O Dia da Consciência Negra foi celebrado pela Câmara de Salvador com uma sessão regimental anual, realizada no plenário Cosme de Farias. Vereadores destacaram a luta dos antepassados por uma sociedade mais igual e os desafios atuais. O racismo, o preconceito e as dificuldades enfrentadas pelo povo negro no mercado de trabalho foram lembrados e encarados como problemas ainda não completamente superados.
A solenidade foi organizada pela Comissão de Reparação da Câmara Municipal de Salvador e contou com a presença de estudantes da Escola Modelo Luís Eduardo Magalhães. A presidente do colegiado, vereadora Vânia Galvão (PT), afirmou que a história e a cultura precisam ser valorizadas.
“É um dia de reflexão e serve para repensarmos atitudes que resistem à ascensão do povo negro. A luta de Zumbi dos Palmares, que em 20 de novembro de 1965 foi decapitado, precisa ser celebrada todos os dias para que tenhamos um país mais igual, democrático, sem distinção de raça ou gênero”, declarou.
Um dos pontos altos da sessão especial foi a apresentação da militante da Marcha do Empoderamento Crespo, Naira Gomes, emocionando os presentes e sendo aplaudida de pé. Ela representou o grupo que realizou caminhada no Centro da cidade no dia 7 de setembro e se referiu ao preconceito.
“A mensagem política que nós passamos de orgulho e de empoderamento do povo negro pode ser transmitida antes mesmo de abrirmos a boca, através da nossa estética, afirmou. Muitos tentam minimizar, dizer que é moda. Mas como pode ser uma moda se o que queremos é reafirmar quem nós somos? Não queremos parecer com outros. Queremos mostrar que temos orgulho da nossa estética que, para muitos, não está dentro dos padrões”.
Zumbis e Dandaras
Silvio Humberto (PSB) e Hilton Coelho (PSOL) alertaram para o extermínio da juventude negra e destacaram a importância da união e da resistência para acabar com o preconceito. “Não devemos aceitar que seja naturalizada a morte precoce de nossos jovens. Somos mais do que a alegria da cidade. Somos resistência. Os Zumbis e as Dandaras de hoje serão fundamentais para que consigamos ultrapassar as barreiras do racismo”, disse o primeiro.
“Os policiais continuam massacrando o nosso povo negro, identificam cores e tatuagens que são encaradas como ‘ameaças em potencial’. Precisamos reagir”, afirmou Hilton.
Na mesma linha a senadora Lídice da Mata (PSB) e os edis Waldir Pires (PT) e Antônio Mário (PSB) e a secretária municipal de Política para Mulheres, Mônica Kalile, reforçaram a luta contra o racismo e pelo fortalecimento da democracia.
Morte de Zumbi
A data foi criada em 2003 e instituído em âmbito nacional mediante a Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, sendo considerado feriado em cerca de mil cidades em todo o país e nos estados de Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro por completo através de decretos estaduais.
Foi escolhida por coincidir com a morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. O Dia da Consciência Negra procura remeter à resistência do negro contra a escravidão de forma geral, desde o primeiro transporte de africanos para o solo brasileiro, em 1549.
Chance perdida
Para Gilmar Santiago (PT) a CMS perdeu uma grande oportunidade de homenagear, no Mês da Consciência Negra, um dos maiores intelectuais baianos de todos os tempos, ao rejeitar, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o projeto de lei de sua autoria propondo a mudança do nome da Avenida Adhemar de Barros, em Ondina, para Avenida Milton Santos. A declaração foi dada no Curuzú, antes da saída 15ª Caminhada da Liberdade.
“O projeto atende a uma solicitação da comunidade da UFBA, que quer homenagear Milton Santos, negro, baiano, Doutor em Geografia e Mestre reconhecido mundialmente, dando à Avenida que margeia o campus de Ondina o nome dele. Atualmente é homenageado um falecido político paulista que nunca teve nenhuma ligação com a Bahia”, declarou o petista.
Milton Santos é Doutor Honoris Causa pela UFBA, pelas Universidades de Toulouse (França), de Barcelona, de Buenos Aires, Complutense (Madri), Nacional de Cuyo, Estaduais do Sudoeste da Bahia, do Rio de Janeiro, do Ceará e de São Paulo, Federais de Sergipe, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, tendo em sua carreira reconhecimentos como o Prêmio de Geografia Vautrin Lud, conferido por universidades de 50 países.
O relator e presidente da CCJ, Leo Prates (DEM), deu parecer contra a matéria, sendo acompanhado por Alfredo Mangueira (PMDB), Geraldo Junior (SD) e Paulo Magalhães Jr (PSC). O vice-presidente, Luiz Carlos Suíca (PT), foi favorável.
Um dos argumentos para rejeitar o projeto Gilmar é a existência de uma rua Milton Santos no bairro de Pau da Lima e que a legislação municipal não permite a duplicidade de nomes de logradouros. Uma rápida pesquisa na internet aponta a existência de pelo menos três locais denominados ACM: no Itaigara, em Narandiba (CEP 41.192-145) e Sussuarana (CEP 41.215-400). O outro argumento é que o nome atual é “conhecido e tradicional”.