Um painel com as fotos de todas as vereadoras (atuais e ex) foi a forma encontrada pela Câmara de Salvador para homenagear as mulheres nesta quinta-feira, 8, quando se comemora o seu Dia Internacional. A inauguração aconteceu na parte da manhã, no Salão Nobre da Casa. A presença feminina na história do Legislativo Municipal começou em 1936, quando foi eleita Laurentina Pugas.
A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, Aladilce Souza (PCdoB), disse que destacar essa participação é uma forma de incentivar uma maior atuação política: “Em 82 anos somente 32 mulheres foram eleitas para esta Casa. Se levarmos em conta que somos a maioria da população de Salvador, vemos a sub-representação que temos no poder. Isso está relacionado com o histórico da nossa sociedade que cria meninas brincando de casinha”.
Esteve presente ao ato a ex-vereadora Geracina Aguiar, que legislou de 1989 a 1992, hoje doutora em Ciências Políticas pela Universidade de Montpellier, na França. Ela destacou a “honra de ser homenageada pela primeira Câmara do Brasil. Esse dia destaca a luta de mulheres que estão escrevendo uma nova história do Brasil”.
Luta por igualdade
Segundo a líder da oposição, Marta Rodrigues (PT), “neste 8 de Março estamos aqui pelas mulheres que lutaram há 108 anos por melhores condições de trabalho. Este é um dia de celebração das conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres e também de reforçar nossa luta pela igualdade”. Mas, considerou que a participação feminina em cargos de liderança ainda é pouca diante de sua importância na sociedade atual.
“Para mim, especialmente neste 8 de Março, as mulheres recebem uma missão: empoderar outras mulheres”, destacou Rogéria Santos (PRB). A homenagem foi uma proposta da Comissão da Mulher e aconteceu na Legislatura onde a bancada feminina é a maior da história da Câmara, com mais cinco edis, além das já citadas: Ana Rita Tavares (PMB), Cátia Rodrigues (PHS), Ireuda Silva (PRB), Lorena Brandão (PSC) e Marcelle Moraes (PV).
“Todo dia é dia de prestar homenagem às mulheres por nossas práticas e pelo nosso jeito especial de conduzir e lidar com desafios”, disse Ana Rita. Legisladora mais jovem do país, Marcelle, falou sobre a importância de se acabar com a estigma de sexo frágil: “Nós encaramos múltiplas jornadas em um dia, somos mães e profissionais ao mesmo tempo e enfrentamos o preconceito de frente. Não somos frágeis, somos guerreiras e podemos fazer o que quisermos”.
O ouvidor-geral Luiz Carlos Suíca (PT), prestou uma homenagem às servidoras da Câmara, entregando um buquê de flores à funcionária do Cerimonial, Jeane Muniz, que representou todas as demais.
No próximo dia 23, às 14h, a Comissão da Mulher promoverá uma sessão especial com o tema “Mais mulheres na política”. A atividade contará com a participação de representantes de todos os partidos que compõem a bancada feminina da Câmara e ocupam cargos em outras esferas de poder.
Aladilce cola cartazes
Também na manhã desta quinta, 8, Aladilce aproveitou o tapume que cerca um prédio desocupado na Rua Chile, ao lado da Câmara Municipal, para colar cartazes com mensagens feministas e de denúncia à violência contra a mulher.
O muro, que antes abrigava uma mostra artística já deteriorada, foi o lugar escolhido para a exposição de novas imagens. Cerca de 40 cartazes foram colados por ela própria e sua equipe de assessores, trazendo imagens de manifestações locais e internacionais, dados de feminicídio e ilustrações enaltecendo a luta das mulheres e exigindo o fim do machismo.
O local escolhido é estratégico, pois fica no centro da cidade, às vistas da população. “A rua muitas vezes se torna um ambiente opressor para as mulheres, pois é nesse espaço que acontece boa parte do assédio e estupros contra elas. Por isso, é preciso levar esse debate para a própria rua, para que a mensagem seja dada diretamente aos homens que transitam pela nossa cidade, com o recado de que não aceitaremos nenhum tipo de violência contra nós”, afirmou.
Vereadoras homenageadas
Rogéria Santos, Ireuda Silva e Marta Rodrigues foram homenageadas pela Central de Líderes Comunitárias (CLC), também na manhã desta quinta, 8, no Centro de Cultura da Câmara. O reconhecimento das lideranças femininas fez parte das celebrações do Dia Internacional da Mulher. Outras personalidades também foram agraciadas.
“Quando falamos de empoderamento das mulheres estamos falando da presença delas em papéis de decisões. Ao reportar isso para líderes comunitárias, nós observamos que são essas as mulheres realmente empoderadas. Elas lideram, cuidam e levam suas comunidades na força do braço”, afirmou Rogéria, após receber um troféu de reconhecimento.
Ireuda disse acreditar na mudança: “Na adolescência, eu tinha o desejo de ter nascido homem, pois entendia que somente sendo um homem podia ter acesso a oportunidades na vida. Fui educada a ficar em casa e na cozinha. Entretanto, estamos aqui nesse evento. Acreditamos na mudança de pensamento, na mudança de realidade, parabéns”.
Feminicídio
Ireuda alertou ainda para a escassez de dados sobre casos de feminicídio na Bahia nos últimos anos. Um levantamento mostra que em todo país, no ano passado, foram 4.473 homicídios dolosos, sendo que em 946 casos as vítimas foram mulheres, 6,5% a mais em relação a 2016. Na Bahia, não há dados oficiais e concretos sobre o assunto referentes a 2015 e 2016.
“Em 2017, cerca de 39 casos de feminicídios ganharam os noticiários policiais na Bahia e nos chocaram ao mostrar a situação de vulnerabilidade em que vive a mulher: sem proteção, sem amparo e sem orientação. E, considerando a escassez de dados, o número de feminicídios na Bahia com certeza é infinitamente maior. É um massacre silencioso, invisível”, declarou a perrebista.
Em sua opinião, o Dia Internacional da Mulher deve ser também uma oportunidade para reflexões e reafirmações sobre a luta por maior inserção da mulher negra no mercado de trabalho. Para exemplificar ela compara: “As negras ganham 65% do rendimento dos homens do mesmo grupo racial e somente 30% da renda média de homens brancos”.
E argumenta: “Trata-se de uma realidade que sempre esteve aí, mas que a cada dia se torna mais evidente. Não podemos mais admitir nem aceitar que a economia brasileira avance no tempo estruturada de maneira tão machista e racista. Enquanto as mulheres negras, que constituem uma das parcelas mais discriminadas da sociedade, não tiverem um papel preponderante no desenvolvimento do país, nossas mazelas e atrasos enquanto povo nunca serão superados”.