Mães de quatro jovens desaparecidos em Salvador, alguns deles supostamente levados por policiais, participaram de reunião na Comissão de Defesa da Criança e do Adolescente da Câmara Municipal, realizada na tarde desta terça-feira, 18. Emocionadas, segurando cartazes dos filhos, as mães cobraram respostas do Governo do Estado.
Entre os depoimentos estava o de Rute Fiúza, cujo filho, Davi, de 16 anos de idade foi levado no dia 24 de outubro do bairro de São Cristóvão. Ela, que continua percorrendo hospitais, delegacias, o Instituto Médico Legal e até viajando atrás de pistas falsas, será ouvida também pelo Ministério Público Estadual (MPE) nesta quarta-feira, às 9h30min, com o acompanhamento dos integrantes do colegiado, presidido pelo vereador Hilton Coelho (PSOL).
“Estamos vivendo às custas de remédios”, disse Cleonice Oliveira, genitora de Jean Carlos, desaparecido há um ano e meio em Canabrava, aos 19 anos, mesma idade de Rildean, filho de Miriam de Jesus, sumido há quatro anos e oito meses, de Cosme de Farias. Matheus (16 anos, do Nordeste de Amaralina), filho de Ana Lúcia não é encontrado há dois anos e seis meses.
Grande evento
Entre os encaminhamentos aprovados na reunião está a realização de uma audiência pública conjunta das comissões da Criança e do Adolescente e de Direitos do Cidadão, além da Ouvidoria da Câmara e da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, no dia 10 de dezembro, quando a Declaração Universal dos Direitos Humanos completará 66 anos de promulgada pela ONU. A ideia é que seja um grande evento, reunindo familiares de desaparecidos, para dar visibilidade ao problema que atinge sobretudo a juventude negra.
Os vereadores se comprometeram, também, a tentar agendar um encontro das mães com o governador Jaques Wagner, para cobrar explicações sobre os casos e as providências adotadas. Hamilton Borges, do movimento “Reaja ou será morto, reaja ou será morta”, denunciou o sucateamento dos programas de proteção a vítimas, incluindo o Provita, defendendo a necessidade de um amplo debate sobre o assunto.
A próxima reunião do colegiado será na terça-feira, 25, às 13h30min. “Queremos uma resposta clara do Estado para tantos desaparecimentos. Isso não é um caso isolado e não entendemos a blindagem que a Corregedoria está fazendo no caso de Davi Fiúza em relação ao envolvimento de policiais”, afirmou Hilton.
Sílvio Humberto (PSB), presidente da Comissão de Educação, também se emocionou: “Os corpos que não contam são os dos nossos jovens negros. O mínimo que o governador tem que fazer é receber essas pessoas e dar uma satisfação”. E citou a importância do MPE ter um grupo específico para investigar os crimes de extermínio.
A ouvidora Aladilce Souza (PCdoB) desabafou: “Nem a palavra indignação traduz tudo que estamos sentindo aqui”. Vânia Galvão, presidente da Comissão de Direitos do Cidadão, conclamou os colegas a saírem da reunião com “o firme propósito de propor políticas cidadãs de inclusão desses jovens”. Waldir Pires (PT), Fabíola Mansur (PSB) e Luiz Carlos (PRB) defenderam o envolvimento do Ministério Público no processo de apuração dos casos. Manifestaram-se na reunião, ainda, Gilmar Santiago (PT) e Everaldo Augusto (PCdoB).