Ex-secretário explica porque pediu demissão do cargo que ocupava no governo
Tasso Franco , da redação em Salvador |
17/06/2020 às 19:10
Ex-chefe da Casa Civil, Bruno Dauster
Foto: Rep Entrevista TV
Em entrevista a TV Bahia nesta quarta-feira, 17, o ex-secretário da Casa Civil, Bruno Dauster, admitiu que não foram cumpridos alguns procedimentos obrigatórios na condução dos contratos dos respiradores que não foram entregues ao Consórcio Nordeste, devido a urgência em conter a pandemia do Coronavirus.
Dauster foi apontado pela dona da empresa Hempcare, Cristiana Prestes Taddeo, como a pessoa com quem ela fez as tratativas do contrato. Ela disse que o secretário teria autorizado a compra dos respiradores nacionais, depois dos respiradores chineses terem apresentado problemas em outros estados.
Em entrevista exclusiva à TV Bahia, o ex-secretário explicou porque usou intermediários para fazer a compra dos respiradores.
"Nós tínhamos condições de prazos razoáveis e de acordo com a nossa necessidade, através de intermediários. Nós confiávamos e isso é, reconheço, questionável, que as pessoas estavam agindo de forma correta como nós estávamos e que em uma situação de pandemia, as propostas que seriam feitas seriam todas reais. Claro que, sempre que a gente percebesse qualquer problema contra a nossa ideia, era interrompido o processo de compra e resolver a questão imediatamente", explicou Dauster.
"Você tinha empresas que não tinham uma tradição, mas que tinham equipamentos e que vendiam. Tanto que eles chegaram em alguns lugares ocasionalmente. Esse procedimento foi o único possível. Foi um procedimento que identificamos como viável naquele momento que era absolutamente fora do normal para que, no prazo necessário, a gente desse o volume de equipamentos necessários", disse Bruno.
Um dos procedimentos não seguidos no processo de compra dos equipamentos foi a licitação, dispensada por causa da urgência.
"Se você quisesse fazer um processo de licitação, no mínimo, você levaria 45 dias para receber. Quantas mortes significariam você ter uma solução do processo em 45 e receber em mais de 90 dias o equipamento?", questionou o ex-secretário.
Dauster disse ainda que não conhece o empresário Paulo de Tarso, dono da empresa Biogeoenergy, fornecedora dos respiradores no país. O ex-secretário nega que tenha recebido qualquer valor para intermediar as negociações
"Nunca conheci, não tivemos nenhuma relação comercial com esse empresário durante todo o processo de compra. Em verdade, eu estou processando o Paulo de Tarso por calúnia, por ele ter afirmado, inclusive, através da TV Bahia, de que eu recebi dinheiro disso. Eu nunca recebi dinheiro nem de nenhuma das transações comerciais ou de projetos especiais que eu tenha participado", relatou Dauster.
"Eu coordenei além desse momento da pandemia, todos os projetos importantes daqui da Bahia. E como eu sempre tive minha vida regida com princípios de honestidade e transparência, quando esse senhor faz essa afirmativa, sem ter nenhuma base para fazê-la, está apenas tentando me caluniar", completou.
O ex-secretário pediu exoneração da secretaria da Casa Civil na mesma semana em que foi deflagrada a Operação Ragnarok. Ele explicou o motivo do pedido de demissão do cargo.
"Primeiro que eu não precisava de ter foro privilegiado, porque eu não cometi nenhum ato ilícito nem nada que pudesse justificar que eu tivesse medo de alguma ação na Justiça. Se tivesse, eu não teria pedido nunca, para manter o foto privilegiado", disse Bruno.
"Em segundo lugar, eu pedi porque não queria que fosse politizado essa questão, pedi antes que meu nome fosse citado por qualquer pessoa porque eu pedi na abertura do processo. O que eu queria era evitar a politização que, infelizmente, aconteceu e estamos em um momento que tudo está sendo politizado", completou.
Dauster disse ainda que não conhece Fernando Galante e Cleber Isaac, apontados como intermediários na negociação, que teriam recebidos juntos R$ 12 milhões como recompensa.