Política

Câmara de Salvador aprova 25 projetos e debate homicídios de jovens

Matérias aprovadas pelos vereadores incluem honrarias a personalidades do Estado
Limiro Besnosik , da redação em Salvador | 23/08/2018 às 19:16
Jovens lotaram o auditório do Centro de Cultura
Foto: Valdemiro Lopes

Dezessete resoluções, seio projetos de lei e duas indicações foram as 25 matérias aprovadas pelos vereadores de Salvador na sessão ordinária dessa quarta-feira, 22. Entre as resoluções está a concessão da Medalha Thomé de Souza ao Freddy Carvalho Pitta Lima, proposta por Marcelle Moraes (PV), e ao desembargador Mauricio Kertzman Szporer, por iniciativa de Edvaldo Brito (PSD).

Duas personalidades serão homenageadas com nomes de logradouros públicos: Lucione da Silva Conceição, por sugestão do presidente Leo Prates (DEM), e Valdir Macário, a pedido de Odiosvaldo Vigas (PDT).

Luiz Carlos Suíca (PT) sugere ao governador Rui Costa, políticas públicas de assentamentos agrícolas destinadas às famílias carentes e Aladilce Souza (PCdoB) solicita ao prefeito ACM Neto que encaminhe projeto de lei para alterar o artigo 16, da Lei nº 6.779/2005.

Homicídios de jovens em debate

Na tarde desta quinta-feira, 23, a CMS promoveu, no auditório de seu Centro de Cultura, uma audiência pública que discutiu o Dia Estadual de Enfrentamento aos Homicídios e a Impunidade (26 de agosto). A atividade foi idealizada em conjunto pelo edil Sílvio Humberto (PSB) e pelo Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan (Cedeca).

Com o auditório lotado de adolescentes que compõem grupos como Projeto Axé, Fundação Cidade Mãe e o Centro de Referência Integral de Adolescentes (Cria), representantes do Poder Público fizeram um balanço do atual cenário de assassinatos de jovens - em sua grande maioria negros.

Muitos dos casos são atribuídos à violência policial nos bairros periféricos. De acordo com Waldemar Oliveira, coordenador-executivo do Cedeca, em média, de cada cem policiais investigados, apenas três são punidos.

Em seu pronunciamento, Sílvio Humberto criticou o alto índice de jovens negros assassinados e os que defendem a redução da maioridade penal: “Temos que afirmar o tempo inteiro que vidas negras importam. Muitos falam de uma criança com fuzil na mão, mas foi ela que fabricou esta arma?”.

Para ele, é preciso que o Estado potencialize a criatividade desta faixa etária com a oferta de programas educativos e culturais. “É necessário que o governo pense na juventude como início, meio e fim, não só como o final”, apontou.

Ao se referir ao 26 de agosto, Sílvio questionou: “Por que esse dia nunca acaba, por que não chega ao final?”. Mais tarde, na plateia, a estudante Tauana Bonfim, de 17 anos, daria sua resposta: “Porque não é interessante para o sistema branco”.

Na mesa, Beatriz Santos, do grupo Novos Arteiros, falou em tom de desabafo ao representar o bairro de Castelo Branco. “Estamos acostumados em ver a juventude ser assassinada e não deveríamos estar. A bala é só a consequência. Quando a gente é criança, morremos porque não temos representatividade e quando vamos crescendo as pessoas nos impedem de avançar. Aos 18 anos somos mortos. Não queria estar aqui, mas estou porque tem sangue de meus irmãos pretos e pretas sendo derramado”, declarou.

Maria Ângela de Jesus, integrante do grupo Pela Vida, formado por mães e pais que tiveram filhos assassinados, relatou a experiência de perder a filha de 11 anos. Geovanna Nogueira da Paixão morreu após ser atingida por disparos efetuado por um policial militar no bairro de Santo Inácio, em 24 de janeiro deste ano.

Emocionada, falou do sonho da garota. “Minha filha me pedia um violino, disse que daria quando saísse de férias. Ao invés do violino tivemos que comprar o caixão dela. Justiça lenta é injustiça”, desabafou.

Ainda participaram da mesa Emiliano José, superintendente de Direitos Humanos, da Secretaria de Justiça, Direito Humanos Desenvolvimento Social; Adriana Correia, da Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps); Rafael Dantas, da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres; e André Araújo, do Cria.