Angola vive turbulências com a ditadura de Eduardo Santos
O Pais , Luanda |
22/11/2017 às 10:24
Ambrosio Lukoki
Foto: O País
O nacionalista considera imperioso , no quadro do processo de renovação, que ao nível do MPLA se crie uma estratégia bem articulada e um candidato presidenciável, apoiando, por este facto, a “legitimação e legalização do Presidente João Lourenço, pela aceitação que mereceu da parte do eleitorado nas últimas eleições”
O histórico dirigente do MPLA Ambrósio Lukoki defendeu ontem, em Luanda, a saída imediata de José Eduardo dos Santos da presidência do MPLA, visando a renovação das estruturas de direcção e a implementação de mudanças no país.
“Pela credibilidade republicana, ética e moral, convém José Eduardo dos Santos demitir-se de imediato do posto de presidente do partido MPLA”, disse Ambrósio Lukoki na sua declaração no encontro com jornalistas na sua residência em Viana, destinado a apresentar a sua posição sobre o momento político do país.
Patriota, cidadão e militante do partido MPLA, como se identifica, sublinhou que esta formação politica no poder tem dado a impressão de não ter projectos concretizáveis, para além das suas pretensões ou ambições desconectadas da situação de Angola em renovação. “Se a refundação significa somente preservação, então para o MPLA virá o tempo da evaporação”, frisou.
Em perspectiva e numa visão prospectiva, disse o antigo membro do Comité Central e do Bureau Politico na era Agostinho Neto, que o MPLA tem de ter uma estratégia bem articulada e um candidato presidenciável e, sobretudo, um líder com capacidade para concretizar o programa de governação.
“É imperioso ao nível do MPLA legitimar e legalizar o Presidente João Lourenço na plenitude do voto citadino que mereceu da parte do eleitorado angolano soberano. Neste momento, de acordo com aquilo que João Lourenço, como Presidente da República está a tomar como iniciativas, um cidadão de bom senso não vai exigir que tudo tem de ser resolvido hoje.
São passos indispensáveis na mudança das nossas vidas como angolanos”, sublinhou, elogiando as medidas tomadas nestes primeiros 50 dias de governação de João Lourenço na chefia do Estado angolano.
Questionado sobre em que contexto deve Dos Santos deixar a liderança do partido no poder, disse que segundo “o bom senso, deve abandonar imediatamente, fazendo os arranjos com os que hão de ficar com a responsabilidade de organizar o congresso”.
Falou da necessidade de se acabar com aquilo que apelidou de “José Eduardismo” classificando como um “reinado absolutista de quase 40 anos que tomou refém o povo angolano por via de um regime corrupto”.
“A verdade é que como partido MPLA temos de acabar com o José Eduardismo, o tal regime que corrompe cada vez mais e espalha a corrupção aos bajuladores, assim como a prática do nepotismo, a falta de respeito ao povo e cinicamente considera o povo angolano de idiota, ingénuo e ignorante. Em resumo, um conjunto de vícios que se petrificaram em sistema”, frisou.
O histórico do MPLA disse que neste momento as principais iniciativas do Presidente da República, João Lourenço têm sido bem acolhidas pelos militantes de base e reanimado a sua esperança nas mudanças do país. Disse ainda que no cômputo geral, considera que as medidas implementadas por João Lourenço são “passos positivos no mar dos problemas” que ele tem de enfrentar. “Nós todos devíamos estar debaixo dessa preocupação e se preparar para enfrentá-los”. Fez um recuo histórico apontando como referência a linha estratégica incontornável que orientava o MPLA seguida pelo primeiro Presidente angolano António Agostinho Neto, segundo o qual “o mais importante é resolver os problemas do povo”.
“O Presidente Dr. António Agostinho Neto seguiu esta linha. Acontece que desde algum tempo no partido MPLA nada se passa ou se faz normalmente”, frisou. Segundo Lukoki, o VII congresso ordinário do MPLA, realizado em finais de 2016, em Luanda, tentou alguma “clarificação da escuridão”.
“Entretanto, no nebuloso nevoeiro que embrulha a direcção máxima e a sede nacional do partido MPLA, nada de renovação ou modernização aponta no fim do túnel”. “Espero que tudo isso venha a contribuir para as mudanças verdadeiras em Angola a partir dos políticos, mas sobretudo a cidadania, tem de fazer um esforço para cobrar os seus direitos, tem que exercer os direitos e deveres para impor àqueles que querem se apoderar da soberania do povo”, sublinhou.
Ambrósio Lukoki é um histórico dirigente do MPLA desde a era de Agostinho Neto, respeitado pelo seu percurso histórico, tendo sido membro do Bureau Político e seu ideólogo. No seguimento da morte de Neto chegou a ser visto como uma figura com créditos para sucessão presidencial.
Exerceu as funções de embaixador extraordinário e plenipotenciário de Angola na República Unida da Tanzânia e tinha igualmente o Uganda, Quénia, Burundi e as Ilhas Seychelles, sob sua responsabilidade diplomática.