Para celebrar os 25 anos do Projeto Axé, referência mundial em reinserção social de crianças, jovens e adolescentes através da arte-educação, e conceder título de cidadão baiano ao fundador desta instituição, Cesare de Flório La Rocca, uma sessão especial foi realizada, nesta quinta-feira (03), na Assembleia Legislativa da Bahia.
“O Projeto Axé é uma tapa na cara daqueles que não acreditam em parcela de nossa juventude. Ele busca resgatar excluídos e destituídos de seus direitos, com base nos direitos humanos e na arte, é a demonstração da capacidade do ser humano ser solidário com seus iguais, da determinação de superar obstáculos para fazer crianças - inocentes da sua situação social -, alcançarem a dignidade e de alertar a sociedade e o Poder Público para a condição de excluído”, comentou a proponente da sessão, deputada estadual Maria del Carmen (PT).
A respeito do italiano, advogado, pedagogo, um dos redatores do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e considerado “padrinho da arte-educação”, Cesare La Rocca, a quem a parlamentar conheceu no início nos anos 90, quando o ECA foi sancionado e o Projeto Axé -que já atendeu milhares de educandos - dava os primeiros passos, a parlamentar disse que “você não imagina o quando seu exemplo nos inspira. Ainda temos muito o que aprender contigo, que cumpre um papel de cidadão de altíssima relevância para o Estado”. E completou: “Enquanto o Projeto Axé e pessoas como Cesare La Rocca enxergam a criança, o adolescente e o jovem como cidadão, sujeitos de direitos, como estabelecem a nossa Constituição e reitera o ECA - direitos esses que devem ser preservados e ampliados - infelizmente, a Câmara dos Deputados aprova a redução da maioridade penal”.
Compromisso do Estado
Representando o governador Rui Costa, o secretário estadual de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), Geraldo Reis, deu uma excelente notícia aos membros do Axé. “Nos próximos dias, vamos celebrar convênio no valor de R$ 2 milhões. Isso já era para ter acontecido, mas, infelizmente, temos que cumprir regras burocráticas”, disse o secretário, que, após o anúncio, recebeu de Cesare o título de “Amigo do Projeto Axé”.
Nelson Pelegrino - que é coautor do projeto de cessão do título de cidadania baiana a Cesare juntamente com Maria del Carmen e estreitou aproximação com o projeto quando esteve à frente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa da Bahia e da Secretaria Estadual de Justiça – afirmou que vai continuar sendo parceiro do projeto e que tem planos, agora enquanto secretário estadual do Turismo, para ações conjuntas com esta Organização Não Governamental.
“Há 25 anos, quando esta instituição foi implantada, havia um problema seríssimo de criança em situação de rua em Salvador. E o Axé veio pra demonstrar que é possível transformar realidades, instrumentalizando meninos e meninas, através da arte-educação, na busca da cidadania plena. Isso demonstra que o caminho deve ser diferente ao de reduzir a maioridade penal, reduzir direitos conquistados com luta e que precisam ser ampliados. São 47 anos de Cesare dedicados ao povo mais carente de nosso Brasil e a Bahia é credora deste vocês (Projeto Axé) pelo trabalho e dedicação”, destacou Pelegrino.
“Sinto-me profundamente agradecido pela homenagem e pelo apoio recebido”, disse Cesare La Rocca, segundo o qual 37 dos 83 colaboradores do Projeto Axé são seus ex-educandos.
Presenças
Participaram da atividade funcionários, parceiros e educandos do Projeto Axé, lideranças comunitária de Salvador; militantes dos direitos humano; o coordenador Geral do projeto, Helmut Schned; os deputados estaduais Rosemberg Pinto (PT), Marcelino Galo (PT)e Fabíola Mansur (PSB); a superintendente de Serviços Turístico da Setur Bahia, Ângela Gonçalves; o procurador Ailton Cardoso; o defensor Público Cesar Casali; o capitão de Mar e Guerra Marcelo Coelho; o major da Polícia Militar Everaldo Maciel; o coordenador de Projetos e Formação da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), Antonio Dimas Galvão; dentre outras autoridades.
Histórico
Em 18 de janeiro de 1968, Cesare de Florio La Rocca, jovem italiano da Florença, veio ao Brasil. Há 40 anos, ele fundou uma das primeiras entidades voltadas para crianças excluídas no Amazonas, o Centro Social Nossa Senhora das Graças, em Manaus, no Beco do Macedo, a maior favela da capital na época. Nele, dirigiu durante muitos anos uma escola profissionalizante para 400 adolescentes e uma pré-escola para 200 crianças, denominada Gurislândia. Em 1981, trabalhou como assessor-técnico da extinta Fundação Nacional do Bem Estar Social (Funabem), onde atuou durante três anos. Em 1983, passou a atuar no Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Cesare desejava um projeto transformador para as crianças e adolescentes mais carentes, decidiu ficar no país e se estabeleceu em Salvador, onde, em 1990, fundou o Projeto Axé, Organização Não Governamental que atua na área da educação, através dos projetos artísticos, e defesa de direitos de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, em especial, os que vivem em situação de rua em Salvador, sendo referência mundial.