Numa cerimônia cheia de toques tradicionais do candomblé, sacerdotisa Mãe Zulmira, dirigente do Terreiro Tumbenci, detentora do título de Mameto Kwa Nkisi, recebeu a medalha Zumbi dos Palmares na noite de quarta-feira, 8, na Câmara de Salvador.
A comenda foi dada por iniciativa do Gilmar Santiago (PT), em reconhecimento à vida dedicada “à preservação, ao crescimento, ao culto às entidades trazidas pelos negros africanos que aqui chegaram e que dão sentido religioso ao que conhecemos hoje como candomblé”.
Aos 78 anos de idade, 70 de iniciação no candomblé, Mãe Zulmira de Nanã agradeceu ao próprio candomblé: “Tudo o que tenho foi conquistado dentro da religião”. A honraria, segundo ela, teve ainda mais importância por levar o nome do maior herói da resistência negra no Brasil, Zumbi dos Palmares.
A trajetória de Mãe Zú, como é carinhosamente chamada, foi narrada por Ana Placidina, representante da Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (Acbantu). “A história que aqui se conta espelha a inquebrantável liderança feminina que consolidou o candomblé baiano. Os exemplos desta mulher, mãe de cinco filhos biológicos e centenas e centenas de espirituais, casada há mais de meio século com seu Djalma França, traduzem os significados históricos e antropológicos do que entendemos por ancestralidade”.
Defesa da igualdade racial
Outra personalidade distinguida com a mesma medalha foi o presidente da seccional baiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Saul Quadros, na terça-feira, 7, também à noite, por proposição do colega de profissão, Geraldo Júnior (PTN). Ele destacou o papel desempenhado pela Comissão de Promoção da Igualdade Racial da entidade, que recebe atenção especial do homenageado.
Presidente da CMS, Pedro Godinho (PMDB), parabenizou Geraldo colega pela iniciativa, ressaltando o fato da honraria ter sido aprovada por unanimidade.
Em seu discurso, Quadros contestou a propalada ausência de racismo no Brasil. Segundo ele, a discriminação a discriminação não apenas existe, como “campeia em quase todos os cantos do país”.
Favorável aos programas afirmativos, em implantação no País, a partir da Constituição de 1988, o presidente da OAB-BA argumenta não ser “correto e justo respaldar-se a exclusão social. Não é admissível, sociologicamente, conviver-se com tal exclusão. Não é ético qualquer tipo de discriminação, seja por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil”.