Carnaval sem polêmica não é Carnaval. O dublê de vereador e cantor Igor Kannário (PHS), que arrumou briga com os colegas de Câmara ao criticar a Casa, em cima do trio, recebeu resposta de outros edis, como Marcelle Moraes (PV), que pediu explicações sobre as declarações.
Marta Rodrigues (PT) condenou o fato de Kannário ter aberto espaço em seu trio para um ex-integrante da banda New Hit, condenado por estupro, isso num palco apoiado por um órgão público, no caso a Saltur. “Isto em pleno século XXI, quando a luta contra a cultura de estupro aumenta sistematicamente”, diz a petista. A aparição aconteceu na sexta-feira, 24.
“Soou como uma ofensa a todas nós mulheres. Vivenciamos no Brasil uma constante luta contra a cultura do estupro e o machismo estabelecidos na sociedade. A Saltur, ainda que não seja responsável pela contratação de músicos da banda do cantor Igor Kannário, não pode se eximir dessas questões. Órgãos públicos precisam reforçar a responsabilidade social, estarem atentos e fortalecer o respeito às causas dos coletivos sociais que prezem pelos direitos humanos”, afirma Marta.
A legisladora defende que toda pessoa condenada por um crime tenha direito de se reintegrar à sociedade, mas vê na presença do músico no Carnaval de Salvador uma tentativa de naturalizar o crime de estupro: “Continuo sendo a favor de que condenados tenham direito a trabalhar se assim a Justiça permitir. Mas o destaque e a visibilidade positiva dado ao músico, que não se redimiu com a sociedade e com as vítimas em nenhum momento, parece querer naturalizar o estupro e vai de encontro a tudo que defendemos durante anos na construção de uma pauta contra o machismo que insiste em permanecer na sociedade”.
Para ela, houve um desrespeito aos coletivos sociais e feministas, responsáveis pela pressão popular para que os ex-integrantes da Banda New Hit fossem condenados pela Justiça em 2015. “O Carnaval de Salvador atrai milhares de pessoas, há uma forte cultura do machismo impregnada na festa, muitos casos de violência contra as mulheres. É preciso ter bom senso. Inclusive, a campanha da Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres tem o lema “Respeite as Mina” e é toda voltada a combater o machismo e a cultura de estupro na sociedade”, enfatiza.
Opções de transporte
O líder do governo na CMS, Henrique Carballal (PV), elogiou as opções de transporte oferecidas ao público pela Prefeitura: “Uma série de iniciativas da gestão municipal tem contribuído para sanar um grande desafio que ocorre sempre na época de Carnaval. A necessidade de transportes coletivos de qualidade que permitam maior celeridade e conforto aos foliões nos deslocamentos entre os bairros e os diversos circuitos”.
Ele destacou a criação de uma linha de ônibus gratuita da Lapa ao Circuito Dodô (Barra-Ondina), servindo de conexão para diversos destinos da cidade. “Outra iniciativa relevante foi o Expresso Carnaval. Afinal, proporciona a opção de deixar o automóvel em locais seguros e assim o folião faz o trajeto para o Carnaval”, relatou.
Volta da pipoca
Para Kiki Bispo (PTB) merece destaque neste ano a presença de mais trios sem cordas. Em sua opinião efeitos da crise econômica brasileira repercutiram nos blocos de trio. “Muitos deixaram de existir, porém é uma situação passageira”, avaliou.
“Sem as cordas, estamos tendo o retorno do folião pipoca, dos bloquinhos e das entidades culturais. Esse é o mix que faz do Carnaval de Salvador a maior festa de rua do mundo”, pontuou.
“Temos que bater na porta das entidades públicas e privadas e mostrar que aqui é uma coisa rentável. A Câmara criou a Comissão Temporária do Carnaval e, já na próxima semana, iremos reunir todos os membros. É importante que possamos discutir esse assunto o ano inteiro para que a gente consiga produzir a festa ideal”, reforçou.
Vulnerabilidade
Rogéria Santos (PRB) acompanhou de perto os circuitos e verificou a situação de vulnerabilidade social de algumas crianças e adolescentes que, ao invés de estarem em centros de acolhimento da prefeitura, estavam trabalhando.
“O carnaval para mim é uma forma de ganhar um dinheiro extra. Não venho com meus pais, venho com a mãe da minha amiga. Sempre venho catar latinhas todos os dias de carnaval”, relatou a menor C.S., de 11 anos. A vereadora visitou o Comitê de Proteção Integral “De olho na exploração sexual e o trabalho infantil”.
“Essa é a primeira vez que venho conferir de perto o Carnaval da cidade e, por isso, não poderia deixar de acompanhar como as crianças e os adolescentes são vistos pelo Poder Público. Vejo que já caminhamos muito, mas ainda há muito a fazer. Ainda podemos ver meninos e meninas trabalhando”, observou, ressaltando a necessidade do envolvimento de todos na criação de alternativas de posicionamento para estas crianças no período festivo.
Como exemplo citou o espaço criado pela Saltur, em parceria com a Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps), onde famílias encontram teatro infantil, teatro de bonecos, pintura de rosto, promovendo integração entre crianças e suas famílias durante a festa.
Sem animais
Ana Rita Tavares (PMB) chamou a atenção para a Mudança do Garcia como exemplo de que a tradição pode sobreviver ao lado da vanguarda. Este ano, protetores de animais comemoraram oito anos sem o uso de cavalos e jegues no desfile.
Ativista da causa animal, ela foi uma das responsáveis pelo banimento do uso dos bichos nos desfiles das festas populares, como a Lavagem do Bonfim. A seu ver “vale toda a forma de tração para conduzir os blocos e alegorias, só não vale usar os jegues, que não pediram para estar na festa. Sabemos que eles são sensíveis ao som alto e ao piso duro e irregular da zona urbana, inapropriado para seus cascos. Além de sofrerem toda a forma de maltrato, que sofre das pessoas ao longo do percurso”.
Ana Rita caminhou até o Campo Grande com um grupo de protetores de animais, reunidos por ela, ao som de uma banda de fanfarra. A União de Entidades Protetoras dos Animais da Bahia (Unimais), as ONGs Terra Verde Viva e Cuidar é o Bicho, além da Empresa Salvador Turismo (Saltur) apoiaram a manifestação.