A necessidade da permanência de seus atuais moradores no Centro Antigo da capital baiana foi a tônica da audiência pública realizada na manhã desta terça-feira, 6, no auditório do Ed. Bahia Center, anexo da Câmara de Salvador. Três decretos (dois estaduais e um municipal) estão gerando intranquilidade e questionamentos de quem mora nas áreas a serem desapropriadas para obras de requalificação.
Os residentes reclamam da pouca informação sobre as intervenções, a cargo da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), e se poderão continuar em suas casas após a conclusão do projeto. As desapropriações vão ocorrer em prédios das ruas do Sodré, Visconde de Mauá e Ladeira da Preguiça, Largo Dois de Julho e Avenida Carlos Gomes.
Promotora do debate a vereadora Aladilce Souza (PCdoB) o impasse se deve aos interesses da iniciativa privada: “O governo deve se colocar ao lado dos populares e bater o pé firme para que o projeto garanta que quem reside na área continue. Logicamente, existem as pressões de quem está bancando o projeto, mas o Estado deve ficar ao lado da comunidade”.
"Escurecimentos"
Segundo o superintendente da Conder, Raimundo Andrade, os decretos visam preservar o patrimônio cultural do Centro Antigo de Salvador, e a execução das obras necessita do apoio da iniciativa privada: “Entre 2007 e 2010 foi elaborado um trabalho com o apoio da Unesco, que deu origem ao Plano de Revitalização Participativa do Centro Antigo. Foi diagnosticado que existiam 1.100 imóveis privados, em ruínas, na região. E casas nesse estágio de comprometimento é como se estivessem doentes. Vai passando de um imóvel para outro. Não queremos expulsar ninguém”.
Moradora do bairro e pesquisadora de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia Alina Cecília Sosa relatou a aflição dos populares por conta dos decretos e pediu mais transparência nas ações do Governo Estadual no local. Destacou a necessidade de “mais esclarecimentos”, mas ironizou, resaltando que até agora eles “convivem mesmo com os escurecimentos”.
A necessidade de garantir a presença da população no local também foi lembrada pelo diretor de Projetos Obras e Restauro (Dipro) do IPAC, Felipe Musse: “Entendemos que essa luta é absolutamente legítima e que é fundamental a presença dos moradores nesse patrimônio público, que é o Centro Antigo de Salvador. As consequências das desapropriações ainda parecem nebulosas”.