Política

JERÔNIMO ESTÁ NA CHINA E BYD SE TORNA DÚVIDA EM CAMAÇARI COMO FÁBRICA

Com agência Audotada
Tasso Franco , da redação em Salvador | 12/05/2025 às 11:15
BYD: Fábrica ou centro de distribuilção?
Foto: DIV
 Diante dos frequentes atrasos no cronograma da BYD em Camaçari, BA, que prometeu começar a montar seus carros após o Carnaval e postergou, inicialmente, para junho, o Sindicato dos Metalúrgicos local começou a se movimentar. Seu dirigente Júlio Bonfim afirmou temer que, dos 20 mil postos de trabalho prometidos pela companhia, apenas 5%, ou seja, 1 mil vagas, sejam criados. Em audiência na Câmara de Vereadores na segunda-feira, 5, ele levantou a questão: a unidade da BYD em Camaçari de fato fabricará veículos ou o local se tornará centro de distribuição com veículos semi-montados vindos da China?

À Agência AutoData Bonfim relembrou que a vice-presidente executiva da BYD, Stella Li, estimou que metade das 20 mil vagas de emprego seriam criadas ainda em 2025: “Neste ritmo não contratarão nem 1 mil até dezembro. Cada hora dizem uma data diferente para começar a montar os veículos. E acho difícil que o início da operação ocorra em junho”.

Stella Li estimou a geração, até o fim deste ano, de 10 mil postos de trabalho e, em 2026, de 20 mil. Mas, até o momento, há apenas 350 empregados. Foto: Thuane Maria/GOVBA.
O sindicalista contou que, atualmente, 350 profissionais trabalham para a empresa no País, dos quais 80% na área administrativa. Metade deste efetivo é de origem chinesa. Os 20% restantes, do operacional, estão até o momento fazendo treinamentos e aguardando, segundo ele.

O que mais preocupa a entidade são fatores como o aumento da importação, uma vez que a BYD já opera com quatro navios próprios, com capacidade atual de transporte de 26 mil veículos. E a partir deste ano nova rota, batizada de “dourada”, passa a encurtar o tempo de transporte de sessenta para apenas trinta dias da China ao Brasil. Até 2026 serão oito navios, podendo transportar 58 mil veículos.

“Daqui a pouco colocarão doze navios e dobrarão de novo o volume, para mais de 100 mil. Considerando que no ano passado foram emplacados 76 mil veículos da marca no Brasil, entende-se que o volume importado é capaz de suprir a demanda”, afirmou Bonfim. “Sem contar que, ao mesmo tempo, uma de suas três fábricas na China deverá ampliar sua produção dos atuais 545 mil veículos para 1 milhão/ano, ou seja, praticamente dobrará a quantidade. No ano passado foram comercializados, em todo o mundo, 4,2 milhões de unidades. Então, para quê investir em mais capacidade produtiva?”

Outro ponto que reforça o sinal de alerta é o fato de a companhia pedir ao governo a redução da alíquota do ex-tarifário dos atuais 20% para 10%, conforme mostrou com exclusividade reportagem da Agência AutoData: “Sabemos que um centro logístico é 90% automatizado e requer muito menos mão de obra. A impressão que passa é que a BYD deixará a fabricação para mais para frente e explorará a montagem em SKD, em que 70% do carro já vem pronto. Isso tudo nos assusta”.

O sindicato tem reunião marcada com a BYD para tratar dos salários das próximas contratações de operadores, que estão em fase de seleção. Enquanto isso parte da obra segue embargada após escândalos envolvendo trabalho análogo a escravidão, lembrou o sindicalista, ao citar o embargo do Ministério Público e a negociação de indenização por danos morais coletivos que partiu de R$ 250 milhões e que, agora, está em R$ 180 milhões.

“Esperamos que os governos municipal, estadual e federal se unam e façam uma interface com a empresa a fim de não permitir a redução dos empregos que nos foram prometidos para melhorarmos a renda da nossa região.”

Procurada, a BYD manifestou-se dizendo que mantém seu compromisso com a reindustrialização de Camaçari e o desenvolvimento sustentável do local. “Com investimento de R$ 5,5 bilhões, a fábrica terá capacidade inicial para entregar 150 mil veículos por ano.”

A operação terá início com a montagem dos veículos, assegurou a companhia, enquanto a unidade avança para a produção completa, com nacionalização progressiva dos modelos mais vendidos no Brasil. E reafirmou que “a estimativa é que sejam criados 20 mil postos de trabalho diretos e indiretos ao longo do projeto, consolidando a fábrica baiana como o maior polo industrial da BYD fora da China”.