Política

AL homenageia Kabengele Munanga e Maria de Lourdes c títulos cidadania

Uma proposição do deputado Bira Corôa
Ascom AL , da redação em Salvador | 23/09/2016 às 12:03
Homenagem na ALBA
Foto: PM
Os pesquisadores sobre questões etnico-raciais, o antropólogo e professor congolês, Kabengele Munanga, e a professora e pesquisadora, Maria de Lourdes Siqueira, comumente chamada de Lourdinha, receberam ontem, na Assembleia Legislativa, o título de cidadania baiana, proposição do deputado estadual Bira Corôa (PT). O ato solene lotou o plenário da Casa Legislativa que contou com a participação de militantes do movimento negro, ex-alunos e familiares dos homenageados.

Especialista em Antropologia da população afro-brasileira, Munanga é referência nos estudos sobre o racismo, tendo por base a Diáspora Africana. Já a professora Lourdinha, tem uma história marcada por estudos sobre a história, vida, religiosidade, atividades intelectuais e culturais de afrodescendentes e de pessoas de países africanos. É também militante dos direitos humanos e das lutas contras as desigualdades sociais e étnico-raciais.

Para Bira Corôa, a homenagem representa o reconhecimento da Bahia e do Brasil ao trabalho científico, estudos e levantamentos sobre a identidade e importância da raça negra e da afrodescendência, reafirmando a influência africana no Brasil e no mundo. “O título de cidadania é a homenagem máxima que pode ser feita a um cidadão e me sinto honrado de ser o proponente dessa honraria. A Bahia precisava reconhecer o trabalho de Kabengele Munanga e da professora Lourdinha”, exaltou o deputado.

Kabengele Munanga afirmou estar muito emocionado e agradeceu as pessoas que recomendaram o seu nome para receber o título, especialmente o deputado Bira Corôa. O pesquisador lembrou da palestra que fez na Assembleia Legislativa, em 2014, no dia da África. O professor disse que a Mesa de Trabalhos e o plenário da AL estavam compostos por pessoas que o fizeram crescer como ser humano e como intelectual. “Gostaria de agradecer a cada uma delas, mas o tempo não me permite. Minha vida é uma espécie de valsa. Um pé na academia e outro na militância. Na academia aprendi a teoria e na militância a realidade do negro no país. Sem essa complementariedade minha vida não seria o que foi”, afirmou.

Já a professora Maria de Lourdes agradeceu a homenagem, afirmando ser um prêmio trouxe muita felicidade. Ela afirmou que a cidadania baiana era, inconscientemente, uma expectativa. “Seguramente, eu sempre quis ser baiana na vida”, afirmou a professora Lourdinha. A professora ressaltou que a honraria ainda é mais valorizada por ter vindo da Assembleia Legislativa e, principalmente, do deputado estadual Bira Corôa. “O deputado tem identidade com a minha militância, minha história de vida”, falou a nova baiana.

Kabengele Munanga nasceu na aldeia de Bakwa Kalonji, no Congo Belga, membro do povo Luba. Aos dez anos deixou a aldeia para estudar em outras cidades, em escolas coloniais católicas. Em 1964 ingressou no curso de Ciências Sociais da Universidade Oficial do Congo, em Lubumbashi, inscrevendo-se dois anos depois no recém-criado curso de Antropologia. Segundo Bira Corôa ao terminar a graduação, em 1969, foi convidado para fazer mestrado na Universidade de Louvain, na Bélgica. “Kabengele voltou ao Congo para terminar sua tese, mas não pode concluí-la, pois o domínio político da ditadura da recém-criada República do Zaire sobre a universidade o impediu”, disse o petista. 
O novo baiano chegou ao Brasil por convite do professor Fernando Mourão, da Universidade de São Paulo, onde terminou seu doutorado e retornou ao Congo. Em 1980 estabeleceu-se no Brasil, para assumir a cadeira de Antropologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. No ano seguinte, mudou-se definitivamente para São Paulo. “Lá foi professor de antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, vice-diretor do Museu de Arte Contemporânea, diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia e do Centro de Estudos Africanos da USP”, contou o parlamentar. 

Também já participou como palestrante convidado em diversos congressos e seminários baianos, incluindo duas atividades na Assembleia Legislativa da Bahia - palestrante na sessão especial do Dia da África (2014) e palestrante na comemoração dos cinco anos de instalação da UNILAB no Brasil e um ano na Bahia. “Munanga acumula ainda os títulos de sócio correspondente do Instituto geográfico e Histórico da Bahia, além de, atualmente, lecionar como professor convidados da Universidade Federal do recôncavo Baiano. Em função da sua trajetória e escritos acadêmicos, o professor Kabenguele Munanga é um referencial importante na formação política de diversas entidades do movimento negro baiano e brasileiro”, completou.

Já Maria de Lourdes Siqueira nasceu na cidade de Codó, Maranhão, filha única de uma família que residia  em uma comunidade remanescente de quilombo chamada Matões  dos  Moreiras. “O local de nascimento já antecipava a escrita de uma história publica e comunitária marcada pela solidariedade e capacidade de luta para contornar os vários obstáculos da vida”, afirmou o proponente da homenagem. 

Segundo Bira Corôa, Maria de Lourdes possui uma trajetória pessoal e intelectual que se constituiu de Codó para o Mundo, uma atuação que se dá em lugares como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Brasília Paris, Londres e África do Sul, honrando a tradição de múltiplos trânsitos que acompanham a vida dos afrodescendentes desde muitos séculos. “Lourdinha tem cruzado o Atlântico negro, construindo casas e moradas, parentes e famílias, dividindo afetos, lembranças histórias e esperanças”, disse. 
Participaram da solenidade, a secretária de Promoção Social, Fábia Reis, representando o governo do estado, Horácio Nelson Filho, diretor da escola de administração, representando a Universidade Federal da Bahia (Ufba), reitores de universidade e líderes do movimento negro.