Ser cabeça de chapa na eleição majoritária influi positivamente na campanha dos candidatos a vereador em Salvador? Na opinião do vereador Everaldo Augusto, líder do PCdoB na Câmara Municipal, a resposta é sim. O comunista é o quinto entrevistado em nossa série de consultas às lideranças partidárias na CMS.
BahiaJá – É a primeira vez que o PCdoB tem a cabeça de chapa para a eleição majoritária em Salvador. Qual a influência disso na campanha para os candidatos a vereador do partido?
Everaldo Augusto – Olha, a candidatura de Alice, pela primeira vez aqui em Salvador, pelo PCdoB, é um fato inédito que tem uma importância muito grande, não somente para o partido, mas para os demais partidos de esquerda e para a própria cidade, porque é um tipo de candidatura que quer introduzir no debate eleitoral uma discussão mais geral sobre a cidade e quer levar esse debate para identificar qual é a responsabilidade do poder municipal na situação que a cidade se encontra hoje. O poder municipal tem alguma coisa a ver com o desemprego, que é a característica de Salvador? O poder municipal tem alguma coisa a ver diretamente com a situação da cidade ser a capital mais desigual do País? Que ostenta os piores indicadores sociais? O que o poder municipal pode fazer pare reverter esse quadro de abandono que a cidade vive hoje? Então é uma discussão de fundo, de conteúdo, que a candidatura de Alice trás com força neste debate. Este é um grande legado da participação do PCdoB. Claro que, além disso, tem uma repercussão internamente no partido porque dá visibilidade a um partido histórico na cidade do Salvador, com fortes vínculos com a cidade, com os movimentos sociais, que está presente na Câmara de Vereadores há mais de 30 anos, ininterruptos. Então isso tudo termina também sendo realçado pela candidatura de Alice Portugal. E um outro fato importante é por ser mulher, onde existe hoje um grande debate, em nível nacional, sobre o resgate, o reconhecimento dos direitos plenos de cidadania para as mulheres. E Salvador tem a maioria da sua população mulher, e entre essa maioria nós temos a maioria de chefes de família, que se viram de todo tipo de dificuldade para sustentar suas famílias. Então neste contexto em que nós temos uma crise política, de forte impacto na vida nacional, você ter uma candidatura como a de Alice Portugal e de um partido como o PCdoB, que não está envolvido em nenhum tipo de escândalo de corrupção, que sempre se manteve coerente, defendendo a democracia, contra o golpe, isso tem uma importância muito grande para a vida política da cidade.
BJ – Em função desse protagonismo que o PCdoB assume existe a possibilidade de aumentar a bancada? Porque historicamente não se passou de dois vereadores, não é?
EA – Não, já tivemos quatro na legislatura entre 2004 e 2008, que éramos eu, Oliveira, Aladilce (Sousa) e Olívia (Santana), mas historicamente sempre foi isso, foram dois, só teve um período pequeno, de dois anos, em que tivemos quatro vereadores.
BJ – E agora, qual é a perspectiva?
EA – Olha, nós temos uma chapa forte, com lideranças reconhecidas e atestadas na luta política, com origem no movimento social. O projeto estratégico do PCdoB é levar Alice para o segundo turno e não somente renovar os dois mandatos como ampliar essa participação do PCdoB para três, quem sabe até quatro vereadores na Casa. Estamos numa coligação com o PT e o PSD. É uma coligação com partidos que têm um perfil de votação alto, isso gera uma dificuldade, porém essa dificuldade você tem que analisar também com as potencialidades que é de ter a candidata majoritária, certo? Nós achamos que o PCdoB vai renovar os dois mandatos e ampliar a participação. Nossa dúvida é se vai ampliar para um ou dois mandatos. Como nós estamos numa eleição muito curta, a maioria da população não decidiu ainda em que vai votar, então esses dias, essas horas daqui até o dia 2 valem ouro para disputar o voto e a vontade do povo da cidade do Salvador.
BJ – Esse novo cenário de período curto de campanha e proibição de financiamento privado como isso está sendo conduzido pelos candidatos?
EA – Olha, isso criou uma dificuldade momentânea. Pela primeira vez vamos ter uma campanha eleitoral curta. Agora, para o PCdoB essas questões financeiras, de falta de financiamento das empresas, para nós isso é um fato positivo porque as nossas campanhas eleitorais nunca foram irrigadas com altas doações de empresas, sempre foram campanhas modestas. A riqueza das nossas campanhas está nos projetos, nas ideias, no perfil, na história dos candidatos. Então, para nós, do ponto de vista da campanha, não vai trazer impacto nenhum. Agora, nós também estamos enfrentando uma disputa desigual porque aqueles que não têm recursos, hoje, para fazer a campanha, por conta de uma limitação da lei eleitoral, estão tendo suas compensações na utilização da máquina da Prefeitura, dessas pequenas obras, do asfalto, dos pequenos favores, e o prefeito descaracterizou a disputa aqui em Salvadore e hoje beneficia esse grupo ligado ao prefeito. Mas nós confiamos no nosso eleitorado e achamos que esses fatos que estão acontecendo hoje na campanha para nós está sendo positivo.
BJ – OK, obrigado. Agradeço pela entrevista.
EA – É isso. A gente está aqui com os nossos candidatos, temos uma opinião crítica sobre a atual gestão, achamos que quatro anos da gestão do prefeito ACM Neto aprofundou as desigualdades na cidade do Salvador, que continua sendo a campeã do desemprego nacionalmente, baixa arrecadação per capita e ainda tendo que amargar gravíssimos problemas na saúde, da indústria das multas, falta de obras estruturantes na cidade, e achamos que o povo de Salvador merece ter uma gestão melhor, que tenha esta cidade para a maioria da população.