Política

Morre aos 88 anos o ex-governador do Rio Marcello Alencar, do PSDB

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Globo , RJ | 10/06/2014 às 09:41
Marcelo Alencar morreu em casa
Foto: Globo
RIO - Morreu na madrugada desta terça-feira o ex-governador Marcello Alencar (PSDB). Antes das 7h, o presidente do PSDB no Estado do Rio, deputado estadual Luiz Paulo, e o presidente do partido na capital, deputado federal Otávio Leite, já haviam postado mensagens nas redes sociais sobre o falecimento do companheiro de partido.

Marcello Alencar tinha 88 anos. A causa da morte não foi informada pelos dois tucanos, que postaram fotos ao lado do ex-governador. O velório será nesta quarta-feira, a partir das 9 horas, no Palácio da Cidade.

"É com pesar que informo a morte do ex-prefeito do Rio e ex-governador Marcello Alencar, aos 88 anos, na madrugada desta terça-feira. Tinha Marcello Alencar como um honrado e respeitado homem público, além de grande líder. Meus pêsames à família e aos muitos amigos que deixa", postou Luiz Paulo no facebook.

Alencar morreu às 4h15m, em casa, no bairro de São Conrado, na Zona Sul do Rio. 

- Ele já tinha tido dois AVCs (acidente vascular cerebral). Ia fazer 89 anos em agosto. Foi senador, advogado de presos políticos, prefeito do Rio duas vezes e governador. Estivemos juntos esse tempo todo. Ele tem um histórico imenso. Era presidente de honra do PSDB do Rio. Perdemos a nossa referência aqui no Rio - afirmou Luiz Paulo ao GLOBO.

Advogado, Marcello Nunes de Alencar foi senador pelo antigo estado da Guanabara. Marcello Alencar foi um dos oito senadores cassados pelo regime militar. Ele perdeu o mandato em 1969, após o Ato Institucional nº5, o AI-5. Com a Lei de Anistia, ingressou no projeto político do líder de oposição Leonel Brizola (1922-2004) e filiou-se ao recém-criado PDT.

No primeiro governo de Brizola no estado do Rio (1983-1986), Alencar presidiu o Banerj e foi nomeado prefeito da capital, cargo que ocupou até 1986. Em 1989, após o governo de Roberto Saturnino Braga, ele voltou à prefeitura, dessa vez eleito pelo voto popular. Rompeu com o governador Brizola e, em 1994, filiou-se ao PSDB, apoiando no ano seguinte a candidatura de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República e elegendo-se governador do Rio.

ATUAÇÃO COMO ADVOGADO DURANTE A DITADURA

Mesmo atuando na política, Marcello Alencar não deixou de trabalhar como advogado, embora às vezes as atividades se misturassem. Um de seus clientes foi o líder estudantil Vladimir Palmeira — candidato do PT ao governo do estado este ano — para o qual obteve um hábeas-corpus no Supremo Tribunal Federal em 1968. No ano seguinte acompanhou Vladimir quando ele teve que prestar esclarecimentos à primeira Auditoria da Aeronáutica sobre sua participação nas manifestações após a morte do estudante Edson Luís de Lima Souto, assassinado por policiais no restaurante Calabouço, em 28 de março de 1968.

Entre seus outros clientes na época, estiveram os jornalistas e ex-deputados Marcio Moreira Alves e Hermano Alves, o crítico de arte Mário Pedrosa e ex-deputados como José Frejat, Ciro Kurtz, Fabiano Villanova e Lysâneas Maciel.

— O governo Castello Branco tentou impedir minha candidatura a deputado federal em 66 e Marcello me defendeu no TRE — conta Marcio.

Marcello foi advogado também do marechal Henrique Lott, que, após perder a eleição presidencial de 1960 para Jânio Quadros, teve sua candidatura ao governo do antigo Estado da Guanabara em 62 impugnada por falta de domicílio eleitoral (morava em Teresópolis).

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), outro participante ativo da luta contra a ditadura, não chegou a ser cliente de Marcello, mas lembra que el sempre esteve ao lado dos movimentos populares.

— Marcello foi o primeiro a chegar à Câmara de Vereadores quando o corpo de Edson Luís foi levado para lá — contou Gabeira.

Ao ser cassado, Marcello perdeu o cargo na Procuradoria Geral do Instituto de Administração Financeira da Previdência Social (Iapas, hoje parte do INSS), que exercia por concurso desde 1953. Dedicou-se então ao jornalismo, assumindo a direção do decadente “Correio da Manhã”, que arrendara com seus irmãos de Niomar Moniz Sodré Bittencourt. O jornal não demorou a ser fechado.