutra ponta o que muita gente até gostaria também de dizer, mas, tem medo, tem receio das "patrulhas ideológicas" que povoam o Brasil onde não se pode criticar o PT porque o "rei sol" tirou 30 milhões de brasis da miséria, quiça 40 milhões, não se pode levantar a voz contra quaisquer atitudes dos movimentos gays e lésbicas, tem que se aceitar "ips-literis" o pensamento tupiniquim da Semana de Arte Moderna e da utopia antropofágica de Oswald de Andrade, entre outras preciosidades.

   Ou como adverte Lobão no Prólogo originalmente intitulado Aquarela do Brasil 2.0 "não basta apenas esperar por leite e mel/às vezes para ser bom é preciso ser cruel/o brasileiro é sempre um bonzinho/ Somos o povo mais sorridente do planeta,/esse eterno país da micareta,/apenasr dos 50 mil assassinatos produzidos todo ano,/sem precisar de guerra civil nem de terrorista muçulmano.

   O livro de Lobão nos ajuda a pensar de outra forma, nos ajuda a ter uma visão mais critica sobre algumas "realidades" nacionais escamoteadas pelo "patrulhismo", "pelo marxismo acadêmico" e pelo que o escritor classifica como "o intelectual de esquerda: um carola estatizado". Ao seu olhar não escapa ninguém: a MPB, o PT, o folclore o baba-ovismo nacional, a "patrulha" do pensamento e a ideologia falsa que prospera no país.

   Segundo Lobão, quem ousa tecer algum comentário um pouco mais crítico sobre a realidade que nos rodeia "acaba sofrendo violências morais e psicológicas", sempre no intuito de eliminar o interlocutor. Querem, a todo custo, assim, estabelecer uma verdade única pré-fabricada". 

   De cátedra, vivido que é em diferentes experiências e trajetória politica, Lobão lembra da criação do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB, 1950) e sua transformação no Centro Popular de Cultura da UNE (1964, nascida após a extinção do ISEB) quando intelectuais de esquerda configuram uma "estética ultranacionalista que via a Bossa Nova cvomo fenômeno de conolização cultural". O roqueiro lembra, inclusive,  que músicos como Tom Jobim, Dick Farney e Johnny Alf  "eram severamente" taxados de americanizados".

   O autor situa que nos anos 1970, "tivemos mais uma ivestida conceitual da MPB com o Movimento Artístico Univestiário (MAU), encabeçado por Ivan Lins, Gonzaguinha e Cesar Costa Filho produtores de músicas politicamente enganajadas, sambões maniaco-depressivos, o que Lobão chama de música para ouvir "comendo linguiça com cachaça".

   A ótica de Lobão não poupa nem os "heróis libertários", sempres os mesmos, Lamarca e Marighela, "símbolos em repetição buscando uma performance ideológica e existencial que se afaste de qualquer desvio ou oposição da norma". 

   Para Lobão, há uma "hipnose coletiva" , um imaginário coletivo, sequestrado e hipnotizado. Cita que antigos colegas seus "trocaram seu guarda-roupa comum, seus jeans desbotados e seu tênis Rainha, por uma indumentária milimetricamenre desgrenhada, uma barbicha na cara, uma sandália de couro. Foi assim que vivenciei meus primeiros episódios da patrulha ideológica", frisa o autor.

   Na visão de Lobão, o funk brasis é "grotesco, sexista, violento, obceno, com temas horríveis, ...mas é verdadeiro...e ainda não foi reciclado, reinventado, regurgitado, muito menos aprovado pelo intelectual de esquerda". 
O autor classifica o intelectual de esquerda brasileiro como o "campeão mundial da punheta de pau mole, sempre deprimido, paranóico, ressentido, sempre vitimizado por complôs cósmicos, sempre pronto para eliminar suas contradições na base do grio". 

   Os capítulos que dedica ao PT, Dilma, Lula, Comissão da Verdade, etc, são primorosos. Sobre a "Omissão" da Verdade - é assim que classfica a Comissão que só vai investigar um lado da questão, de uma turma que não tem a menor moral para falar de tortura. 

   O livro de Lobão mostra-nos que não existem idéias nem mitos intocáveis e o livre pensar é um direito de todos, sem fronteiras, sem o garrotismo. Não há verdade absoluta, nem há donos da verdade, muito menos direcionamentos que possam mudar uma realidade e apresentar isso como se fosse o mais adequado, o qualquer, o perfeito.

   Valeu Lobão por seu trabalho. É uma leitura obrigatória nesses dias do Brasil atual que, finalmente, se movimenta nas ruas.