Com informações da imprensa nacional
Tasso Franco , da redação em Salvador |
14/11/2020 às 10:03
Comandante Pujol: "Não queremos política dentro de nossos quartéis"
Foto: DIV
O presidente Jair Bolsonaro afirmou na última sexta-feira que concorda com a declaração do comandante do Exército, o general Edson Leal Pujol, de que os “militares não querem fazer parte da política. Bolsonaro lembrou que Pujol foi escolhido por ele para o cargo e disse que as Forças Armadas devem se manter apartidárias e, como determina a Constituição, "sob a autoridade suprema do Presidente da República".
- A afirmação do General Edson Leal Pujol (escolhido por mim para Comandante do Exército), que “militares não querem fazer parte da política”, vem exatamente ao encontro do que penso sobre o papel das Forças Armadas no cenário nacional.
"São elas o maior sustentáculo e garantidores da Democracia e da Liberdade e destinam-se, como reza a Constituição, 'à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de quaisquer destes, da lei e da ordem'. Devem, por isso, se manter apartidárias, 'baseadas na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República'", complementou Bolsonaro.
A CITAÇÃO DE PUJOL
A afirmação de comandante do Exército, citada pelo presidente, ocorreu na quinta-feira, durante transmissão ao vivo pela internet. Ele declarou que os militares não querem “fazer parte da política governamental ou política do Congresso Nacional e muito menos queremos que a política entre dentro dos nossos quartéis”. E disse que o fato de militares ocuparem cargos no governo federal trata-se de uma decisão exclusiva do Executivo.
Nesta sexta-feira, o general voltou ao tema e declarou que o Exército não é uma instituição de governo e não muda sua maneira de pensar de cumprir suas missões a cada quatro anos.
— Não somos instituição de governo, não temos partido. Nosso partido é o Brasil. Independente de mudanças ou permanências de determinado governo por um período longo, as Forças Armadas cuidam do país, da Nação. Elas são instituições de Estado, permanente. Não mudamos a cada quatro anos a nossa maneira de pensar e como cumprir nossas missões — disse Pujol.
No início da tarde, ao deixar o Palácio do Planalto, o vice-presidente Hamilton Mourão, também egresso das Forças Armadas, reforçou a fala do comandante do Exército. Ele afirmou que concorda com o general e disse que a politização dos militares atrapalha a hierarquia e a disciplina dentro das Forças Armadas. Mourão é general da reserva do Exército.
MOURÃO
O presidente Jair Bolsonaro voltou a demonstrar irritação com o vice Hamilton Mourão. Numa conversa no início da tarde desta sexta-feira, 13, ele disse a auxiliares que o general da reserva não "ajuda" o governo. Desta vez, o motivo da queixa foi uma entrevista em que Mourão avaliou que a vitória do democrata Joe Biden nas eleições americanas é cada vez mais "irreversível". Bolsonaro enfrenta pressão dentro e fora do Palácio do Planalto para admitir a derrota do aliado Donald Trump.
Nos últimos dias, ele deixou explícita sua divergência com o vice, por causa da divulgação de documentos do Conselho Nacional da Amazônia. O órgão presidido por Mourão planejava desapropriar terras de desmatadores. Depois de Bolsonaro classificar a ideia como "delírio", os dois conversaram longamente ontem, quinta-feira, e restabeleceram as pontes, segundo informaram pessoas próximas. A trégua na relação de permanentes atritos, porém, não durou 24 horas. A entrevista de Mourão na manhã de hoje à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, expôs novamente o mal-estar.
Na conversa de quinta-feira, Bolsonaro e seu vice tinham posto na mesa uma série de questões que tinham afastado os dois. Uma delas era uma suposta negociação entre Mourão com o apresentador de TV Luciano Huck e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro para uma aliança em 2022. A especulação tornou-se mais intensa no Planalto após o ex-juiz da Lava Jato citar, numa entrevista ao jornal O Globo, o nome do vice como uma das lideranças do campo moderado. A relação entre Moro e o general sempre foi de cordialidade dentro do governo.
Por sua vez, Mourão ressaltou sua lealdade ao presidente. O general disse que não estava de olho em 2022 e não fazia tratativas com os adversários do Planalto. Ainda no encontro, Bolsonaro e o vice chegaram a concordar que há um movimento "diuturno" para "explodir" a relação entre eles.