Algumas observações sobre o marketing político nas eleições de Salvador
Tasso Franco , da redação em Salvador |
05/09/2016 às 17:45
O povo na praça pede melhoria para o transporte alternativo
Foto: BJÁ
Participo de marketing em campanhas politicas na capital da Bahia desde a redemocraticação pós 1964. Nunca vi ninguém com raiva, agredindo, chamando adversário de golpista, de tirano, etc, ganhar eleição.
Pelo menos, na memória histórica das campahhas de Salvdaor todos os vencedores fizeram campanhas propositivas com alianças políticas bem estruturadas, com propostas inovadoras e por serem, de alguma forma, nomes que representavam uma liderança ou uma esperança.
É só olhar a lista dos prefeitos eleitos pelo voto direto a partir de 1985, com Mário de Mello Kértész (PMDB); Fernando José Guimarães Rosa, em 1988 (PMDB); Lidice da Mata, em 1992 (PSDB); Antonio José Imbassahy, 1996 e 2000 (PFL); e João Henrique, 2004 (PDT) e 2008 (PMDB); e ACM Neto, DEM (2012).
A regra vale também para governador, com Waldir Pires, em 1986, PMDB; e Jaques Wagner, em 2006 (PT) que quebraram a hegemonia do 'carlismo' (de ACM) em dois momentos da vida política baiana.
Como estamos falando de elições municipais vamos nos restringir ao munincípio. Kértesz era 'carlista' e fora nomeado prefeito eleito pela Assembleia (voto indireto) por indicação de ACM, em março de 1979 ficando até novembro de 1981, quando rompre com o 'velho' diante da indicação de Clériston Andrade a governador da Bahia, eleição de 1982, o qual este acabou não sendo eleito porque faleceu num acidente de helicóptero.
O eleito foi João Durval. Kértész, no entanto, tinha um potencial inovador de sua gestão como prefeito e tornou-se uma liderança ingressando no PMDB, em 1982, vencendo a disputa pré-convencional para Marcelo Cordeiro, em 1985 (diz-se que ACM deu uma força a Marcelo Cordeiro).
Mário já era um líder, tinha voz (não apenas no aspecto contestador a ACM, mas, em nome de dar uma cara nova a cidade) e o PMDB era a bola da vez no país, tanto que elegeu 19 prefeitos nas capitais.
Kértész venceu a Edvaldo Brito (PTB) e a França Feira (PFL) com 45.8%. Apoiou Waldir, em 1986 e tentou emplacar Gilberto Gil prefeito. Waldir vetou. Kértesz ficou sem chão e recorreu a um artifício da midia popular apoiando o radialista Fernando José numa aliança com Pedro Irujo. Venceu, mas não levou. Ganhou Irujo e Fernando José tentou ser independente e se deu mal administrativamente.
Então, por que Fernando José foi eleito contra Virgildásio Sena, um ícone da esquerda?
Porque era extremamente popular e falava para a cidade no embalo das inovações kertístias, dialogava com a sua gente com o slogan 'mato a cobra e mostro o pau', enquanto Virgildásio emitia conceitos gerais.
No lugar de Fernando José foi eleita Lidice da Mata, lembre-se, pelo PSDB, contra a fraca candidatura de Manoel Castro. Lidice, representando o novo, a 'tucana' ex-lider estudantil e deputada constituinte.
A história politica de Lidice, na capital, foi feita no MDB, vereadora em 1982 e lider da bancada entre 1983/86. Lidice teve sua administração boicotada, em parte, pelo governador ACM, que voltou ao poder pelo voto direto em 1991. Fez uma administração abaixo da crítica.
Em 1996, Lidice ainda tentou fazer seu sucessor com Domingos Leonelli. Não deu. Foi eleito Antonio Imbassahy com uma campanha propositiva e apoio de ACM. O principal adversário de Imbassahy, Nelson Pelegrino (PT), errou muito na campanha querendo 'bater' no líder ACM/Imbassahy, quase o mesmo como se faz agora Alice/Isidório contra Neto.
Imbassahy foi reeleito, em 2000, e estava bem avaliado, em 2004. Mas, ACM lançou um candidato errado, César Borges, o qual nem ele mesmo queria.
Resultado: ganhou o azarão João Henrique, pelo PDT, com uma proposta de 'salvador da pátria', de 'defensor dos pobres e oprimidos', 'de liminares contra multas e chupa-cabras'.
E por que não foi Pelegrino que ganhou esta eleição? Por que não falou para a população. JH foi quem ocupou esse lugar.
Na segunda eleição de JH, este perdido, fez uma aliança com o PMDB, engabelou todo mundo, falou para a cidade, chormingou na TV, falou que fez isso e aquilo. Venceu. Ou seja, fez mais política do que qualquer outra coisa.
Em 2012, elege-se ACM Neto, o qual vinha tentando desde 2008. Neto realinhou sua campanha e mais uma vez Pelegrino (PT) errou no marketing, não copiou a prática exercitada por Wagner, desde 2006, e Neto venceu.
Agora, Neto é o líder tem a preferência do eleitorado (segundo as pesquisas), forte aliança política, fala para a cidade, percorre rua e bairros todos os dias, coloca isso de forma didática na TV enquanto seus principais adversários o atacam.
É um erro primário do markerting politico atacar o lider de frente. Tem que ir pelos flancos, pelas beiradas, com alianças politicas que (eles) não têm. Tá uma coisa dispersa, cada adversário de Neto falando uma coisa.
O único que, no marketing (falta-lhe a politica) se aproxima de uma proposta inovadora, de falar para a cidade, é Cláudio Silva (PP).
Então, o básico: politica se faz com alianças, em especial no terreno dos adversários (Waldir se aliançou com Nilo Coelho, Luis Viana, Rui Bacelar e Jutahy Magalhães para derrotar ACM, em 1986; e Wagner se aliançou com Otto Alencar, Joao Leão, Zé Rocha, Zé Carlos Araújo, Mario Negromonte para derrotar ACM, em 2006) e com marketing criativo, propositivo.
Lembro de uma campanha que fiz para Pedro Irujo a prefeito de Salvador que ele falava 'caxaceiras' em vez de Cajazeiras, criou um 'bonde voador' e teve 100.000 votos. Pedro é basco de origem, fala portunhol, mas, na campanha, falava para o povo de Salvador.
É isso.