Prefeito comete erro politico palmar e o governador deu uma de mestre e apoiou sua iniciativa nivelando-os no mesmo barco
Tasso Franco , Salvador |
07/11/2025 às 09:30
Bruno Reis e Jerônimo Rodrigues no mesmo barco do combate a violência
Foto: Betto Jr
O Egito inaugurou recentemente o Grande Museu do Egito (GEM) com investimento de U$1 bilhão de dólares e amplitude mundial. Cairo, a capital, que já era forte no segmento cultural do turismo, agora ficou uma potência. São cerca de 450 mil m² de área útil, 12 salas de exposição, 100 mil artefatos históricos. Os salões do novo museu estão repletos de artefatos inestimáveis, como a estátua colossal de Ramsés 2º, os antigos barcos reais de Khufu e 5 mil tesouros da tumba de rei Tutancâmon — que estão sendo exibidos juntos pela primeira vez desde a descoberta da sua tumba.
Em Salvador, o prefeito Bruno Reis, que já tinha dado um tiro no pé ao lançar Salvador capital afro como se a cidade fosse africana, imitando um continente (a África) com 55 países e culturas distintas onde a língua mais falada é o inglês, mais de 500 milhões de pessoas falam inglês por lá, resolveu dar um segundo tiro no pé ao lançar um Plano de Segurança Pública com investimentos estimados de R$5.6 bilhões até 2028, quando termina seu mandato.
Quiçá R$14.3 bilhões até 2035, segundo consta no release da PMS, num plano que tem o incógnito nome de PMSPDS. Todos sabemos que administrações públicas no Brasil não dão continuidade aos projetos, salvo exceções. Então, se o prefeito Bruno Reis não conseguir fazer seu sucessor, em 2028, o PMSPDS pode virar cinzas.
Posso citar um exemplo recente em Salvador. O prefeito Antônio Imbassahy assumiu a prefeitura, em 1997, herdando um caos na cidade da gestão Lidice da Mata. Precisou da ajuda do governo do estado para fazer um mutirão de limpeza e Luiz Carreira, hoje, secretário da PMS, participou e ajudou como secretário do governo Paulo Souto. A gestão Imbassahy arrumou a cidade, mas, em 2004, não conseguiu fazer seu sucessor e o eleito João Henrique (PDT), com base numa proposta mirabolante do “chupa a cabra” (multas no trânsito).
João Henrique abandonou todos os projetos de Imbassahy e ficou 8 anos na Prefeitura. O caos voltou. ACM Neto assumiu em 2013 e realinhou a cidade novamente com novos projetos, etc, passando o bastão para Bruno Reis, em 2021, que foi reeleito em 2024 e dá continuidade aos projetos e ampliou-os. Mas, ninguém sabe de Reis fará o sucessor na eleição de 2028.
Então, não há nem os anunciados possíveis recursos para o PMSPDS, nem os cientistas mais destacados do mundo sabem como estará o planeta em termos de tecnologia com as IAs, em 2035. Numa década diante dos avanços da Inteligência Artificial e da Robótica é impossível se fazer uma previsão, inclusive orçamentária. O PMSPDS entra, portanto, no campo da ficção.
Institucionalmente, a missão de cuidar da segurança é do governo do estado com apoio do governo federal, o que o governador Jerônimo Rodrigues (PT) vem fazendo com grande esforço, porém, ainda é o ponto frágil do seu governo, e tem sustentado o discurso político da UB, dos deputados da oposição e, em especial, de ACM Neto.
Bruno Reis, ao se aliar ao esforço de Jerônimo e sua equipe na área da segurança, anula o discurso da oposição, nivela o UB no mesmo campo aberto da segurança, e vai se tornar vidraça. Ele, e por tabela, ACM Neto e a oposição a Jerônimo na Assembleia Legislativa e no interior do estado.
E Jerônimo, que não é um grande articulador político, ontem, deu uma de mestre e compareceu com a sua equipe de segurança na solenidade do prefeito e posou ao lado do prefeito, o que significa dizer, estamos juntos no mesmo barco da segurança.
Mas, de quem poderia ter sido uma ideia tão estapafúrdia, se a missão do prefeito é cuidar da cidade, no caso de Salvador, o turismo e a cultura que são a mola de sua sustentabilidade. Imaginem se o prefeito convocasse a imprensa e dissesse que iria construir um museu igual ao GEM? Além de ser carregado em andor pelo trade turístico e pela amorfa cultura baiana, colocaria Salvador no circuito de cidades mundiais.
Há de se dizer que não temos 50 mil peças de faraós. Mas, temos a baianidade que é própria de Salvador, da Bahia, não dá África ou de Asia, e que há muito o que mostrar. Para isso tem curadorias e técnicos capazes de organizar um GEM baiano. E, pelo que foi exposto pelo prefeito Bruno Reis, ontem, se existem R$5 bilhões para se investir em segurança, montante igual ou maior do que esse existe para a cultura.
O Egito passou 20 anos construindo o GEM numa demora resultante da Primavera Árabe, pandemia da Covid e outros, e inaugurou o museu no último sábado. Mas, em ritmo chinês como quer Reis para a segurança, o GEM baiano pode ser feito até 2035, numa boa, e observando a sua premissa em investimentos para segurança até lá (R$14 bilhões) dinheiro não é problema para a cultura.
A história não perdoa derrapagens na política. Os exemplos estão aí à mostra e não vou citá-los porque todos conhecem. Bruno Reis está no limiar de consumar um tiro no próprio pé. Mas, ainda tem tempo de mudar de rumo. (TF)